01 Abril 2016
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo João 20, 19-31 que corresponde ao Segundo Domingo de Páscoa, ciclo C do Ano Litúrgico.
O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Fonte: http://www.periodistadigital.com/religion/ |
A figura de Tomé como discípulo que se recusa a acreditar tem sido muito popular entre os cristãos. No entanto, o relato evangélico diz muito mais sobre este discípulo cético. Jesus Ressuscitado dirige-se a ele com palavras que têm muito de chamada urgente, mas também um convite amoroso: “não sejas incrédulo, senão crente”. Tomé, que leva uma semana recusando-se a acreditar, responde a Jesus com a confissão de fé mais solene que podemos ler nos evangelhos: “Meu Senhor e meu Deus”.
Que experimentou este discípulo em Jesus Ressuscitado? O que foi que transformou esse homem até então dubitativo e vacilante? Que percurso interior o levou do ceticismo à confiança? É surpreendente que, segundo o relato, Tomé renuncia a verificar a verdade da ressurreição colocando suas mãos nas feridas de Jesus. O que o abre para a fé é o próprio Jesus com seu convite.
Ao longo dos anos mudamos muito por dentro. Fizemo-nos mais céticos, mas também mais frágeis. Fizemo-nos mais críticos, mas também mais inseguros. Cada um de nós deve decidir como deseja viver e como deseja morrer. Cada um de nós deve responder a esse convite que, mais tarde ou mais cedo, como consequência de um processo interior, receberá de Jesus: “não sejas incrédulo, mas sim crente”.
Possivelmente necessitamos despertar mais nosso desejo de verdade. Desenvolver essa sensibilidade interior que todos temos para perceber, mais além do visível e tangível, a presença do Mistério que sustenta nossa vida. Já não é possível viver como pessoas que sabem tudo. Não é verdade. Todos, crentes e não crentes, ateus ou agnósticos, caminham pela vida envolvidos nas trevas. Como disse Paulo de Tarso, procura Deus “às apalpadelas”.
Por que não enfrentarmos o mistério da vida e da morte confiando no Amor como Realidade última de tudo? Este é o convite decisivo de Jesus. Mais de um crente hoje sente que sua fé foi-se transformando em algo cada vez mais irreal e menos fundamentado. Não sei. Talvez, agora que não podemos apoiar nossa fé em falsas seguranças, aprendemos a procurar Deus com um coração mais humilde e sincero.
Não podemos esquecer que uma pessoa que procura e deseja sinceramente acreditar, para Deus já é crente. Muitas vezes não é possível fazer muito mais. E Deus, que compreende nossa impotência e debilidade, tem seus caminhos para encontrar-se com cada um e oferecer-lhe sua salvação.
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Não sejas incrédulo, mas crente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU