10 Novembro 2014
O cardeal Raymond Burke disse que está a serviço do Papa Francisco, que não tem nenhuma animosidade pessoal em relação a ele, e que aqueles que afirmam que o cardeal norte-americano é um adversário do pontífice estão tentando desacreditá-lo.
A reportagem é de Edward Pentin, publicada no sítio Breitbart, 06-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O chefe da mais alta corte do Vaticano também disse ao site Breitbart, na última terça-feira, que a Igreja Católica corre o risco do cisma se os bispos "forem contra" dogmas estabelecidos e imutáveis da Igreja nos próximos meses.
O prelado vaticano falava em Viena, na terça-feira, durante o lançamento da tradução alemã de Remaining in the Truth of Christ, um livro ao qual ele contribuiu. O trabalho é uma resposta à proposta do cardeal Walter Kasper de permitir que alguns divorciados recasados tenham acesso à santa Comunhão.
A Igreja Católica sempre impediu tal possibilidade, com base no ensinamento de Cristo de que se casar novamente após o divórcio constitui adultério.
"Alguns meios de comunicação simplesmente querem continuar me retratando como se eu vivesse a minha vida como um oponente do Papa Francisco", disse. "Eu não sou nada disso. Eu estive servindo-o na Signatura Apostólica e, de outras maneiras, continuarei servindo-o".
O prelado natural do Estado do Wisconsin, nos EUA, estava respondendo a comentários feitos por ele em uma entrevista que ele deu à revista espanhola Vida Nueva na semana passada. O artigo deu a entender que ele estava criticando o papa – embora ele saliente na entrevista que não está em desacordo com Francisco.
Ele disse à publicação espanhola que há uma "forte sensação" de que a Igreja está como um "barco sem leme, não importa por qual motivo". Mas ele deixou claro na entrevista que não estava "se pronunciando contra" o pontífice.
Ele disse que o papa tem o direito de chamar os católicos a "saírem para as periferias", mas acrescentou que "não podemos ir para as periferias de mãos vazias".
"Eu não estava dizendo que a ideia do Santo Padre é essa", explicou ele, "mas eu já vi outras pessoas usando as suas palavras para justificar uma espécie de 'acomodação' da fé à cultura, que nunca pode haver".
Burke disse ao site Breitbart que o seu desejo é "apresentar o ensinamento da Igreja em torno do qual houve uma grande confusão".
Ele apontou parcialmente como culpado o Sínodo do mês passado sobre a família em Roma, e disse que aqueles que se identificam com a "chamada agenda reformista" do Papa Francisco estão agora tentando "desacreditar o que eu digo atribuindo isso a alguma animosidade pessoal em relação ao Santo Padre, e isso não está certo".
Questionado sobre os recentes elogios do cantor Elton John ao Papa Francisco como um herói dos direitos gays, Burke disse que a Igreja precisa ser "diligente" para explicar "muito cuidadosamente" o seu ensino, fazendo distinções adequadas entre o pecador e o pecado.
Ele também reafirmou a preocupação do papa pelas pessoas com atração pelo mesmo sexo, preocupação esta que "entende que, mesmo que elas tenham essa atração, é uma atração a atos desordenados", e elas precisam buscar a "cura e a graça" de Deus para lidar com o seu "sofrimento muito profundo".
Burke foi um dos oponentes mais abertos à proposta de Kasper, dizendo que ela não é católica, que ameaça a indissolubilidade do matrimônio e que, por isso, é inaceitável. "A Igreja deve fazer tudo o que puder, quando, mais uma vez, a integridade do matrimônio está sob ataque", disse ele ao público vienense.
Nas duas semanas de outubro, no Sínodo sobre a família em Roma, ele afirmou ter ouvido "muitas vezes" prelados dizerem que, como a cultura mudou "radicalmente", a Igreja "não pode ensinar como fazíamos no passado". Mas Burke respondeu dizendo que tal visão revela uma "perda de esperança em Jesus Cristo, o único que é a salvação do mundo".
Ele reconheceu que a cultura é "muito corrupta", mas acrescentou que isso não significa que "vamos caçá-la, mas sim levar para a cultura aquilo que vai salvá-la e torná-la cheia de esperança".
As conversas sobre um possível cisma aumentaram na Igreja Católica depois que o recente Sínodo parecia estar levando a Igreja em uma direção mais "progressista" em questões morais. Um polêmico documento emitido pelos bispos na meio do encontro (que Burke chamou de um "desastre total") apontou para mudanças radicais na área dos homossexuais, do divórcio, do recasamento, dentre outras coisas, mas as propostas foram amplamente atenuadas ou não conseguiram chegar a um consenso no relatório final.
Questionado sobre se há um risco real de que a Igreja possa se dividir, Burke disse que, se na fase que antecede o segundo sínodo sobre a família no próximo mês de outubro os bispos se moverem em sentido "contrário ao ensinamento e à prática constantes da Igreja, há um risco, porque essas são verdades que não mudam e não podem mudar".
Ele também ressaltou que o presidente do Sínodo dos bispos, o cardeal Lorenzo Baldisseri, "identificou-se muito fortemente" com a tese de Kasper e "subscreve a essa escola".
Avisando que essa batalha vai continuar, ele convocou os católicos a "se pronunciarem e agirem".
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A Igreja corre o risco de sérias tensões nos próximos meses, alerta cardeal Burke - Instituto Humanitas Unisinos - IHU