10 Junho 2018
Um documento do Vaticano, destinado a auxiliar na preparação do Sínodo dos Bispos para a Região Amazônica se concentra no modo como o ministério da Igreja na região de nove nações está sobrecarregado e chama para a consideração de "novas formas" que permitam aos leigos "melhor e mais frequente acesso à Eucaristia".
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 08-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Lançado em 08 de junho, o documento preparatório de 14 páginas para a assembleia do Sínodo dos Bispos para a Região Amazônica em 2019 faz referência à superextensão por várias vezes. Afirma francamente que o cuidado pastoral da Igreja na região "tem sido feito precariamente."
"Uma missão encarnada implica repensar a limitada a presença da Igreja em relação a imensidão do território e da sua diversidade cultural", continua o documento.
"O Concílio Vaticano II nos lembra de que todo o povo de Deus compartilha do sacerdócio de Cristo, embora este seja distinto entre o sacerdócio comum e sacerdócio ministerial", afirma. "Isso dá forma a uma necessidade urgente para avaliar e repensar os ministérios que hoje são necessários".
A declaração também chama para discussão do lugar das mulheres na liderança Católica, dizendo: "é necessário identificar o tipo de ministério oficial que pode ser conferido para as mulheres, tendo em conta o papel central que as mulheres desempenham hoje na Igreja da Amazônia".
O Papa Francisco anunciou o Sínodo dos Bispos para a Região Amazônica no outono passado, dizendo que ele queria que a Igreja Católica "identificasse novos caminhos para a evangelização do povo de Deus" na região de maior biodiversidade do mundo.
Desde então, algumas especulações se concentraram em relação ao Pontífice desejar ou não o encontro para considerar a possibilidade de abertura do sacerdócio católico a homens casados, na esperança de permitir que a Igreja, para ministrar melhor numa área marcada pelo terreno difícil e a propagação das populações em distâncias vastas e de difícil acesso.
Embora o documento de 08 de junho não se refira especificamente à ideia de permitir padres casados, repetidamente menciona a questão do acesso à Eucaristia.
Em certo ponto do texto, que inclui um questionário que pode ser respondido pelos católicos, o Vaticano diz que o processo do Sínodo "requer um exercício extensivo na escuta recíproca, especialmente entre os fiéis e as autoridades da Igreja.”
"Um dos principais pontos a ser ouvido é o grito 'das milhares das comunidades privadas da Eucaristia Dominical por longos períodos de tempo'", afirma, citando o documento de Aparecida dos Bispos da América Latina e Caribe, lançado em 2007.
Em uma coletiva de imprensa do Vaticano para lançar o documento de 08 de junho, o secretário do Sínodo disse que o texto não menciona especificamente padres casados porque não se pretendia influenciar indevidamente a direção dos debates que antecedem o encontro de 2019.
"Isto não é uma declaração oficial por parte da Santa Sé sobre os viri probati", disse o cardeal Lorenzo Baldisseri, usando um termo em latim para "homens comprovados" que é frequentemente utilizado para descrever os homens casados que talvez possam se tornar padres.
"Aqui nós falamos de Ministério, há muitas diferentes formas de ministério", disse Baldisseri. "Vamos deixar a discussão em liberdade. Não tentamos impedir nada."
O documento preparatório, redigido pelo escritório do Vaticano para o Sínodo com a ajuda de um Conselho com 18 membros escolhido por Francisco para supervisionar a reunião de 2019, se desenvolve ao longo de três breves partes, que leva o modelo da doutrina social católica de ver/julgar/agir.
O documento abre com um preâmbulo que considera a "importância vital" da Amazônia para todo o planeta, e diz que a região passa por uma “profunda crise” em consequência da atividade humana de "mentalidade extrativista".
"A Amazônia é uma região com rica biodiversidade", declara o documento. "É multiétnica, multicultural e multi-religiosa; é um espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, requer mudanças estruturais e pessoais por todos os seres humanos, pelas nações e pela Igreja."
Além das perguntas em relação ao ministério, boa parte do texto fala de preocupações ambientais. Diz que a diversidade da região amazônica está "sendo ameaçada por interesses econômicos expansivos", citando especificamente o "deflorestamento indiscriminado" e a contaminação da água por "uso indiscriminado de agrotóxicos, derramamentos de óleo pela mineração legal e ilegal."
O documento também fala longamente sobre a situação dos indígenas contatados da Amazônia, estimados em 390 povos. Também nota que muitos deixaram suas terras tradicionais para as cidades nas últimas décadas. Cidades estas que o texto aponta como “caracterizadas por desigualdades sociais.”
"A pobreza produzida nesse processo... gerou relações de subordinação, de violência política e institucional, e de aumento do consumo de álcool e de drogas", afirma. "A pobreza representa uma ferida profunda na vida de muitos povos da Amazônia."
"Hoje o grito da Amazônia ao criador é semelhante ao grito do povo de Deus no Egito", continua o documento. "É um grito de escravidão e abandono, que clama por liberdade e cuidados."
O questionário que acompanha o documento contém 30 perguntas. Explicando o processo pelo qual as perguntas devem ser usadas, o texto afirma: "O Espírito fala através de todo o povo de Deus."
"Ouvindo, podemos aprender sobre os desafios, esperanças, ideias e novos caminhos que Deus está demandando da Igreja na região", continua. "Este questionário destina-se a ajudar pastores a responder ao convite através de uma consulta com o povo de Deus".
O questionário segue o modelo do documento, dividindo suas consultas em três categorias de ver, julgar e agir.
A terceira seção contém uma pergunta voltada à disponibilidade da Eucaristia. Ele questiona: "um dos maiores desafios na bacia amazônica é a impossibilidade de celebrar a Eucaristia com frequência em todos os lugares. Como responder a esta necessidade?"
A seção também contém uma pergunta sobre as mulheres na Igreja: "o papel das mulheres nas nossas comunidades é de suma importância, como podemos reconhecer e valorizá-los em nossos novos caminhos?"
Bispo Fabio Fabene, sub-secretário do Sínodo, disse, durante a coletiva de 08 de junho, que o próximo passo no processo conducente ao encontro de 2019 consistirá em reuniões a nível diocesano, organizada pelos bispos locais, para os católicos lerem e discutirem o texto preparatório.
Fabene disse que o Vaticano está esperando para receber as respostas do questionário em fevereiro de 2019, e que caberá ao pastores locais "recolher sugestões, reações e observações".
O documento de trabalho inicial para o Sínodo, conhecido em latim como o Instrumentum Laboris, deve ser concluído em junho de 2019, disse ele.
Esclarecendo quais bispos tomarão parte na assembleia especial do Sínodo, Fabene disse que cada um dos 102 prelados cujas dioceses têm relação com a Amazônia será convidado.
Também serão convidados os presidentes das conferências dos sete bispos envolvidos na região e os líderes da Red Eclesial PanAmazonica - REPAM, uma rede eclesial dos bispos da região criado em 2014.
O documento preparatório do Sínodo cita uma ampla gama de documentos da Igreja do século passado em suas considerações. Entre as principais referências está o material da Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe, conhecida pela sigla CELAM.
O documento de Aparecida recebe particular referência, e é citado 14 vezes. A elaboração do texto de Aparecida foi presidida pelo cardeal Jorge Bergoglio, o futuro Francisco.
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Vaticano procura 'novas formas' de acesso à comunhão na região amazônica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU