10 Agosto 2018
As autoridades dos judeus começaram a criticar, porque Jesus tinha dito: «Eu sou o pão que desceu do céu.» E comentavam: «Esse Jesus não é o filho de José? Nós conhecemos o pai e a mãe dele. Como é que ele diz que desceu do céu?» Jesus respondeu: «Parem de criticar. Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrai, e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos Profetas: ‘Todos os homens serão instruídos por Deus’. Todo aquele que escuta o Pai e recebe sua instrução vem a mim. Não que alguém já tenha visto o Pai. O único que viu o Pai é aquele que vem de Deus. Eu garanto a vocês: quem acredita possui a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Os pais de vocês comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desceu do céu: quem dele comer nunca morrerá.»
E Jesus continuou: «Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida.»
Leitura do Evangelho de João 6,41-51. (Correspondente ao 19º Domingo Comum, do ciclo B do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O texto de hoje começa com uma crítica dos judeus em referência às palavras que Jesus tinha dito: “Eu sou o pão que desceu do céu.” Impossível que alguém de quem conhecem pai e mãe tenha descido do céu! O que desce do céu é Dom de Deus, mas eles consideram saber qual é a origem de Jesus porque o conhecem desde sua infância, conhecem seu pai e sua mãe. Não é um dom de Deus, não veio do céu!
Há algumas traduções que, em vez de usar a palavra criticar, utilizam “murmuram entre eles”. E estes murmúrios são censurados por Jesus. As murmurações dos hebreus no deserto, porque eles estavam passando fome, trouxeram trágicas consequências. No livro do Êxodo é dito que “Toda a comunidade de Israel murmurou contra Moisés e Aarão no deserto, dizendo: ‘Era melhor termos sido mortos pela mão de Javé na terra do Egito, onde estávamos sentados junto à panela de carne, comendo pão com fartura. Vocês nos trouxeram a este deserto para fazer toda esta multidão morrer de fome!’” (Ex 16, 2b-3).
Os hebreus sofrem com a falta de alimentos e, apesar da escravidão que viviam no Egito, eles se lembram desse passado como gratificante e por isso acusam Moisés por tê-los feito sair do Egito.
O texto do Evangelho que estamos meditando relaciona o pão que sacia uma multidão e as palavras de Jesus como descido do céu, com o maná recebido no deserto. Nesse momento suas murmurações foram escutadas por Deus que deu “pão com fartura” (Ex 16,8).
Os judeus não podem aceitar que Jesus se chame a si mesmo como o pão descido do céu. Jesus é um ser humano, como qualquer outra pessoa, e o que vem de Deus é totalmente divino! Como é possível que esta pessoa, tão humana, palpável, visível se atribua uma origem divina? Para eles sua humanidade é um impedimento que não lhes permite aceitar que sua origem humana não se contradiz com sua origem divina. Por isso eles não acreditam em Jesus como um Dom de Deus! Deveriam quebrar muitas normas, costumes, mudar critérios para que a pessoa de Jesus entre na sua vida.
Como disse Enzo Bianchi no comentário do Evangelho: “Jesus era um homem como os outros, apresentava-se sem traços extraordinários, parecia frágil como todo ser humano. Tão cotidiano, tão modesto, sem qualquer coisa que, na sua forma humana, proclamasse a sua glória e a sua singularidade” [...]. Demasiadamente humano! Mas se não há nada de “extraordinário” nele, por que acolher a sua mensagem? Com toda a probabilidade, Jesus sequer tinha uma palavra sedutora, não se comportava de modo a ser admirado ou venerado. Era humano demais e por isso sentiam, justamente naquilo que viam, naquela sua humanidade tão cotidiana, um obstáculo a ter fé nele e na sua palavra. (Texto completo: Jesus, demasiadamente humano)
As palavras de Jesus geram crise naqueles que o escutam, consideram suas expressões como absurdas e por isso murmuram e discutem com Jesus!
Mas Jesus continua com uma frase ainda mais provocadora: Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrai.
E mais adiante acrescenta: Todo aquele que escuta o Pai e recebe sua instrução vem a mim. Ir a Jesus implica deixar-se instruir pelo Pai, escutar suas palavras, que mudam nossa vida, forma de pensar e agir.
Consideramos que há murmurações em nossas vidas, nas nossas comunidades que nos impedem de deixar-nos atrair pelo Pai para Jesus? Quais são hoje, na nossa cultura social e religiosa, as murmurações, críticas, queixas que impossibilitam deixar-nos cativar e nos fazem surdos às palavras do Pai?
No texto fica claro que só podem acolher Jesus os que são dóceis à ação do Pai em suas vidas. Ninguém vai a Jesus pelo seu próprio mérito ou esforço! Não é o cumprimento de normas, as boas atitudes, senão deixar-se atrair pelo Amor do Pai que o leva a Jesus. Para isso é necessário escutá-lo no íntimo do coração e daqueles que nos rodeiam, porque é assim que o Pai está nos indicando o caminho para ir a Jesus.
Jesus continua dizendo: “Eu sou o pão da vida. Os pais de vocês comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desceu do céu: quem dele comer nunca morrerá.” E ainda continua: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida.”
O pão que os hebreus comeram no deserto era o pão cotidiano que tirava a fome de cada dia e era preciso recolhê-lo todos os dias.
Mas Jesus se revela como o pão que sacia uma fome diferente, que dá a vida eterna! Ele clarifica a diferença que há entre o maná recebido no deserto e “no entanto morreram” e o pão que ele oferece porque “quem dele comer nunca morrerá”.
Nas palavras de Jesus lemos o núcleo fundamental da sua existência: ele que é visível ao olhar humano, que pode ser escutado, ele mesmo revela-se como o Pão que desce do Céu e quem come dele tem vida eterna!
Há um mistério, oculto para os sábios e entendidos deste mundo, mas revelado aos pequenos que são os que se deixam instruir e conduzir pelo Pai que é a Pessoa de Jesus! Ele é plenamente humano e plenamente divino.
“O coração de Jesus nos fala de iniciativa, de liberdade, de entrega absoluta e amor profundo. O coração de Jesus revela que sua vida implica um movimento de saída, que provoca encontros pessoais, que transforma a vida daqueles(as) que o seguem, abrindo-lhes novos horizontes, ampliando a visão e descentrando-os de sua própria lógica.” Texto completo: Divino coração humano
Possivelmente muitas vezes participamos numa missa, mas nem sempre acreditamos que esse pequeno pedaço de pão é realmente a presença de Jesus entre nós.
Somos convidados e convidadas a escutar o ensino do Pai para deixar-nos atrair para Jesus. Peçamos ao Senhor que nos conceda esta docilidade necessária para escutar suas palavras e deixar-nos conduzir por ele.
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Jesus: dom de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU