11 Novembro 2014
Na Cúria, a oposição interna a Bergoglio perde outra peça, a mais proeminente, a mais aguerrida. Como preanunciado nas últimas semanas, no dia 8 de novembro o papa removeu da chefia da Signatura Apostólica, o supremo tribunal da Santa Sé, o cardeal norte-americano Raymond Burke, 66 anos, para transferi-lo para a Ordem dos Cavaleiros de Malta, onde ocupará a posição, mais simbólica do que qualquer outra coisa, de patrono.
A nota é de Giovanni Panettiere, publicada no blog Pacem in Terris, 09-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em seu lugar, Francisco promoveu Dom Dominique Mamberti, 62 anos, prelado da escola bertoniana, até agora ministro das Relações Exteriores vaticanas. Na Secretaria de Estado, quem substituirá o francês será o núncio apostólico na Austrália, Dom Paul Richard Gallagher, 60 anos.
Líder dos ultraconservadores no Colégio Cardinalício, defensor da missa tridentina, estrênuo pro-life, Burke manifestou várias vezes a sua impaciência com o novo curso iniciado por Francisco.
Entre os dois, não há um clima bom, tanto que, há algumas semanas, causou frisson o abraço não dado pelo purpurado no pontífice no fim da missa de encerramento do Sínodo sobre a família, a assembleia dos bispos em que, inclinado em posições contrárias a toda abertura aos divorciados em segunda união e aos homossexuais, Burke conseguiu embolsar a aprovação de um relatório final decididamente mais suave do que o documento intermediário.
Há poucos dias, em uma entrevista à revista espanhola Vida Nueva, o cardeal falou até da Igreja como "um navio sem leme", antes de especificar que o seu comentário não pretendia ser "diretamente ligado ao papa".
Um deslize, para sermos clementes, que deve ter acelerado a saída do prelado dos muros leoninos. De certa forma, foi quase uma reedição do que aconteceu em dezembro passado, quando, na sequência das críticas de Burke à exortação apostólica Evangelii gaudium ("Não me parece que possa ser considerada como parte do magistério papal"), Bergoglio o afastou da Congregação dos Bispos.
Como membro daquele ministério, o norte-americano, fiel a uma imagem tradicional do príncipe da Igreja, bastante indigesta ao papa, foi acusado de se meter um pouco demais nas nomeações para as dioceses dos EUA.
Com o exílio maltês de Burke, sobe para três o número de cardeais da Cúria conservadores que acabaram fora do jogo graças a Francisco: o primeiro foi Mauro Piacenza, deslocado da cúpula da central Congregação para o Clero para a mais isolada Penitenciaria Apostólica; em outubro foi a vez do ministro da Liturgia, Antonio Cañizares Llovera, enviado para Valência; por último, Burke.
E já há quem aposte em um retorno à Alemanha do prefeito para a Doutrina da Fé, Gerhard Ludwig Müller. Ele também, assim como Burke, optou por não abraçar Francisco na Praça de São Pedro.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Remodelagem na Cúria: papa remove o cardeal Burke, líder dos ultraconservadores - Instituto Humanitas Unisinos - IHU