"A marcha do Brasil no Capitólio". Comentário de Rodrigo Nunes

Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil

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21 Março 2024

Há dois meses foi o aniversário de 1 ano do ataque de 8 de janeiro de 2023 a Brasília, a própria Marcha do Brasil no Capitólio. Na minha contribuição para um dossiê no último South Atlantic Quarterly @DukePress, analiso este incidente e uso-o para questionar interpretações do fascismo que o apresentam como uma tendência excessiva que o puxa além da própria possibilidade da sua normalização como uma ordem política ("buraco negro", "estado suicida", "guerra permanente" etc. ). O que quero dizer é que a forma como o 8 de janeiro aconteceu – quando os militares e políticos de direita claramente apoiaram as ações, mas se abstiveram de avançar para um golpe que sabiam até aquele momento que não conseguiam realizar – mostra que um fenômeno como o Bolsonarismo é melhor entendido como uma máquina para tanto a estimulação *quanto* a contenção do excesso.

O comentário é de Rodrigo Nunes, professor de teoria política na University of Essex, Reino Unido, publicado em sua página pessoal do Facebook, 06-03-2024. 

É verdade que podemos descrever o seu horizonte final como algo como um *estado da natureza distribuído diferencialmente* — uma abdicação extrema por parte do estado de qualquer responsabilidade pela mediação de conflitos econômicos e sociais, o que permite que os diferenciais de poder existentes fiquem desmarcados e se exercitem diretamente. Mas não só isto não é um "fora" obscuro da política, mas simplesmente uma questão de deixar as forças destrutivas do capitalismo tardio livres para seguir o seu curso, aqueles que gerem esta desintegração ainda aspiram a ser os seus gestores, ou seja, eles ainda pretendem mantê-lo sob controlo suficiente eles vão aterrar no topo qualquer cenário que nos aguarde no outro lado dessa desmoronação. (A promessa de pousar em cima da desintegração é, de fato, o fator chave de compra que a extrema-direita tem para oferecer. )

Isto é permitido pela estrutura organizacional da extrema-direita em lugares como o Brasil e os EUA, uma ecologia Ponzi de empresários políticos para os quais o trabalho agitacional está profundamente entrelaçado, o que resulta numa base altamente radicalizada e fácil de mobilizar mesmo para fins extremos como 6 de janeiro (EUA) ou 8 de janeiro (Brasil), mas simultaneamente impotente para agir sem a intervenção destes mediadores.

O dossiê foi organizado por Augusto Jobim e inclui peças dele, Denise Ferreira Da Silva e Jean Tible. Minha peça em particular também envolve um diálogo com Letícia Cesarino, Vladimir Pinheiro Safatle, Camila Rocha e Jonas Medeiros

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