05 Março 2024
"Mais do que nunca, a maternidade solo merece ser olhada com atenção, pois em todas as classes sociais esse modelo familiar tem impactos invisíveis aos olhos da sociedade. Para a mulher pobre e de periferia, deixar filhos sozinhos em casa ou com vizinhos para buscar o pão de cada dia expõe a prole a uma infinidade de riscos, de acidentes domésticos à violência sexual", escreve Rejane Rodrigues, em artigo publicado na newsletter Alter Conteúdo, 05-12-2023.
Quando recebi a missão de refletir sobre ser mulher aqui no Estratégia ESG cheguei a pensar o que eu, uma mulher branca, com muito mais privilégios do que a maioria das brasileiras, poderia acrescentar a esse debate. Mesmo de origem humilde, tive oportunidade de frequentar boas escolas, passei por grandes empresas, cresci profissionalmente e construí um patrimônio que me permite viver sem sobressaltos.
Mas, como acontece em mais da metade dos lares brasileiros, sou uma chefe de família. Integro as 38,3 milhões de famílias, segundo o IBGE, nas quais a mulher é responsável pelo sustento da casa. Na maioria absoluta das vezes, isso implica também cuidar ou gerenciar as tarefas domésticas, zelar pela educação, saúde e cuidados com os filhos e idosos – tendência que só cresce no Brasil.
Mais do que nunca, a maternidade solo merece ser olhada com atenção, pois em todas as classes sociais esse modelo familiar tem impactos invisíveis aos olhos da sociedade. Para a mulher pobre e de periferia, deixar filhos sozinhos em casa ou com vizinhos para buscar o pão de cada dia expõe a prole a uma infinidade de riscos, de acidentes domésticos à violência sexual. Mas o que fazer quando não há creches suficientes, e a fome fala mais alto? Qual é a alternativa para quem simplesmente não tem alternativa?
Para aquelas com melhores condições econômicas ou rede de apoio, a conta vem na forma de menos acesso a oportunidades profissionais e equidade salarial. O mundo está mudando, felizmente, mas sabemos que as mulheres da minha geração foram, por muito tempo, consideradas profissionais de segunda linha, já que, na visão patriarcal, não poderiam se dedicar ao trabalho como os homens, por conta da maternidade e das responsabilidades domésticas.
Em um momento em que saúde mental ganha visibilidade, vale lembrar que a mãe solo ainda lida com sobrecargas emocionais importantes, sua e dos filhos. Pois, diante de pais ausentes, cabe a ela – e somente a ela – tomar decisões, gerenciar conflitos e lidar com questões específicas de cada etapa da vida dos filhos, enquanto equilibra todos os outros pratinhos, em casa e no trabalho.
Que possamos amadurecer essa discussão, porque a visão da supermulher, que dá conta de tudo, pode ter um preço alto demais.
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A invisibilidade social das mães solo. Artigo de Rejane Rodrigues - Instituto Humanitas Unisinos - IHU