13 Dezembro 2022
"A partir desse paradigma simbólico, é fácil afirmar que a Igreja vive do princípio petrino, presente na hierarquia constituída por homens que a governam, os pastores, e encontra uma imagem especular em Maria, mãe dos crentes e esposa de Cristo. Assim, a mulher se identifica com a casa, o feminino com interioridade, a recepção e o masculino com a ministerialidade, a autoridade, o poder".
O artigo é Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 12-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
De várias Igrejas locais do mundo chegaram a Roma os resultados do trabalho de escuta dos católicos que se engajaram no processo sinodal, estimulado pelo Papa Francisco e que efetivamente indicou temas e reformas para a igreja de amanhã. Nunca na história das igrejas se experimentou um processo desse tipo, com o envolvimento dos fiéis, a quem se reconhece a liberdade de propor mudanças. E trata-se também de reformas das estruturas e de uma releitura da moral cristã, que é fruto não só do Evangelho, mas também da cultura humana.
Assim, após essa primeira fase, vivem-se uma incerteza e alguns medos.
Temas candentes, questões há muito esquecidas reapareceram com clareza teológica, expressas de forma madura por algumas Igrejas nacionais, gerando temor na Cúria Romana e em setores ancorados à tradição, a ponto de advertir para a possibilidade de um cisma na Igreja da Alemanha, que ao contrário continua sendo uma igreja católica dotada de dons para ler teologicamente os problemas com inteligência. Sobre um tema específico, principalmente, existe o risco de se gerar frustração: o lugar da mulher na Igreja.
Em entrevista à revista America, o Papa Francisco, ao ser questionado se as mulheres poderiam ser ordenadas no ministério, reiterou a posição expressa em outras ocasiões, recorrendo a uma fórmula do teólogo H.U. von Balthasar, que lê a Igreja como uma polaridade em torno de um princípio petrino e um princípio mariano. Autoridade e governo pertencem ao carisma de Pedro, ao princípio mariano pertence o carisma de amor. A partir desse paradigma simbólico, é fácil afirmar que a Igreja vive do princípio petrino, presente na hierarquia constituída por homens que a governam, os pastores, e encontra uma imagem especular em Maria, mãe dos crentes e esposa de Cristo. Assim, a mulher se identifica com a casa, o feminino com interioridade, a recepção e o masculino com a ministerialidade, a autoridade, o poder.
Eu acredito que é impensável para um crente aceitar um simbolismo tão discriminador. Como é possível comparar Pedro e Maria que estão em planos de ordem diferente? Não acredito que essa seja a via para justificar a proibição do ministério ordenado para as mulheres. Sei que a tradição sempre excluiu tal admissão à ordem e que hoje a Igreja continua despreparada para tal abertura, que a maioria dos católicos não consegue assumir tal novidade, e permanece um problema ecumênico com as igrejas irmãs da ortodoxia, que não admitem as mulheres na ordem.
Em vez de nos entrincheirar em hipóteses que carecem de rigor teológico e continuar a repetir que "não está na disponibilidade da Igreja abrir o sacramento da Ordem às mulheres", é melhor ser claros: hoje, não é possível porque tal escolha não está amadurecida na Igreja Católica. É melhor continuar a tentar responder às necessidades do povo de Deus e reconhecer à mulher o lugar que lhe é devido sem invocar justificações pouco convincentes, parecendo ingênuas e incongruentes e, portanto, insuficientes.
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O lugar da mulher na Igreja. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU