31 Mai 2018
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 14, 12-16; 22-26 que corresponde à Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Todos os cristãos o sabem. A eucaristia dominical pode-se converter facilmente num “refúgio religioso” que nos protege da vida conflituosa em que nos movemos ao longo da semana. É tentador ir à missa para partilhar uma experiência religiosa que nos permite descansar dos problemas, tensões e más notícias que nos pressionam por todos os lados. Por vezes somos sensíveis ao que afeta a dignidade da celebração, mas preocupa-nos menos esquecer-nos das exigências do que significa celebrar a ceia do Senhor. Incomoda-nos que um sacerdote não siga estritamente a normativa ritual, mas podemos continuar a celebrar rotineiramente a missa sem escutar as chamadas do Evangelho.
O risco é sempre o mesmo: comungar com Cristo no íntimo do coração, sem nos preocupar de comungar com os irmãos que sofrem. Partilhar o pão da eucaristia e ignorar a fome de milhões de irmãos privados de pão, de justiça e de futuro.
Nos próximos anos vão-se agravar os efeitos da crise muito mais do que nós temíamos. A cascata de medidas que nos ditam de forma inapelável e implacável irá fazer crescer entre nós uma desigualdade injusta. Iremos ver como pessoas próximas de nós vão empobrecendo até ficar à mercê de um futuro incerto e imprevisível.
Conheceremos de perto imigrantes privados de assistência sanitária, doentes sem saber como resolver os seus problemas de saúde ou de medicamentos, famílias obrigadas a viver da caridade, pessoas ameaçadas pelo despejo, gente sem assistência, jovens sem um futuro nada claro... Não o poderemos evitar. Ou endurecemos os nossos hábitos egoístas de sempre ou nos fazemos mais solidários.
A celebração da eucaristia no meio desta sociedade em crise pode ser um lugar de consciencialização. Necessitamos nos libertar de uma cultura individualista que nos habituou a viver pensando só nos nossos próprios interesses, para aprender simplesmente a ser mais humanos. Toda a eucaristia está orientada a criar fraternidade.
Não é normal escutar todos os domingos ao longo do ano o Evangelho de Jesus sem reagir ante as Suas chamadas. Não podemos pedir ao Pai “o pão nosso de cada dia” sem pensar naqueles que têm dificuldades para obtê-lo. Não podemos comungar com Jesus sem nos fazermos mais generosos e solidários. Não podemos nos dar a paz uns aos outros sem estar dispostos a estender uma mão a quem está mais só e indefenso ante a crise.
Leia mais
- Corpus Cristi: comunhão com Cristo, comunhão com o universo
- Corpus Christi: festa do corpo
- Eucaristia: superabundância, dom e perdão. Artigo de Michele Giulio Masciarelli
- Pão e vinho: a matéria da Eucaristia e o microscópio vaticano. Artigo de Andrea Grillo
- O pão da partilha!
- Alimentemo-nos de Jesus
- O dom de toda a vida de Jesus
- Corpo e Sangue de Cristo
- Nova teologia eucarística: o primado da prática. Artigo de Ghislain Lafont
- Valorizar o sentido mais profundo da Eucaristia. Entrevista com Francisco Taborda
- Nova teologia eucarística: Eucaristia como refeição e como palavra em Ghislain Lafont
- Evento e significado. "O que significa e como expressar hoje a Eucaristia como sacramento da presença de Cristo e de seu sacrifício?"
- Celebrar a Eucaristia em tempos de temeridade. Sobre Liturgia e Vida
- Outros Comentários do Evangelho
- Ministério da palavra na voz das Mulheres
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Eucaristia e crise - Instituto Humanitas Unisinos - IHU