21 Setembro 2018
"Jesus insere uma criança no meio dos discípulos, a abraça e diz que quem acolher em seu nome uma criança é a ele que estará acolhendo e quem o acolher estará acolhendo aquele que o enviou. Na cultura judaica de então a criança era insignificante, sem valor algum. Assim, acolher uma criança não traria nenhum privilégio. A proposta do Reinado de Jesus não tem em vista nenhuma vantagem pessoal, mas sim o serviço gratuito e amoroso especialmente aos pequenos.
"O amor a Deus e ao próximo é serviço. No projeto de Jesus, amar e servir são sinônimos. Amar e servir especialmente àqueles que não têm valor diante do mundo. "
A reflexão é de Rosa Maria Ramalho, fsp, religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas, bacharela em Teologia pelo Instituto São Paulo de Estudos Superiores - ITESP (2013), licenciada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR (2006) e mestra em Teologia pela Faculdades EST (2018), São Leopoldo/RS.
Referências bíblicas
1ª Leitura – Sab 2,12.17-20
Salmo 53 (54)
2ª Leitura – Tiago 3,16-4,3
Evangelho – Mc 9,30-37
RASGAR O CORAÇÃO
Lado a lado
Par em par
E chega a hora em que tudo parte.
Como o barco do porto
A criança do ventre
A fruta do pé
A água que deixa a fonte
E torna-se rio, mar.
Quem disse que só gente sente dor?
Aquilo que perfura a carne
Tem nome bonito: amor.
O som da batalha que se trava
Só se sente dentro
Sístole e diástole
No peito, na vida.
Na oração coletada deste 25º domingo do tempo comum recordamos que o Pai resumiu toda lei no amor a Deus e ao próximo. O amor é gratificante, mas tem como exigência máxima o sacrifício. Aquilo que perfura a carne tem nome bonito: amor. E amar dói, pois amar é entrega, confiança, serviço. Portanto, observar o mandamento do amor é assumir até as últimas consequências o projeto de Jesus, projeto que o levou a abraçar a Cruz. Tendo o mandamento do amor como pano de fundo, entremos nas leituras deste domingo, observemos seus personagens e façamos a nossa reflexão.
Na primeira leitura (Sabedoria 2, 12.17-20) já nos deparamos com uma cena instigante: os ímpios com o propósito de armar ciladas e colocar o justo à prova para testar a sua paciência e a sua confiança em Deus. A simples presença do justo incomoda, causa desconforto, pois questiona e reprova o modo de agir perverso dos ímpios.
Segundo os ímpios, o justo acredita que ele é “filho de Deus” e que Deus o defenderá e o livrará das mãos maldosas dos seus adversários. O justo não teme, sente-se protegido, e esta é a confiança de quem ama e se sente amado por Deus. Esta confiança encontramos também refletida no Salmo 53, cujo refrão confirma esta experiência de abandono nas mãos de Deus: “É o Senhor quem sustenta a minha vida! ”Se os orgulhosos e violentos não têm um lugar para Deus aos seus olhos, o justo vive na certeza de que é o Senhor quem o protege e o ampara.”
Um exemplo atual desta confiança do justo que não tem medo, nem mesmo da morte mais violenta por causa da justiça, encontramos em Dom Oscar Romero, que será canonizado no próximo dia 14 de outubro. Ele foi um modelo de conversão e de serviço até o extremo.
No cenário que nos é descrito no Evangelho de Marcos 9, 30-37 Jesus revela-se como o mestre que ensina seus discípulos com uma pedagogia própria. Jesus e seus discípulos atravessam a Galileia. Curioso é que Jesus não queria que ninguém soubesse desta informação, pois ele estava ensinando os seus discípulos. Pela segunda vez Jesus fala aos discípulos sobre sua condenação, morte e ressurreição e também, pela segunda vez, os discípulos não compreendem.
Chegando em casa, Jesus pergunta a eles sobre o que estavam discutindo pelo caminho. E o silêncio dos discípulos diante do próprio comportamento competitivo, leva-o a mais um ensinamento. O evangelista ressalta que Jesus senta-se, isto é, ensina, colocando-se no nível de todos, e diz aos discípulos que quem quer ser o primeiro que seja o último e aquele que serve a todos. Servir e não ser servido, como nos recorda Mateus 20, 28 e também João 13 em que, após o relato do Lava-pés, Jesus afirma que os discípulos devem repetir seu exemplo e proclama que serão bem-aventurados aqueles que colocarem o serviço em prática. O seguimento na perspectiva da paixão, morte e ressurreição coloca em evidência, para o discípulo, uma dinâmica totalmente contrária àquela do mundo, na qual a palavra de ordem é passar por cima dos outros para conquistar privilégios e poderes.
Jesus insere uma criança no meio dos discípulos, a abraça e diz que quem acolher em seu nome uma criança é a ele que estará acolhendo e quem o acolher estará acolhendo aquele que o enviou. Na cultura judaica de então a criança era insignificante, sem valor algum. Assim, acolher uma criança não traria nenhum privilégio. A proposta do Reinado de Jesus não tem em vista nenhuma vantagem pessoal, mas sim o serviço gratuito e amoroso especialmente aos pequenos.
Um outro panorama de amor encontramos na carta de Tiago 3, 16-4,3. Já no versículo 16 constatamos como está a realidade da comunidade cristã: cheia de inveja e rivalidade e estas são geradoras de desordens e todo gênero de obras más como cobiças, brigas, guerras e mortes. Segundo o autor da carta, a origem de todas essas discórdias são as paixões que estão em conflito dentro de cada um.
Em contrapartida, diante da constatação do clima de discórdia que existe dentro da comunidade, o autor da carta propõe uma saída: a da sabedoria. A “sabedoria que vem do alto” e que, como a fé, deve se manifestar em obras e gestos concretos. Ela “é antes de tudo pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento”. (v.17)
Retomando o nosso pano de fundo, o mandamento amor, recordemos que o amor gera naquele que crê em Deus um compromisso com a justiça e a retidão. Compromisso este que nos faz ser uma presença incômoda e provocadora. Aquele que tem um lugar para Deus nos seus olhos amplia sua visão diante das necessidades do mundo que sofre e carece de amor.
O amor a Deus e ao próximo é serviço. No projeto de Jesus, amar e servir são sinônimos. Amar e servir especialmente àqueles que não têm valor diante do mundo.
Por fim, o amor leva a construir a paz em comunidades fraternas e amorosas, onde o projeto do Reino se faz presente na sabedoria que se manifesta em gestos concretos de amor e fraternidade.
Aquilo que perfura a carne
Tem nome bonito: amor.
O som da batalha que se trava
Só se sente dentro
Sístole e diástole
No peito, na vida.
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25º Domingo do Tempo Comum - Ano B - No seguimento de Jesus, servir com amor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU