Lendo e meditando o Evangelho, percebemos claramente que no Natal, e em toda a sua vida, Jesus tem lado, o dos pobres: marginalizados, oprimidos, excluídos e descartados da sociedade. Do nascimento até a morte na cruz, Jesus se identifica e solidariza com os pobres.
O artigo é de Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
Eis o artigo.
Neste Natal 2022 coloco para a nossa reflexão três questões:
- Primeira: Por que no Natal falamos tanto a respeito de Jesus, o Filho de Deus, o Salvador do mundo, o Emanuel (o Deus conosco) que se encarna e se torna um Ser humano como nós (uma parte da verdade) e não falamos quase nada a respeito do “como” Jesus faz isso (a outra parte da verdade) Apresentar uma parte da verdade como se fosse toda a verdade, falsifica a verdade! Para se encarnar, Jesus não precisava nascer numa manjedoura, mas, sobretudo por ser Filho de Deus, podia nascer num palácio.
- Segunda: Nascendo na manjedoura de um estábulo como “sem-teto”, o que Jesus quis nos dizer? Jesus nos mostra que, se encarnando, assume o lado dos Pobres. É este o caminho que Jesus escolhe e que define sua identidade: estar do lado e ao lado dos Pobres. Ele não exclui ninguém. Todos e todas, inclusive os ricos, são convidados a entrar nesse caminho. Por exemplo, o homem rico Zaqueu, encontrando-se com Jesus, se converte e entra nesse caminho; ao contrário, o jovem rico, mesmo encontrando-se com Jesus, não tem coragem de segui-lo, não entra nesse caminho e, diz o Evangelho, vai embora triste.
- Terceira: Sabendo que Jesus tem lado - no Brasil, na América Latina e no mundo - onde vai ser o Natal de Jesus em 2022? Com certeza, ele não vai ser nas mansões dos ricos, dos opressores do Povo e nem vai ser nas Igrejas luxuosas e cheias de ouro.
O Natal do “sem-teto” Jesus vai ser, antes de tudo:
- nas ocupações urbanas e rurais ao lado dos Pobres, que lutam pelo direito à moradia digna (terra de moradia) e pelo direito a uma agricultura familiar e comunitária ecológica (terra de trabalho). Jesus, junto com os pobres e na pessoa dos pobres, corre o risco de ser despejado por uma liminar injusta de um juiz.
O Natal do “sem-teto” Jesus vai ser também:
- nas comunidades eclesiais de base (CEBs), uma Igreja de irmãos e irmãs em comunhão, na igualdade e na diversidade dos dons e serviços: o “jeito de ser Igreja” que Jesus quer;
- nos movimentos sociais populares, nos sindicatos e partidos políticos de trabalhadores que, com garra, coragem e muita fé, lutam pela Vida. “Eu vim para que todos e todas tenham Vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
O Natal do “sem-teto” Jesus vai ser ainda:
- nos fóruns ou comitês de direitos humanos e da Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum, nas comissões de justiça e paz e em todas as organizações ou pessoas que estão do e ao lado dos pobres e caminham com eles e elas na luta por um mundo novo.
Como ser humano e como cristão (ser humano radical), reafirmo: todo despejo, mesmo com liminar judicial, é injusto, desumano e antiético. As pessoas humanas não se despejam e não se tratam com brutalidade e crueldade. Elas devem ser respeitadas em sua dignidade. A própria palavra “despejo” é ofensiva.
Mais uma vez: uma advertência aos juízes e juízas. Cuidado! Não deem liminares de reintegração de posse, que na realidade são liminares de despejo. Com essas liminares, vocês mandam despejar seus irmãos e irmãs pobres e o próprio Jesus na pessoa deles e delas: os “pequeninos” do Evangelho. Lembrem-se: Deus é justo!
Fazer a memória e celebrar o Natal de Jesus significa, pois, torná-lo presente hoje.
Que no Natal 2022 e no Ano Novo 2023 o lado de Jesus seja o nosso lado! São estes os meus votos de Feliz Natal e Feliz 2023.
Crianças diante do presépio | Foto: Vatican Media
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Natal 2022: que o lado de Jesus seja o nosso lado! Artigo de Marcos Sassatelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU