26 Setembro 2024
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 26-09-2024.
Somos uma periferia. Certamente somos um país muito rico. Mas somos uma periferia da Igreja porque somos um país muito secularizado. As paróquias de Luxemburgo estão longe de estar vivas. Assim, o Cardeal Arcebispo de Luxemburgo, Jean-Claude Hollerich, justifica a visita do Papa Francisco ao seu país, que começa esta manhã, como uma escala antes de sua viagem a Bruxelas, até domingo, 29 de setembro.
No entanto, o cardeal jesuíta e muito próximo do Papa, aponta outra característica da Igreja em seu país: a contribuição de outras comunidades para a vida da Igreja: "O Papa vem visitar uma nova realidade, já que somos um país internacional, com metade de nossos habitantes que não são nativos. Se eu for a uma das missas dominicais em português, geralmente não encontro cadeiras suficientes nas igrejas. O mesmo vale para a missa em inglês. Na cidade de Luxemburgo também há muitos franceses e a fé está muito viva".
Sobre a imagem que existe no Grão-Ducado do Papa, Hollerich, 66 anos e membro do C9, aponta - em entrevista à Cath.ch - "que ele é visto como um Papa que conhece o mundo e seus problemas e que age. Claro, há pessoas que não gostam do Papa. Temos em nossos países o Pensamento Livre, a associação de ateus e humanistas, que certamente não estão felizes com sua chegada".
"Há também católicos à esquerda e à direita que não estão felizes. Alguns na esquerda o consideram conservador na questão da ordenação de mulheres, celibato sacerdotal, etc. Alguns à direita não gostam por outros motivos. Eles não entendem que o Papa é radical na misericórdia. Não é liberal. É radicalmente evangélico", ressalta o cardeal.
Quanto à mensagem que Francisco pode deixar após este dia em Luxemburgo, e ainda muito recente a viagem de doze dias pelo Sudeste Asiático e Oceania, o também relator do Sínodo sobre a Sinodalidade – que começa na próxima semana – destaca que "o Papa Francisco proclama o puro Evangelho. Estou muito feliz que ele venha nos dizer esta palavra que nos chama à conversão".
"Em Luxemburgo", continua ele, "devemos olhar para a nossa realidade e não idealizá-la olhando para o passado. Devemos viver em nossos tempos e ver Deus que está presente em nossa cultura. É aqui que encontraremos os sinais para renovar nossa Igreja. Infelizmente, ainda há muitas coisas que teremos que fechar, resquícios do passado. Eu venho desta Igreja, então sempre me dói. Mas tenho esperança de que estamos andando com Deus e que ele nos guiará."
Nesse sentido, aponta "sinais de esperança", como "a vitalidade da comunidade portuguesa", mas "também posso referir os jovens", acrescenta. "Claro, não há muitos. Mas vemos neles uma profundidade espiritual que não existia antes. Acompanhei 200 jovens de autocarro à Jornada Mundial da Juventude em Lisboa. Encontrei neles um senso de oração e de Deus. Quarenta anos atrás, a ação cristã era enfatizada. Hoje os jovens querem saber quem é Deus e, tocados pela graça, agir".
Quanto à realidade da Igreja como um todo no continente europeu, o cardeal luxemburguês pede "uma atitude de humildade". "Não somos mais donos de outras igrejas. Estive no Benim e no Congo neste verão e testemunhei uma Igreja viva, com liturgias que levam tempo e fazem a alegria dos fiéis. Em casa, alguns teriam olhado para o relógio. Às vezes, na Europa, a missa é mais um dever do que um prazer. Conheço também a Ásia, com as suas pequenas e vibrantes Igrejas. Já podemos ver o bem para a Igreja da Europa em ter um papa que não é europeu. É uma bênção para o continente.
"O que a Igreja europeia preserva é o seu património espiritual e cultural e também o exercício da inteligência filosófica e teológica. Devemos torná-lo uma memória viva. Devemos nos alimentar dele não para voltar ao passado, mas para viver o hoje de Deus, como o Papa Bento XVI demonstrou durante seu pontificado", conclui Hollerich, que esta manhã recebe Francisco no aeroporto do Grão-Ducado.
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Cardeal Hollerich: “Luxemburgo é uma periferia da Igreja” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU