25 Outubro 2018
“Não é um Sínodo sobre a sexualidade.” E isso está claro. Ou, melhor, todos os Padres que se pronunciaram nos briefings cotidianos sobre a assembleia dos bispos tentaram deixar isso claro, de vários modos e com palavras diferentes.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada em Vatican Insider, 24-10-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quem reiterou isso nessa quarta-feira, 24, foi o cardeal bávaro Reinhard Marx, que, pressionado pelos jornalistas na Sala de Imprensa vaticana sobre a questão da acolhida aos homossexuais e sobre a possibilidade de que, no documento final, apareça a sigla “LGBT”, como no Instrumentum laboris, que havia atraído o desprezo de alguns prelados e de certas alas de fiéis, ele não desmente as suas posições de abertura, mas deixa claro que a discussão na sala vai muito além das questões sexuais.
“Estou surpreso que sempre me fazem as mesmas perguntas, como se essas temáticas estivessem no centro da mensagem de Jesus”, disse Marx. E, quase querendo recomendar aos jornalistas que evitem acender pavios justamente agora nos últimos momentos desse Sínodo dos bispos pouco crepitante (pelo menos em comparação com os dois últimos sobre a família) e, principalmente, que evitem enquadrar todo o trabalho desenvolvido em três semanas em grades pré-constituídas, o purpurado alemão especifica com vigor: “A homossexualidade não está no centro do Sínodo”. A assembleia que está em andamento no Vaticano “não é um Sínodo sobre a sexualidade, mas sobre os jovens”, sobre “como a Igreja acompanha os jovens, mostrando-lhes o caminho para encontrar Jesus Cristo”. Porque, “se não acompanharmos os jovens e não caminharmos juntos, a Igreja perderá um grande campo para a sua evangelização”.
Nesse discurso geral, certamente se insere o discurso sobre o acompanhamento de pessoas atraídas pelo mesmo sexo. Mas não é esse o ponto, diz Marx: “Devemos prestar atenção para que o tema da sexualidade não seja instrumentalizado para uma batalha ideológica”.
É melhor deixar fora da sala, portanto, os vários “lobbies” – é precisamente o cardeal que usa esse termo –, tanto os “pró” quanto os “contra” a questão da homossexualidade na Igreja. “Há lobbies de todos os lados, assim como aqueles que tentam evitar alguma coisa”, afirmou o prelado, mas a Igreja não deve dobrar a sua ação a eles. Em vez disso, quer se pôr “à escuta” dos jovens e “usar uma linguagem compreensível por todos”, para que “não seja equivocada”.
Depois, “nas Igrejas particulares individuais, é preciso encontrar a forma adequada para cada cultura”, sem querer “homologar as várias culturas” ou provocar “discussões ideológicas”.
É nesse sentido que deve ser interpretado o esclarecimento oferecido por Dom Andrew Nkea Fuanya, bispo de Mamfe, no Camarões, um dos relatores do briefing: “Eu não votaria em um artigo (do documento final) que contenha a palavra LGBT, não seria entendido pelos meus fiéis”, disse. “Se eu for na minha diocese dizer que o Sínodo decidiu prestar um cuidado pastoral aos LGBT, 99,99% dos meus fiéis me perguntariam: o que é isso?”.
No fim das contas, a chave de leitura foi oferecida pelo Papa Francisco com um tuíte da sua seguidíssima conta @Pontifex: “Este Sínodo quer ser um sinal da Igreja que realmente escuta e que nem sempre tem uma resposta pré-fabricada, já pronta. #Synod2018”.
Isso também vale para a outra questão mais ou menos “quente” da cúpula de 2018, o papel pouco influente das mulheres na Igreja, evidenciado pela pouca presença feminina na sala, além disso, não votante. Sobre isso, seria necessária não uma resposta pré-fabricada, justamente, mas sim uma reflexão aprofundada.
“É uma pergunta urgente, há 60 anos! João XXIII já dizia que as mulheres estão no mesmo nível que os homens, e isso implica uma maior participação das mulheres na vida da Igreja, também no papel de responsabilidade decisória”, disse Marx ainda.
“Por que hesitar em progredir? Eu não entendo”, exclamou o presidente da Conferência Episcopal Alemã. “Há cinquenta anos, os bispos eram advertidos de que as mulheres deveriam ser engajadas no cuidado pastoral, mas hoje não é mais assim. Na Alemanha, por exemplo, em 27 dioceses, 11 mulheres são responsáveis por dirigir o cuidado pastoral. Na minha diocese, de sete ou oito mulheres que têm responsabilidade pelos vários setores pastorais, quatro estão em posição de liderança... Seríamos tolos se não as envolvêssemos, perderíamos muitas mulheres e elas teriam razão de ir embora.”
Portanto, os progressos devem ser feitos “hoje, e não amanhã”: “Não devemos fazer com que se acredite que na Igreja queremos ter poder apenas nas mãos dos homens. Precisamos da participação das mulheres, não simbólica, mas nos processos decisórios da Igreja. É impensável o contrário!”, disse o arcebispo peremptoriamente, ressaltando que “a ratio sacerdotalis é um ponto de referência imprescindível, mas isso não significa que as mulheres não possam ter voz”.
Além disso, de acordo com o pastor de Munique, esse também seria uma maneira para evitar certos “abusos de poder” no clero. Os próprios escândalos sexuais, apontou, “são um abuso de poder”. Por isso, a Igreja deve combatê-los “mudando as estruturas com o envolvimento de todos”, evitando “o clericalismo, que ocorre quando um grupo sente que tem o predomínio sobre os outros e impõe aos outros que se comportem de acordo”.
Falando em abusos, Marx disse não saber se essa temática, que teve o seu espaço durante os trabalhos do Sínodo, estará “no topo” do documento final: ela “não está presente em todos os países de modo igual”, portanto, não está decidido se ela será colocada na abertura do documento. Em todo o caso, “não é importante em que ponto está: a questão será retomada”. “Nos diversos países, depois, serão implementadas as normas para que a Igreja não perca ou recupere a credibilidade.” “A confiança”, disse Marx, “deve ser reconstruída.”
No início da coletiva – na qual também estavam presentes como relatores o polonês Grzegorz Ryś, arcebispo de Łódź e presidente do Conselho para a Nova Evangelização da Conferência Episcopal da Polônia, e o monsenhor libanês Toufic Bou Hadir, responsável pelo YouCat da Arabic Foundation da Igreja Maronita –, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, informou que, no dia 28 de outubro, último dia do Sínodo que começou no dia 3 de outubro, provavelmente será lida uma carta da assembleia dos bispos aos jovens do mundo inteiro. A carta, acrescentou, foi discutida na manhã dessa quarta-feira na sala, e surgiu dos Padres a vontade de que ela seja lida no domingo, durante a missa de encerramento com o papa em São Pedro.
Ruffini também explicou que, ainda nessa quarta-feira, estaria em discussão o documento final que será votado no sábado, depois de ter sido emendado com base nas propostas feitas pelos Padres sinodais.
Quarenta e quatro deles se pronunciaram na manhã dessa quarta-feira, e todos, enfatizou o prefeito, apreciaram o trabalho feito pela comissão que redigiu o esboço do texto.
Por fim, também nessa quarta-feira, foram apresentados os procedimentos para a escolha do próximo Conselho do Sínodo, que será composto por 21 pessoas.
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Cardeal Marx: não é um Sínodo sobre sexualidade. É tolice não dar mais espaço para as mulheres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU