01 Mai 2020
"Eu garanto a vocês: aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. Mas aquele que entra pela porta, é o pastor das ovelhas". Jesus contou-lhes essa parábola, mas eles não entenderam o que Jesus queria dizer.
Jesus continuou dizendo: "Eu garanto a vocês: eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta. Quem entra por mim, será salvo. Entrará, e sairá, e encontrará pastagem. O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”.
Leitura do Evangelho de João 10, 1-10 (Correspondente ao Quarto Domingo de Páscoa, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Neste quarto domingo de Páscoa, medita-se sobre a alegoria joanina do Jesus Bom Pastor das ovelhas que ele cuida e protege. Esta imagem é uma das representações mais antigas da arte cristã como, por exemplo, o afresco de Jesus Bom Pastor que se encontra na Catacumba de Priscila, em Roma. Em geral, nos evangelhos, para falar de Deus são necessárias as metáforas, os símbolos.
O texto deste domingo começa assim: “Eu garanto a vocês: aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante”.
Se nos detemos nas palavras de Jesus, destaca-se uma porta e duas atitudes diferentes referidas à via de acesso ao curral das ovelhas. Está a pessoa que ingressa pela porta e está também o ladrão e assaltante, considerado assim porque “sobe por outro lado”.
Uma porta simboliza uma possibilidade de inter-relação entre o exterior e o interior, do conhecido ao desconhecido, de um ambiente ao outro, de fora para dentro, do sagrado ao profano, do campo à cidade. A porta favorece então a comunicação entre dois espaços, é uma passagem, que dá a possiblidade de entrar ou sair, abrir ou fechar.
Lembremos que as cidades estavam amuralhadas e tinham diferentes portas. No Antigo Testamento são nomeadas às vezes de acordo com a sua localização. Assim aparece a porta lateral, a porta do templo, a porta oriental, a porta da cidade, a porta do Santo, a porta dos mortos.
Lemos também a referência simbólica como disse o salmo: “Abram para mim as portas do triunfo: vou entrar agradecendo a Javé. Esta é a porta de Javé: os vencedores entrarão por ela (Sl 118,19-20)”.
Ou com um sentido profético como alude o profeta Oseias quando descreve o amor misericordioso de Deus, que apesar do agir do povo vai conquistar de novo o coração do seu povo: “O Vale da Desgraça se transformará em Porta da Esperança” (Os 2,17).
No evangelho de João encontramos uma alusão a uma piscina situada perto da porta das ovelhas. Ali ficavam deitados cegos, coxos, paralíticos, esperando que a água da piscina se movesse. Estas pessoas estavam quase fora da cidade, num lugar que era uma passagem de ovelhas, seguramente sujo e desasseado.
Voltando ao nosso texto, Jesus tinha dito “quem não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante”. Como “eles não entenderam o que Jesus queria dizer”, Jesus continua falando e diz: “eu sou a porta das ovelhas. Ele mesmo é a passagem, a via de acesso para entrar no redil das ovelhas!
Jesus é uma porta sempre aberta, sem exceções. Não se fecha, pelo contrário, parece que fica ainda mais aberta quando procuram levar o controle dos que entram por ela, assim como o pastor deixa entrar todas as ovelhas porque todas fazem parte do seu redil. Não há exclusivismos ou rejeições nela, pelo contrário, ele sempre está convidando-nos a entrar no seu interior, na sua casa.
Neste tempo de pandemia, em muitos lugares vivemos de portas fechadas. Mas o Senhor nos convida a abrir a porta da nossa esperança que a encontramos nele e nos nossos irmãos e irmãs. Sua proximidade alimenta nossa esperança e fortalece nossa confiança e solidariedade abrindo-nos aos mais afetados por esta crise sanitária.
Como disse Francisco: “Eu tenho esperança na humanidade, nos homens e nas mulheres, tenho esperança nos povos. Tenho muita esperança. Os povos levarão ensinamentos desta crise para repensarem suas vidas. Vamos sair melhores, em menor número, claro. Muitos ficam pelo caminho que é duro. Porém, tenho fé: vamos sair melhores”.
Apesar da difícil situação que estamos vivendo, o Senhor nos convida a ser uma porta que gera alegria, a porta da ressurreição que traz vida onde há morte, consolação onde há desalento. Dar uma palavra de alento à pessoa desconsolada pela dor e pelo sofrimento de que padece.
Neste domingo lembremos as diferentes narrativas dos encontros com o Ressuscitado que escutamos nos domingos anteriores. Ele vai ao encontro de seus amigos e amigas para que também eles/as possam passar pela porta da ressurreição. Participar da morte e ressurreição de Jesus, passar pela porta, “sair para fora”, marca o início de uma nova vida, o Espírito nos introduz na vida de Deus para vivê-la nesta terra.
Peçamos ao Senhor Ressuscitado ser uma porta sempre aberta como Ele. Que sejamos portadores da sua vida para que toda pessoa possa receber seu consolo e sua palavra de alento.
Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz.
Onde há ódio, que eu leve o amor.
Onde há ofensa, que eu leve o perdão.
Onde há discórdia, que eu leve a união.
Onde há dúvida, que eu leve a fé.
Onde há erro, que eu leve a verdade.
Onde há desespero, que eu leve a esperança.
Onde há tristeza, que eu leve a alegria.
Onde há trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre,
Fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido;
amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
é morrendo que se vive para a vida eterna.
São Francisco de Assis
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Jesus, a porta sempre aberta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU