O Vaticano lança as bases para um "ecumenismo sinodal" completo

Papa Francisco e Patriarca Bartolomeu I, durante viagem Apostólica à Terra Santa. (Foto: Reprodução | Vatican News)

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04 Abril 2025

  • Os trabalhos foram dirigidos por uma subcomissão presidida pelo padre Philippe Vallin e composta pelos bispos Antonio Luiz Catelan Ferreira e Etienne Vetö, pelos padres Mario Ángel Flores Ramos, Gaby Alfred Hachem e Karl-Heinz Menke. O grupo de acadêmicos incluía duas teólogas, Marianne Schlosser e Robin Darling Young.

  • A Comissão Teológica expressa sua intenção de dar “um novo impulso ao caminho rumo à unidade dos cristãos” e a esperança de chegar a uma data comum e definitiva para a celebração da Páscoa, como é o desejo compartilhado por Francisco e Bartolomeu.

  • Infalibilidade dos batizados: "Embora os bispos tenham um papel específico na definição da fé, eles não podem assumi-lo sem fazer parte da comunhão eclesial de todo o Santo Povo de Deus, tão caro ao Papa Francisco".

  • O texto pede que estejamos “particularmente atentos aos últimos entre os nossos irmãos”, porque “estes crucificados da história são Cristo entre nós”, isto é, “os mais necessitados de esperança e de graça”, mas ao mesmo tempo, conhecendo os sofrimentos do Crucificado, são por sua vez “apóstolos, mestres e evangelizadores dos ricos e abastados”.

A reportagem é de Jesus Bastante, publicada por Religión Digital, 03-04-2025.

Em meio ao Ano Jubilar, que marca o 1.700º aniversário do primeiro concílio fundador da Igreja, o de Niceia, a Comissão Teológica Internacional, com o endosso expresso do Papa Francisco (que deu sua aprovação em 16 de dezembro), está lançando um documento intitulado “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador. 1700º aniversário do Concílio Ecumênico de Niceia (325-2025) da Comissão Teológica Internacional”, que visa lançar as bases para um caminho sem volta em direção à unidade cristã, com base no Credo Niceno, reconhecido como “o documento de identidade dos cristãos”, e na promoção da sinodalidade entre os seguidores de Jesus.

Ao longo de 70 páginas, com 124 pontos divididos em quatro capítulos, aprovados por unanimidade pela CTI em primeira instância, posteriormente pelo prefeito da Doutrina da Fé, cardeal Víctor Manuel Fernández, e finalmente com a aprovação do Papa, são traçadas as reflexões sobre o presente e o futuro do ecumenismo, em torno da atualidade dogmática de Niceia, cujo 1.700º aniversário será comemorado em 20 de maio. Nessa data, a CTI convocou uma sessão de estudos durante a qual o documento será desenvolvido. Precisamente nessas datas (por volta de 25 de maio), foi planejada a visita histórica de Francisco a Bartolomé, embora ainda não tenha sido confirmada após a internação do Papa no Hospital Gemelli, sofrendo de pneumonia bilateral.

O trabalho foi dirigido por uma subcomissão presidida pelo padre francês Philippe Vallin e composta pelos bispos Antonio Luiz Catelan Ferreira e Etienne Vetö, e pelos padres Mario Ángel Flores Ramos, Gaby Alfred Hachem e Karl-Heinz Menke. O grupo de acadêmicos também incluía, em pé de igualdade, duas teólogas, as professoras Marianne Schlosser e Robin Darling Young.

Niceia, ponto de referência e inspiração

O que o texto diz? Em primeiro lugar, os teólogos param para recordar o “significado fundamental” do Concílio convocado por Constantino e do Credo que dele emergiu. Além disso, explicam os especialistas, porque a comemoração acontece durante o Jubileu da Esperança e coincide com a Páscoa para todos os cristãos, no Oriente e no Ocidente.

"Não é simplesmente um texto de teologia acadêmica", acrescenta o Vatican News, mas sim "é proposto como uma síntese que pode acompanhar o aprofundamento da fé e seu testemunho na vida da comunidade cristã". Em um momento de busca pela unidade, Niceia se apresenta como “um ponto de referência e inspiração” no processo sinodal no qual a Igreja Católica está engajada.

De fato, no primeiro capítulo, a Comissão Teológica expressa sua intenção de dar “um novo impulso ao caminho rumo à unidade dos cristãos” e sua esperança de chegar a uma data comum e definitiva para a celebração da Páscoa, como é o desejo compartilhado por Francisco e Bartolomeu. Este ano, 2025, em que ocorre essa unidade de datas, representa "uma oportunidade inestimável para sublinhar que o que temos em comum é muito mais forte, quantitativa e qualitativamente, do que o que nos divide".

Há mais coisas que nos unem do que nos separam

O que é? “Todos nós cremos no Deus Trino, em Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, na salvação em Jesus Cristo, segundo as Escrituras interpretadas pela Igreja e sob a inspiração do Espírito Santo. Todos nós cremos na Igreja, no batismo, na ressurreição dos mortos e na vida eterna”. De fato, observa o documento, “a divergência dos cristãos em relação à festa mais importante do seu calendário causa danos pastorais nas comunidades, a ponto de dividir as famílias, e provoca escândalo entre os não cristãos, afetando assim o testemunho do Evangelho que recebem”.

"Cremos enquanto batizamos; e rezamos enquanto cremos", afirma o texto, exortando-nos a beber juntos "daquela fonte de água viva" representada pelo Credo, pela oração e pelos hinos do século IV, quando a Igreja não havia sofrido nenhum de seus grandes cismas.

O documento também elabora sobre 325: "Pela primeira vez, bispos de todo o Oikouménè se reúnem em um Sínodo. Sua profissão de fé e decisões canônicas são promulgadas como normativas para toda a Igreja".

"A comunhão e a unidade sem precedentes provocadas na Igreja pelo evento de Jesus Cristo tornam-se visíveis e efetivas de uma nova maneira por meio de uma estrutura de alcance universal, e a proclamação da boa nova de Cristo em toda a sua imensidão também recebe um instrumento de autoridade sem precedentes", enfatiza o texto, oferecendo uma perspectiva positiva sobre a possibilidade de que isso aconteça no futuro.

Por fim, o texto reivindica “a fé pregada por Jesus aos simples”, que “não é uma fé simplista”, e enfatiza como “o cristianismo nunca se considerou uma forma de esoterismo reservada a uma elite de iniciados”. Pelo contrário, Niceia representa “um marco no longo caminho rumo às libertas Ecclesiae, que é em toda parte garantia de proteção da fé dos mais vulneráveis ​​diante do poder político”.

A infalibilidade dos batizados

E, também, “confirma a doutrina católica da infalibilidade in credendo dos batizados”. "Embora os bispos tenham um papel específico na definição da fé, eles não podem assumi-lo sem fazer parte da comunhão eclesial de todo o Santo Povo de Deus, tão caro ao Papa Francisco", conclui o texto.

Em suas conclusões, o documento faz um convite urgente a "proclamar a todos hoje Jesus, nossa Salvação", partindo da fé expressa em Niceia em uma multiplicidade de significados, e sem "ignorar a realidade" nem nos afastar "dos sofrimentos e das convulsões que atormentam o mundo e parecem comprometer toda esperança", ouvindo a cultura e as culturas.

O texto conclui exortando-nos a estar “particularmente atentos aos últimos entre os nossos irmãos e irmãs”, porque “estes crucificados da história são Cristo entre nós”, isto é, “os mais necessitados de esperança e de graça”. Mas, ao mesmo tempo, conhecendo os sofrimentos do Crucificado, eles são por sua vez “apóstolos, mestres e evangelizadores dos ricos e abastados”.

Por fim, o documento nos convida a proclamar como Igreja, “com o testemunho da fraternidade ”, mostrando ao mundo as maravilhas pelas quais ela é “una, santa, católica e apostólica” e é “sacramento universal de salvação” e de unidade, diante de Satanás, o divisor.

Nota do IHU

A íntegra do documento "Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador. 1700° aniversário do Concílio Ecumênico de Niceia (325-2025) da Comissão Teológica Internacional" pode ser lida, em português, aqui.

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