26 Julho 2018
Depois disso, Jesus foi para a outra margem do mar da Galileia, também chamado Tiberíades. Uma grande multidão seguia Jesus porque as pessoas viram os sinais que ele fazia, curando os doentes. Jesus subiu a montanha e sentou-se aí com seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, festa dos judeus. Jesus ergueu os olhos e viu uma grande multidão que vinha ao seu encontro.
Então Jesus disse a Filipe: «Onde vamos comprar pão para eles comerem?» Jesus falou assim para testar Filipe, pois sabia muito bem o que ia fazer.
Filipe respondeu: «Nem meio ano de salário bastaria para dar um pedaço para cada um.» Um discípulo de Jesus, André, o irmão de Simão Pedro, disse: «Aqui há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas, o que é isso para tanta gente?»
Então Jesus disse: «Falem para o povo sentar.» Havia muita grama nesse lugar e todos sentaram. Estavam aí cinco mil pessoas, mais ou menos. Jesus pegou os pães, agradeceu a Deus e distribuiu aos que estavam sentados. Fez a mesma coisa com os peixes. E todos comeram o quanto queriam. Quando ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: «Recolham os pedaços que sobraram, para não se desperdiçar nada.» Eles recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães que haviam comido.
As pessoas viram o sinal que Jesus tinha realizado e disseram: «Este é mesmo o Profeta que devia vir ao mundo.» Mas Jesus percebeu que iam pegá-lo para fazê-lo rei. Então ele se retirou sozinho, de novo, para a montanha.
Leitura do Evangelho de João 6, 1-15 (Correspondente ao 17° Domingo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O capítulo 6 do Evangelho de João representa uma síntese da atividade profética de Jesus na Galileia. Narrado por cada um dos evangelhos, em João, está dentro do Livro dos Sinais. Este Evangelista não fala de milagres, mas de sinais.
No capítulo é narrada a passagem do Mar da Galileia ou Tiberíades. Esta breve narrativa é seguida do sinal da multiplicação de cinco pães e dois peixes, logo após a caminhada de Jesus sobre o mar e o discurso sobre o pão da vida.
Nos primeiros versículos é descrito o cenário onde acontecerá o milagre. Não diz respeito somente à localização geográfica deste fato, mas também oferece para a comunidade o sentido que tem essa narrativa para os judeus daquela época. É necessário lembrar que o Evangelho de João foi escrito no final do século I para cristãos maduros/as que eram capazes de ler além dos sinais a realidade que o Evangelho apresenta.
Este texto procura nos lembrar dos acontecimentos fundamentais do Antigo Testamento, especialmente do Livro do Êxodo, para apresentar a missão de Jesus no seu sentido Messiânico. “Eu sou o pão da vida”. “Quem vem a mim não terá mais fome, e quem acredita em mim nunca mais terá sede”. (6,35) Mostra-se assim o significado messiânico da missão de Jesus.
No início do texto lemos que Jesus foi para a outra margem do mar da Galileia, também chamado Tiberíades. A travessia do Mar da Galileia evoca para a comunidade de João a passagem do mar Vermelho, o Êxodo do povo judeu que procura sua libertação. Jesus inicia assim um novo êxodo do povo judeu para uma nova de libertação, a Boa Nova que ele traz para a humanidade.
E continua: Uma grande multidão seguia Jesus porque as pessoas viram os sinais que ele fazia, curando os doentes. Jesus é seguido de um povo sofrido, escravo e que precisa ser libertado. Há muitas situações que escravizam o povo, como os costumes e os ritualismos da fé judaica.
Jesus inicia uma libertação dentro da mesma sociedade judaica, e o mar da Galileia simboliza a fronteira da instituição judaica. A ideologia judaica converteu a fé em Deus numa realidade inacessível para os pobres que eram rejeitados pela sua incapacidade e impureza, junto com os doentes, os enfermos, mulheres, crianças, ou seja, todos e todas aqueles/as que não cumpriam fielmente os preceitos e rigores da Lei que tinham sido estabelecidos.
É um povo que necessita ser libertado de tantas escravidões, que procura Jesus pelo seu amor e capacidade de curar os doentes.
Jesus subiu a montanha e sentou-se aí com seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, festa dos judeus. Jesus ergueu os olhos e viu uma grande multidão que vinha ao seu encontro.
“Jesus subiu a montanha”. Essa subida recorda Moisés no Sinai onde recebe as tábuas da aliança. A referência à Páscoa dos judeus, mencionada no evangelho, vincula a passagem com a morte e ressurreição de Jesus, onde se selará a Aliança de Deus com a Humanidade.
Ao continuar lendo o capítulo 6, percebe-se que os eixos temáticos são: o Êxodo, as Obras de Deus, o Pão e a Eucaristia e o seguimento de Jesus.
Jesus levantou os olhos e viu uma grande multidão que vinha ao seu encontro. Uma multidão que caminha à procura de Jesus! Jesus levanta os olhos e os vê. É um ver diferente. Ele não somente constata que há gente seguindo-o, ao seu redor, como também percebe uma realidade mais profunda manifestada no evangelho, como fome, carência, necessidade, um povo faminto. E essas pessoas vão ao seu encontro, o procuram!
Ele tem um olhar profundo, que saber ver além daquilo que é visível. Cada um e cada uma de nós podemos ver além das aparências? Ou simplesmente ficamos com um olhar superficial, do externo? Pensemos nas pessoas que nos rodeiam, aquelas que encontramos no dia a dia: como é nosso olhar para essas pessoas?
Então Jesus disse a Filipe: “Onde vamos comprar pão para eles comerem?”. Disse o Evangelho que Jesus está testando Filipe, porque ele sabia o que ia fazer.
Jesus está próximo dos discípulos e na sua pergunta expressa sua inquietude, que também partilha com seus discípulos.
Filipe respondeu: «Nem meio ano de salário bastaria para dar um pedaço para cada um.» Um discípulo de Jesus, André, o irmão de Simão Pedro, disse: «Aqui há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas, o que é isso para tanta gente?»
Há duas respostas diferentes dos discípulos que sem dúvida representam possíveis atitudes que pode ter a comunidade cristã diante da necessidade das pessoas que nos rodeiam, da sociedade onde moramos, do mundo. Necessidade de moradia para os indígenas que foram retirados de suas terras ou para os refugiados que morrem na busca de paz e liberdade. Alimentação para milhares de pessoas que morrem de fome dia a dia. Paz para tantos países onde há somente guerra!.
Uma das respostas revela uma mentalidade que podemos ter ou que vemos ao nosso redor: “Nem meio ano de salário bastaria para dar um pedaço para cada um”, ou seja, não é possível fazer nada.
A outra resposta é aquela de quem sabe ou que há como possibilidade no meio da multidão, mas não confia que isso seja suficiente. André descobre o menino com sua pequena contribuição: cinco pães de cevada e dois peixes. Esta é a alimentação diária de uma pessoa carente. No texto o menino parece disposto a entregar seu alimento. É uma grande generosidade deste menino de quem não sabemos nem o nome. Ele é generoso com o pouco que tem. Confia em André, que não está convencido de que “cinco pães e dois peixes” sirvam para alguma coisa. Ele disse para Jesus, mas, ao mesmo tempo, duvida.
O menino, do qual não sabemos nem o nome, partilha, como fazem tantos pobres, seu alimento diário. E André nos mostra que a desconfiança daquele pequeno não contribui para nada, somente para apagar as riquezas ocultas que há em toda pessoa.
Toda pessoa tem uma riqueza para partilhar, e não é o dinheiro nem a quantidade que contribuem na alimentação necessária, seja justiça, verdade, igualdade, paz.
É preciso ter o olhar de Jesus, que soube ver uma multidão faminta e aproveitar o que se apresenta como um sinal quase insignificante.
Nos versículos seguintes Jesus toma a iniciativa. Ele alimenta a multidão que faz sentar na grama e, aceitando a oferta do menino, agradece ao Pai e começa a distribuir a comida.
Acontece o milagre. O insignificante se transforma em alimentação para toda a multidão. É um alimento que pela partilha torna-se fecundo e abundante: “E todos comeram o quanto queriam”.
Jesus aguarda que fiquem satisfeitos para recolher os pedaços que sobraram. Será o sinal da Eucaristia, seu Corpo e Sangue entregues para cada uma e cada uma de nós!
“Quando ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: «Recolham os pedaços que sobraram, para não se desperdiçar nada.” “Eles recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães que haviam comido.”
Peçamos ao Senhor que nos ensine a levantar nossa mirada e nos deixemos transformar por ele para ser comida e bebida para nossos irmãos e irmãs
Não nos chamas a iluminar as sombras
com frágeis velas protegidas dos ventos
com as palmas da mão, nem a ser puros espelhos
que refletem luzes alheias, cotizadas estrelas
dependentes de outros sóis, que como amos da noite
fazem brilhar as superfícies com reflexos passageiros
ao seu bel prazer.
Tu nos ofereces ser luz desde dentro, (Mt 5,14)
corpos acesos com teu fogo inextinguível
na medula do osso (Jr 20,9) sarças ardentes
nas solidões do deserto que buscam o futuro (Ex 3,2)
rescaldo de lar que congrega os amigos
compartilhando pão e peixes (Jo 21,9)
ou relâmpago profético que risque a noite
tão dona da morte.
Tu nos ofereces ser luz do povo (Is 42,6)
fogueiras de pentecostes na persistente combustão
de nossos dias acesos por teu espírito,
ser luz em ti, que és a luz,
fundido inseparavelmente
Benjamin Gonzalez Buelta
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