20 Abril 2017
Visto que hoje parece claro que Donald Trump não vai se encontrar com o Papa Francisco quando for para a Sicília no final de maio para participar da cúpula do G7, muitos irão supor que o primeiro teste real da seriedade de Trump em se relacionar com o Vaticano virá de sua escolha para o cargo de embaixador. Por vários motivos, no entanto, esta escolha pode não vir tão cedo, então devemos buscar outros meios para esta avaliação.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 18-04-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Até recentemente, a assunção era a de que a primeira oportunidade para avaliar a abordagem do governo Trump junto ao Vaticano sob o comando do Papa Francisco viria no final de maio, quando o presidente americano deve viajar para a Sicília para participar de uma cúpula do G7. As expectativas são de que Trump, como a maioria dos presidentes americanos em visita à Itália, também faria escala em Roma para um tête-à-tête com o pontífice.
No entanto, segundo informa o Financial Times, um tal encontro não está nos planos. Em off, fontes contaram ao sítio Crux que, além das dificuldades logísticas de sair da Sicília para ir a Roma entre uma cúpula da Otan e o Memorial Day [em que nos EUA se lembra dos que morreram enquanto serviam nas Forças Armadas do país], há também um problema de RH por parte da Casa Branca, na medida em que, hoje, a percepção é de não existe alguém que possa assessorar adequadamente o Sr. Trump para um encontro com o papa.
Consequentemente, o foco neste momento sobre até que ponto o atual governo irá considerar o Vaticano em sua pauta se volta à escolha de embaixador a ser feita por Trump, e, aqui, a mensagem básica parece ser: “Não espere uma nomeação tão cedo”.
A American Foreign Service Association, que trabalha com as nomeações diplomáticas dos EUA, informa que dos 188 cargos de embaixador que um presidente teoricamente pode preencher, 57 estão vacantes. Em parte, este vazio foi criado pela decisão da equipe de transição de Trump de exigir que toda nomeação política como as de embaixador tinham de estar vagas até o Dia da Inauguração, o que rompeu com a tradição anterior de conceder um período de transição maior. (Nomeações diplomáticas de carreira tinham permissão para permanecer.)
Até o momento, Trump fez somente seis nomeações para novos embaixadores. Eles incluem Nikki Haley, ex-governador da Carolina do Sul, para a ONU, e David Friedman, ex-advogado especialista em falência, para Israel.
Ásgeir Sigfússon, diretor de comunicações da citada associação, falou que uma comparação com a primeira rodada de nomeações de Barack Obama em 2009 sugere, até o momento, que o ritmo sob o atual governo não é “destacadamente mais lento”.
Mesmo assim, ainda segundo Sigfússon, estamos “rapidamente nos aproximando de um ponto em que as coisas serão superadas pela linha do tempo”, ou seja, porque o relógio só começa a trabalhar no Senado em torno das confirmações quando o presidente anuncia as nomeações, os trabalhos de logística podem significar que Trump acabará batendo o recorde anterior do tempo dispensado para concluir a transição de sua equipe diplomática.
Uma outra complicação possível é criada com os rumores segundo os quais, em retaliação pelo emprego da “opção nuclear” de uma maioria simples de 50% para aprovar o juiz da Suprema Corte Neil Gorsuch, os senadores democratas podem invocar a chamada “regra das 30 horas” para cada nomeação presidencial daqui em diante, ao exigir 30 horas de debate antes que uma votação de confirmação possa ocorrer.
Isto não se aplicaria somente aos embaixadores, mas a todas as aproximadamente 1.200 nomeações presidenciais que exigem a aprovação do Senado. Segundo o Center for American Progress, “o Senado precisaria gastar mais de 650 dias – quase dois anos – para confirmar cada uma destas nomeações, e isso supondo que os senadores trabalhem dentro dos limites de tempo, nos dias de semana e fins de semana, sem tirar recessos ou feriados, e sem considerar nenhum outro assunto”.
“Desde o 100º Congresso até o 110º, o Senado se reuniu em média apenas 137 dias por ano”, escreveu em 2010 Ian Millhiser do citado centro.
“Portanto, num mandato presidencial típico, o Senado encontra-se em sessão, na verdade, por menos de 550 dias. Em outras palavras, mesmo se os senadores trabalhassem 24 horas por dia, em todos aqueles dias, e mesmo se não voltassem as suas atenções a outros temas, literalmente não há tempo suficiente em um mandado presidencial para confirmar todas as suas nomeações”.
Desse modo, mesmo se Trump anunciasse amanhã o embaixador para o Vaticano, longe estaremos de ver esta pessoa a trabalhar em Roma.
Quanto a nomes para preencher este cargo, pensou-se que Trump nomearia Callista Gingrich, esposa do ex-presidente da Câmara dos Representantes, Newt Gingrich. Ela é católica vida inteira e foi fundamental na conversão de seu marido ao catolicismo em 2009.
Mesmo assim, alguns sinalizam hoje que Gingrich pode estar direcionada para um outro cargo. Um outro nome que surgiu recentemente é Kenneth Starr, ex-procurador geral e, mais recentemente, reitor da Baylor University até junho de 2016, quando renunciou em meio a escândalos de abuso sexual.
Se isso acontecer, teremos uma ruptura significativa com a tradição americana anterior. Desde que Ronald Reagan estreou as relações diplomáticas plenas com o Vaticano em 1984, todos os enviados americanos eram católicos, enquanto Starr é protestante.
No entanto, este também estaria sob consideração para o papel de embaixador no Escritório para a Liberdade Religiosa Internacional, do Departamento de Estado. Em todo caso, a ideia de mandar um enviado ao Vaticano, cuja destaque mais recente foi ser reitor durante um debate relacionado a abusos sexuais numa universidade americana, pode gerar certas dúvidas.
Independentemente de quem Trump nomear, talvez seja sensato, por enquanto, começar a buscar por outros modos – além da cúpula de maio, e além de uma nomeação para a embaixada – de avaliar se, e como, este governo pretende se relacionar com o Vaticano.
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Trump não se reunirá com o Papa, e um embaixador pode demorar a vir - Instituto Humanitas Unisinos - IHU