A espiritualidade da esperança que caracteriza o tempo de advento encontra uma significativa expressão e referência nas sete Antífonas do Ó.
A sexta Antífona do Ó contempla um duplo título, Rei dos povos e desejado por eles, em alusão a dois textos proféticos. O primeiro deles é um texto do livro de Jeremias, no qual o profeta opõe o Deus verdadeiro aos deuses pagãos: "Quem não vos há de temer, rei dos povos? A vós é devido todo respeito, porquanto entre os sábios dos povos pagãos, e nos seus reinos, nenhum se assemelha a vós." (Jer 10,7) Esta palavra do profeta é retomada no Cântico do Cordeiro em Apocalipse 15,3: “Cantavam o cântico de Moisés, o servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: “Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus Dominador. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações!”
Entretanto, tanto em Jeremias quanto no Apocalipse esta antífona não é messiânica e também não parece ser retomada pelos padres da Igreja. Assim, seu significado messiânico é algo original, da própria antífona.
O segundo texto é do livro do profeta Ageu 2,7 em sua versão latina (v.8 na Vulgata), onde há uma referência ao “desejado de todas as nações". Esta expressão da antífona é retomada em dois textos de Efésios 2. O primeiro é Ef 2, 20, que se refere a Cristo como “pedra angular” em referência a Isaías 28,16: o Senhor Deus lhes diz: “Eu coloquei em Sião uma pedra, um bloco escolhido, uma pedra angular preciosa, de base: quem confiar nela não tropeçará.”
Além disso, com a expressão “que os povos unis” a antífona se refere a Efésios 2,14: "Porque é ele a nossa paz, ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava". Assim, Cristo é proclamado a pedra angular que une pacificamente judeus e gentios em uma só comunidade. Neste sentido, a expressão "pedra angular" refere-se mais à unificação dos povos do que à construção da Igreja.
A súplica orante que conclui a antífona faz uma clara referência ao relato genesíaco da criação do Capítulo 2 do Gênesis, mais especificamente a Gn 2,7: O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem se tornou um ser vivente.
Nesta oração a formação do corpo humano é atribuída a Cristo. Assim segue a cristologia de Clemente de Alexandria que em O professor, I, 98, 2 escreveu: "Parece-me que é ele [Jesus Cristo] que antes de tudo moldou o homem com lama, depois o regenerou pela água e fez crescer para o Espírito". E Irineu, no tratado Contra as Heresias (V, 28, 4) explicou que "O homem no início plasmado pelas mãos de Deus, que são o Filho e o Espírito, foi feito à imagem e semelhança de Deus".
Enfim, com esta referência a Gn 2,7, a antífona enfatiza que todos os seres humanos foram criados do mesmo barro e que a salvação trazida por Cristo tem um alcance universal, se estende a toda a humanidade.
O Rex gentium
et desideratus earum
lapisque angularis,
qui facis utraque unum:
Veni et salva hominem quem de limo formasti
Ó Rei das nações (Isaías 9:6)
Ó Pedra angular, que os povos unis:
Oh, Vinde e salvai este homem tão frágil,
Que um dia criastes do barro da terra!
Ó...
Ó Rei das nações:
Desejado dos povos, Rei das gentes,
Tudo ajuntas em ti, Pedra Angular,
Inimigos tu vens apaziguar,
Vem salvar este povo tão dormente,
Pois do barro formaste o nosso ente,
Vem, Senhor, e não tardes, vem salvar, ó
Vem, ó Filho de Maria,
Deus da nossa alegria,
Quanta sede, quanta espera,
Quando chega, quando chega aquele dia?... (bis)