16 Agosto 2022
No último sábado, 13-08, o cardeal nicaraguense Leopoldo Brenes abençoou diversas imagens de Nossa Senhora de Fátima que foram enviadas para todas as dioceses do país.
No domingo, o governo proibiu um padre da diocese de Matagalpa, onde o bispo local está em uma espécie de prisão domiciliar, de receber a imagem.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 15-08-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O padre Erick Diaz, pároco na cidade de Tuma-La Dalia, foi informado pela polícia que ele estava proibido de ir até a catedral para receber a imagem.
Centenas de fiéis que estavam se dirigindo à catedral para venerar a imagem de Maria foram enviados de volta para suas casas, no último movimento do regime de Daniel Ortega contra a Igreja Católica.
O bispo Rolando Alvarez, de Matagalpa, está sob “prisão domiciliar eclesial” há 12 dias, proibido de deixar a catedral diocesana, onde está confinado com outros seis padres e cinco leigos, incluindo dois seminaristas. A polícia e as milícias governamentais estão em guarda à frente da sede diocesana. Amigos dos que estão presos estão sendo proibidos de levar comida, água ou remédios, e fontes disseram ao Crux que a situação se torna pior a cada dia.
Apesar do confinamento de Alvarez, uma réplica da imagem de Nossa Senhora de Fátima seria recebida na catedral no domingo. Ela foi enviada no sábado pelo cardeal Brenes, quem encerrou o Congresso Nacional Mariano na catedral de Manágua.
Ele abençoou nove imagens da Virgem que foram distribuídas pelo país.
Uma réplica peregrina da imagem original, feita em Portugal, percorria o país visitando paróquias há um ano e meio.
Nos momentos finais da missa, os fiéis gritaram apoio a Alvarez: “Rolando, nosso amigo, o povo está contigo”.
Na sexta-feira, o governo disse à arquidiocese que a planejada procissão da imagem foi proibida por “razões de segurança interna”.
Durante sua homilia, Brenes disse que a congregação se reuniu “com muita alegria, mas também com muita tristeza” devido “à situação que vivemos em nossas paróquias”.
“Perdoe-os, Senhor, porque eles não sabem o que fazem”, disse Brenes.
Também no sábado, Alvarez celebrou a missa da cúria diocesana e a transmitiu pelo Facebook Live.
“Neste 10º dia de detenção na cúria, queremos rezar especialmente pelas crianças, para que nós, adultos, possamos transmitir-lhes uma sociedade melhor do que aquela que conseguimos construir, onde a paz, a justiça, santidade, e reinar a liberdade”, disse ele.
Alvarez também rezou por uma sociedade “sem exclusão”, que “priorize os pobres” e não seja governada por “vingança e ressentimento, mas por amor e amizade”.
Embora o Papa Francisco e todos os seus assessores mais próximos tenham permanecido calados sobre a situação na Nicarágua – a última vez que o pontífice falou publicamente sobre este país foi em 2019 – o observador permanente da Santa Sé na Organização dos Estados Americanos expressou preocupação durante uma sessão especial do conselho permanente do órgão.
O monsenhor Juan Antonio Cruz pediu “encontrar caminhos de entendimento baseados no respeito recíproco e na confiança, buscando acima de tudo o bem comum e a paz”.
Durante a sessão, 27 países aprovaram uma resolução condenando “o fechamento forçado de organizações não governamentais e o assédio e restrições arbitrárias impostas a organizações religiosas” na Nicarágua. Houve um voto contra e quatro abstenções.
A polícia não permite grandes aglomerações públicas, exceto aquelas patrocinadas pelo governo ou pelo partido governante Frente Sandinista de Libertação Nacional, desde setembro de 2018.
Embora o regime de Ortega sempre tenha tido um aspecto autoritário, as coisas pioraram após enormes protestos de rua em abril de 2018, quando uma revolução liderada por estudantes pediu a queda do regime.
Houve duas tentativas de negociações para resolver a crise, nas quais os bispos católicos participaram a pedido de Ortega, mas fracassaram.
Desde então, o regime de Ortega tratou a Igreja Católica como inimiga do Estado.
Em 2021, depois de prender todos os líderes da oposição, Ortega foi novamente reeleito presidente. Com a consolidação de seu poder, ele se sentiu encorajado a aumentar seu controle sobre as vozes dissidentes, fechando mais de mil organizações não-governamentais. Entre eles, estavam as Missionárias da Caridade, ordem religiosa fundada por Madre Teresa de Calcutá, que foram exiladas do país no início deste ano.
Dezenas de estações de rádio e televisão católicas foram fechadas nos últimos meses, embora algumas tenham desafiado o governo transmitindo pela internet.
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Nicarágua. Regime de Daniel Ortega proíbe que imagem de Nossa Senhora de Fátima seja exposta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU