07 Setembro 2017
Eles vão à missa, suas casas estão repletas de imagens piedosas e eles honram a Deus como Pai, mas para os católicos ultraconservadores da Colômbia, o Papa Francisco não é bem-vindo.
A reportagem é publicada por La Croix, 05-09-2017. A tradução é de André Langer.
Ele é um papa “ilegítimo”, afirmam em coro. Embora admitam ser uma minoria, eles têm uma certa influência política e são visíveis, inclusive através de um canal de televisão.
Suas opiniões não passam despercebidas em uma Colômbia de 48 milhões de habitantes, de grande maioria católica, que o Sumo Pontífice visitará entre esta quarta-feira e domingo para expressar seu apoio à paz e à reconciliação desse país destroçado por mais de meio século de conflito armado.
“Como dizem os diplomatas, a visita é “non grata”. Por quê? Porque é um falso papa, um falso profeta de Deus. É provável que, em vez de trazer bênçãos para o país, ele traga maldições”, declarou à AFP o ex-candidato à presidência José Galat.
Este homem calvo, de óculos espessos, que pensa que esse papa argentino vai contra o Evangelho e a autoridade de Cristo, é a figura chave deste integrismo que se expressa no canal privado internacional Teleamiga.
Aos 89 anos, José Galat apresenta na Teleamiga um programa semanal de uma hora e meia, que atrai cerca de 400 mil telespectadores e durante o qual ele questiona declarações de Francisco.
Os ultraconservadores não o chamam de Santo Padre, Sumo Pontífice, nem Papa. Para eles, ele é apenas Bergoglio, o falso profeta que, segundo a Bíblia, concede seus poderes a Satanás.
Eles afirmam que sua eleição como chefe da Igreja católica é fruto de uma manipulação mafiosa e reformista. Eles o qualificam de populista, franco-maçom, marxista ou illuminati. Acusações todas rejeitadas pelo Vaticano.
A Conferência Episcopal da Colômbia publicou um comunicado no final de julho em que censura José Galat por “ferir gravemente a comunhão da Igreja” e de incitamento ao cisma.
Todas as segundas-feiras e sábados, dezenas de crentes de todas as idades se reúnem no noroeste de Bogotá, na sede da Corporação Belém Casa Fraterna, fundada há 24 anos.
Nesta casa de dois andares, de fachada branca, os muros são ornados com retratos e fotografias de João Paulo II, Paulo VI e da Virgem Maria. A biblioteca contém livros, tais como: O reino do anticristo ou Profecia incrível. Hoje e o que virá.
Para eles, Bento XVI, que renunciou em 2013, é o papa legítimo. Eles não têm papas na língua para falar sobre Jorge Mario Bergoglio e denunciam a presença de mensagens subliminares ou de símbolos maçons em suas vestimentas papais.
Em um silêncio recolhido, eles ouvem Rafael Arango, presidente da fraternidade que, com um crucifixo às suas costas, fica sentado atrás de uma mesa retangular para repassar sua mensagem.
Francisco goza de “uma impressionante popularidade porque ele diz o que as pessoas querem ouvir: que o pecado não é pecado, que todos podem comungar”, disse Arango.
Originalmente, esse advogado e cientista político de 78 anos, que foi ateu, seguiu as mensagens desse papa. Mas ele se decepcionou com ele e acredita que vem de uma corrente reformista da Igreja que se afasta do dogma cristão.
“Um papa não pode colocar-se acima da Palavra de Deus, nem modificá-la, nem reformá-la. Somente a Bíblia é imutável e eterna”, afirma.
Para os ultraconservadores, as ações e as declarações de Francisco mudam a fé. Eles não o perdoam por contradizer a Bíblia dizendo que todos podem se salvar, negando a existência do inferno, mostrando-se a favor de dar mais espaço às mulheres na Igreja e aproximando-se dos divorciados e dos homossexuais.
“Ele é um populista da fé. Ele quer contentar todo o mundo”, denuncia, por sua vez, José Galat.
Esses integristas não têm a intenção de sabotar a visita do papa. Eles simplesmente vão ignorá-lo.
Francisco “pensa que é mais importante acalmar a fome física do que pregar a Palavra de Deus”, insurge-se um desses fiéis, Guillermo Rodríguez, 36 anos, que não participará de nenhum evento previsto com o Papa.
O líder da corporação fará o mesmo: “Eu não posso ir contra a minha própria consciência, nem contra a Bíblia”.
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Colômbia. A visita “non grata” do Papa para os ultraconservadores católicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU