19 Outubro 2023
No rescaldo do ataque noturno ao Hospital Batista Al-Ahli, em Gaza, o primeiro-ministro libanês em exercício, Najib Mikati, decretou um dia de luto nacional para quarta-feira, 18 de outubro, em solidariedade às vítimas e suas famílias.
A reportagem é de Elisa Gestri, publicada por Settimana News, 18-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em sinal de condenação ao ataque israelense, que segundo as autoridades palestinas teria causado até agora cerca de quinhentas vítimas, o ministro da Educação libanês, Abbas Al-Halabi, anunciou também o fechamento de todas as escolas de todos os níveis e graus do país.
O dia de hoje promete ser de densas manifestações, entre a capital e as cidades de Trípoli, Saida e Tiro; na noite de terça-feira, milhares de libaneses saíram às ruas logo após a notícia do ataque, dirigindo-se em protesto para a Embaixada dos EUA, nos arredores de Beirute.
Através do canal de TV Al-Manar, a milícia xiita do Hezbollah, protagonista dos confrontos dos últimos dias na fronteira com Israel, convocou uma grande concentração para o início da tarde de hoje na periferia sul de Beirute, a "dahiye“, onde 90% dos habitantes são xiitas e há muitos simpatizantes. A manifestação insere-se no “Dia da raiva e do protesto global”, uma iniciativa “em condenação às atrocidades dos sionistas” que o Hezbollah dirigiu esta noite a todo o mundo árabe e islâmico por ocasião da anunciada visita de Joe Biden a Israel.
O Hezbollah convidou o mundo árabe, e não é a primeira vez, a "sair às ruas e expressar sua discordância, pressionando países, nações e organismos internacionais" para que ajam imediatamente para impedir "o genocídio do povo palestino que é submetido há anos a massacres, opressões e migrações forçadas."
Como ressalta a respeitada revista The National, no entanto, apesar das suas declarações belicosas, o Hezbollah não tem nem a força nem o apoio para se permitir uma guerra aberta com Israel. Mesmo que o poderoso aliado Irã entrasse na guerra ao lado do Hezbollah, explica The National, abrir uma frente libanesa significaria muito provavelmente uma intervenção estadunidense.
Como se sabe, Washington destacou dois porta-aviões para fins de dissuasão no Mediterrâneo e forças maciças ao longo da fronteira entre a Síria e o Iraque, para evitar a possível entrada na guerra de milícias iraquianas ao lado do Irã. Um conflito aberto entre os principais contendores – EUA, Israel, Irã e Hezbollah – não beneficiaria ninguém, mesmo que uma guerra regional não possa ser completamente descartada, conclui The National.
No que diz respeito ao Líbano, até agora os confrontos na fronteira entre o Hezbollah e o IDF permanecem circunscritos, sem conduzirem a ações irreparáveis, como bombardeios extensivos nos respetivos países. O número de mortos é atualmente de menos de uma dezena de vítimas por dia, entre soldados israelenses, milicianos do Hezbollah, poucos civis, incluindo o jornalista libanês Issam Abdallah, atingido por um míssil israelense enquanto realizava o seu trabalho. É de esperar que, por mais lamentável que seja, a situação não se agrave.
Por seu lado, a sociedade civil libanesa, à parte as milícias do Hezbollah e desconsiderando a sua proximidade incondicional ao povo palestino, rejeita veementemente a possível entrada em guerra do país, já abalado por um passado de conflitos e um presente de profunda crise econômica.
Pessoas de todas as gerações e religiões, jovens e idosos, cristãos e muçulmanos, concordam com isso e esperam que as instituições não se deixem arrastar para uma guerra que não lhes pertence.
“La guerre... c’est la merde”, me diz com franqueza em excelente francês Khodr, um engenheiro aposentado que já viu muitas guerras. “O povo libanês está cansado, precisamos nos recuperar da situação econômica em que nos afundamos. Espero que as nossas instituições, que já são responsáveis pela crise no Líbano, não queiram agora levar-nos a essa outra loucura que ninguém quer."
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Oriente Médio: luto e raiva. Artigo de Elisa Gestri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU