03 Fevereiro 2025
O exército israelense ordenou os refugiados de Jenin a fazerem suas malas.
A reportagem é de Nello Scavo, publicada por Avvenire, 24-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A pequena Gaza na Cisjordânia está se esvaziando como nos primeiros dias da guerra na Faixa. Os moradores do campo de refugiados de Jenin receberam ordens do exército israelense para fazer as malas.
Não é certo que, quando a operação militar terminar, todos encontrarão suas casas, algumas destruídas por veículos pesados do exército, outras deliberadamente incendiadas para abrir caminho para os invasores.
Na verdadeira Gaza, os nervos estão à flor da pele e ontem um tanque israelense abriu fogo em Rafah, no sul da Faixa, matando dois milicianos. Fontes do Hamas acusam Israel de querer inviabilizar a trégua, e Tel Aviv responde afirmando que são os milicianos que estão brincando com fogo ao se colocarem perto das posições israelenses. Tudo isso enquanto a lista das quatro mulheres que serão libertadas amanhã para a segunda fase da troca deveria ser entregue hoje. Com mais de vinte mortos em menos de três dias, a guerra na Palestina é uma guerra com outro nome: “Muro de Ferro”. Estão se preparando também em Nablus, em Hebron, em Jericó. As seis semanas de trégua em Gaza serão seis semanas de confrontos no resto da Palestina.
Observando o mapa de ataques na Cisjordânia, percebe-se que nada é por acaso. Jenin não é uma cidade no interior da Palestina, ela está justamente na fronteira com Israel. O mesmo acontece com os vilarejos atacados pelos colonos que ontem, armados com metralhadoras e motosserras, cortaram olivais e expulsaram pastores palestinos e seus rebanhos.
A mídia palestina oficial condenou as ações militares, embora tenham sido atingidas principalmente as facções armadas apoiadas pelo Irã, que não perdem nenhuma oportunidade de desacreditar a Autoridade liderada por Abu Mazen. Que possam haver repercussões para a trégua em Gaza não é apenas um temor. Ontem, um país negociador se manifestou. Ameaçando “graves repercussões”, o Egito condenou “a operação militar israelense em Jenin, que resultou em vários ‘mártires e feridos palestinos’, e alertou sobre suas consequências de tal operação para a segurança e a estabilidade da Cisjordânia, bem como sua potencial contribuição para a escalada da situação de segurança”. A referência é justamente à Faixa de Gaza, quando faltam apenas alguns dias para a libertação de mais quatro reféns israelenses e de uma centena de detidos palestinos. “O Egito enfatiza que essa operação militar”, afirma uma nota, ”vai contra os esforços regionais e internacionais para reestabelecer a estabilidade e a calma nos territórios palestinos ocupados e na região, e corre o risco de ter sérias repercussões. Os militares não estão sozinhos. São mais de 830.000 colonos israelenses na Cisjordânia ocupada, em comparação com uma população palestina de menos de 3 milhões.
O cerco a Jenin é interpretado por muitos como um ensaio geral para a anexação de outros territórios palestinos. Apenas ontem, pelo menos dois “postos avançados” israelenses foram registrados no Vale do Jordão. Chegam caravanas e trailers e, em poucos dias, tornam-se vilarejos de concreto com fuzis à sua volta. O exército israelense segue de perto, oficialmente para proteger a população palestina das emboscadas dos colonos. Na realidade, é o contrário. E ontem, impunemente, pelo menos trinta oliveiras de meio século foram derrubadas na cidade de Qarawat Bani Hassan, a oeste de Salfit, na Cisjordânia ocupada. Jamal Assi, um residente que viu tudo, conta que os colonos do assentamento ilegal de Netafim, construído em terras de propriedade de palestinos, saquearam a plantação de oliveiras e planejam transformá-lo primeiro em um acampamento e depois em uma nova colônia.
A noroeste de A Bir Abu Ammar, um grupo de colonos atacou pastores, enquanto as forças de ocupação israelenses incendiaram algumas casas no campo de refugiados de Jenin. O Hamas acusa a Autoridade Nacional Palestina de ficar olhando e até mesmo cooperar com Israel para erradicar os grupos fundamentalistas. O número de mortos está próximo de 20, embora os números sejam frequentemente arredondados para baixo, enquanto se aguarda a retirada dos corpos das vítimas dos escombros. Pelo menos o dobro de militantes armados foi capturado. Não há lugares invioláveis. Ontem, os militares invadiram o sítio arqueológico de Sabastiya, a noroeste da cidade de Nablus. Esse é o ensaio geral para a expansão do “Muro de Ferro”.
Localizada a 11 quilômetros a noroeste de Nablus, Sebastiya é uma pequena cidade histórica situada em uma colina com uma vista panorâmica sobre a Cisjordânia. Tem uma população de cerca de 3.000 palestinos, em constante diminuição devido ao medo de novos ataques de colonos apoiados pelas forças armadas. Para os cristãos, é mais do que um lugar do coração. O assentamento surgiu durante a Idade do Ferro, desenvolveu-se na época grega e romana e inclui um anfiteatro romano, templos, igrejas bizantinas e cruzadas e até mesmo uma mesquita dedicada ao “precursor”, João Batista, onde acreditam tenha sido enterrado. Israel já tentou tomar posse da cidade no passado, impedindo que a Autoridade Nacional Palestina iniciasse trabalhos de restauração no sítio e oferecesse serviços turísticos aos visitantes. E, mais uma vez, no lugar dos turistas, chegaram os soldados.