02 Dezembro 2022
Ex-presidente acusou Papa de "baboseira misógina" após entrevista justificando a exclusão de mulheres.
A reportagem é de Patsy MacGarry, publicada por The Irish Times, 01-12-2022.
O Papa Francisco foi acusado de "baboseiras misóginas" pela ex-presidente da Irlanda, Mary McAleese, após uma entrevista a uma revista católica dos Estados Unidos, na qual disse que as mulheres não estão sendo privadas por terem negado o direito de se tornarem padres.
Em entrevista à publicação jesuíta América, realizada no Vaticano no mês passado, o Papa disse: “A Igreja é mais que um ministério. É todo o povo de Deus. A igreja é mulher. A igreja é uma esposa. Portanto, a dignidade da mulher é espelhada dessa maneira”.
“E por que uma mulher não pode entrar no ministério ordenado? É porque o princípio petrino não tem lugar para isso”, disse. “Que a mulher não entre na vida ministerial não é uma privação. Não. Seu lugar é o que é muito mais importante e que ainda temos que desenvolver, a catequese sobre a mulher no caminho do princípio mariano”, disse.
No entanto, a entrevista gerou uma resposta contundente da Sra. McAleese. Em um breve e-mail ao Vaticano dirigido ao Papa, ela disse: “Foi reconfortante e gratificante observar a absoluta impenetrabilidade das razões que você ofereceu, sua ridícula falta de lógica ou clareza, em suma, o fato de que você ofereceu apenas mais improváveis bobagens misóginas.”
Continuando, ela disse: “Portanto, nada de novo e nada a temer. Obrigado por nos dar algo para rir. Se você apresentar um motivo sério e confiável, não hesite em nos informar. Enquanto isso continue divagando. É tão divertido e a diversão quase acabou com a fé! Muitas felicidades e agradecimentos renovados. Maria McAleese."
Dando seu endereço Roscommon, ela assinou o e-mail como Dra. Mary McAleese LLB, MA, JCL, JCD, incluindo qualificações em direito canônico.
Questionado na entrevista sobre o que diria a uma mulher que se sente chamada a ser padre, o Papa disse que é “um problema teológico”. Ele disse que “amputamos o ser da igreja se considerarmos apenas o caminho da dimensão ministerial da vida da igreja. O caminho não é apenas o ministério (ordenado).
O “princípio petrino (de Pedro) é o do ministério”, disse ele. “Mas há outro princípio ainda mais importante, do qual não falamos, que é o princípio mariano, que é o princípio da feminilidade na Igreja, da mulher na Igreja”, disse.
Havia também uma terceira via, “a via administrativa”, disse ele. “É algo de administração normal. E, nesse aspecto, acredito que temos que dar mais espaço para as mulheres.” No Vaticano, “os lugares onde colocamos as mulheres estão funcionando melhor”, disse ele.
“Portanto, há três princípios, dois teológicos e um administrativo. O princípio petrino, que é a dimensão ministerial, mas a igreja não pode funcionar só com ela. O princípio mariano, que é o da igreja esponsal, a igreja como esposa, a igreja como mulher. E o princípio administrativo, que não é teológico, mas sim de administração, sobre o que se faz”, disse.
Questionado sobre a questão dos abusos, ele se referiu à sua visita à Irlanda em 2018.
“A igreja assume a responsabilidade por seu próprio pecado, e nós vamos em frente, pecadores, confiando na misericórdia de Deus. Quando viajo, geralmente recebo uma delegação de vítimas de abuso.” Ele lembrou “quando eu estava na Irlanda, pessoas que haviam sido abusadas pediam uma audiência. Havia seis ou sete deles. No começo, eles ficaram um pouco zangados e estavam certos.
“Eu disse a eles: 'Olha, vamos fazer alguma coisa. Amanhã devo fazer uma homilia; por que não preparamos juntos, sobre esse problema?' E isso deu origem a um belo fenômeno porque o que começou como um protesto se transformou em algo positivo e, juntos, criamos a homilia para o dia seguinte. Isso foi positivo [o que aconteceu] na Irlanda, uma das situações mais acaloradas que já enfrentei. O que a igreja deve fazer, então? Siga em frente com seriedade e com vergonha.”
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