24 Fevereiro 2024
"É difícil pensar que as vidas dos palestinos em Gaza possam piorar. Mas irão piorar se, como Netanyahu vem anunciando há semanas, o exército israelense atacar Rafah", escreve Ana Fuentes, jornalista espanhola, em artigo publicado por El País, 23-02-2024.
Mesmo que os ataques israelenses contra Gaza cessem agora, nos próximos meses morrerão pelo menos outros 6.500 palestinos devido à crise sanitária em que a Faixa está mergulhada. É um número assustador, que se soma aos 30.000 mortos em quatro meses e meio. O pior é que essa é a projeção mais otimista feita por pesquisadores independentes da London School of Hygiene and Tropical Medicine e da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos. Até maio, os especialistas atualizarão seus dados para três cenários possíveis: o primeiro, um cessar-fogo permanente e sem epidemias; o segundo, as coisas continuarem como estavam até janeiro passado. E o terceiro, que o conflito se agrave.
É difícil pensar que as vidas dos palestinos em Gaza possam piorar. Mas irão piorar se, como Netanyahu vem anunciando há semanas, o exército israelense atacar Rafah. Na última cidade do sul da Faixa, na fronteira com o Egito, mais de um milhão de deslocados estão superlotados. Vivendo, conforme relatam eles mesmos, como animais: em barracas ou barracos, sem água potável, remédios ou banheiros, com muitos amputados temendo que suas feridas se infectem porque há lixo por toda parte. Não há mais colheitas: os tratores israelenses as destruíram. E tudo isso sabemos graças a breves ligações que os habitantes de Gaza fazem para seus contatos no exterior, aos trabalhadores humanitários e aos repórteres locais que continuam arriscando suas vidas, porque Israel ainda não permite a entrada de meios de comunicação internacionais, exceto em ocasiões muito raras e sob a supervisão de seu exército.
Estamos nos encaminhando para o panorama mais trágico, no qual 75.000 gazatitas morrerão antes do final do verão, segundo os pesquisadores. Mesmo assim, a urgência não se reflete na política. Na União Europeia, os 27 não conseguem concordar em exigir um cessar-fogo, nem mesmo pausas humanitárias, devido ao veto da Hungria. Nem mesmo a ordem do Tribunal Internacional de Justiça para que Israel envie ajuda humanitária para a Faixa e previna atos de genocídio foi útil: o Programa Mundial de Alimentos deixou de entregar comida lá depois que cidadãos desesperados saquearam seus caminhões. Eles sofrem, disse um médico da OMS, uma combinação explosiva de fome e doença da qual será impossível sair enquanto o cerco continuar.
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Gaza. O melhor cenário já é atroz. Artigo de Ana Fuentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU