Não há necessidade de recorrer a alguma teoria da conspiração para compreender que o núcleo de força da Igreja não se comprometeu realmente com o caminho desejado por um papa do qual se desconfia, independentemente das declarações de fidelidade filial em relação a ele. Mesmo que os fiéis que participaram da reflexão tenham feito isso em plena confiança e em geral tenham extraído dela um sentimento de satisfação por terem podido se expressar livremente “sem encobrir as discordâncias com compromissos apressados”.
A análise é do jornalista francês René Poujol, ex-chefe de redação da revista Pèlerin, em artigo publicado em seu sítio pessoal, 13-06-2022. A tradução da versão italiana do texto é de Moisés Sbardelotto.
Nos dias 14 e 15 de junho, os bispos franceses reunidos em Assembleia Geral Extraordinária farão um balanço da fase de consulta aos fiéis desejada pelo Papa Francisco como premissa para o Sínodo sobre a Sinodalidade em meados de 2023. A síntese das contribuições diocesanas publicada pela Conferência Episcopal Francesa não surpreende pela audácia. Somente olhando de perto para outras contribuições (as do “Promesses d’Eglise”, grupo de 50 movimentos e associações, mas também da Conférence Catholique des Baptisé.es Francophones (CCBF) e da Communauté Saint-Merry-hors-les-murs) é que se percebe a amplitude das expectativas e da diversidade das propostas. Só que em Lyon, onde se realizará aquela Assembleia Geral... nem todos foram convidados a “caminhar juntos”.
Com base na síntese publicada pela Conferência Episcopal Francesa [disponível em francês aqui], 150.000 fiéis participaram da fase de consulta desejada pelo Papa Francisco antes do Sínodo sobre a Sinodalidade, que encontrará seu cumprimento “canônico” em meados de 2023, após uma fase de consolidação das contribuições em nível de cada continente, uma etapa altamente simbólica na finalidade pastoral – e estratégica – do Papa Francisco.
O documento divulgado pela Conferência Episcopal Francesa , apesar das suas qualidades, permanece modesto. Há diversas razões para isso, que o próprio texto cita. “Foi necessário superar um ceticismo amplamente compartilhado sobre a capacidade da Igreja de se reformar realmente, de viver a sinodalidade em ações e não apenas em palavras.” E se intui nas entrelinhas que os mais comprometidos com as mudanças na Igreja talvez tenham escolhido se expressar em outros lugares, e não no âmbito das consultas diocesanas. Ou se abster!
“Esta consulta – continua o texto – também encontrou resistências de outra natureza. Em primeiro lugar, a dificuldade em escutar a voz dos mais frágeis; depois a dificuldade em ir ao encontro e mobilizar os jovens e os jovens adultos; o temor em certos católicos de que este processo sirva para impor mudanças a uma Igreja a que estão afeiçoados [1]; enfim, a dificuldade para muitos padres de reconhecerem o interesse deste Sínodo”.
Em suma, não há necessidade de recorrer a alguma teoria da conspiração para compreender que o núcleo de força não se comprometeu realmente com o caminho desejado por um papa do qual se desconfia, independentemente das declarações de fidelidade filial em relação a ele. Assim é! Mesmo que os fiéis que participaram da reflexão tenham feito isso em plena confiança e em geral tenham extraído dela um sentimento de satisfação por terem podido se expressar livremente “sem encobrir as discordâncias com compromissos apressados”.
Encontramos nesse documento as constatações e as preconizações comuns à maioria dos sínodos diocesanos. O que certamente só reforça a sua pertinência e urgência: consciência de uma marginalização dos católicos em relação à sociedade, que não suporta mais as “lições de moral” da Igreja cuja linguagem já não compreender mais, um desejo de maior fraternidade para superar as divisões, necessidade de partilhar a Palavra de Deus em pequenos grupos abertos a todos, pedido de homilias mais próximas da vida das pessoas, respeito à diversidade das sensibilidades litúrgicas, maior espaço oferecido aos mais jovens, reflexão sobre os ministérios levando em conta as necessidades da comunidade, valorização dos carismas de cada um, espaço justo para as mulheres nos órgãos decisórios, maior atenção aos sofrimentos do mundo rural e àqueles que continuam se sentindo excluídos ou marginalizados na Igreja.
Entre as propostas, oferece-se alguma “audácia” moderada em questões como a integração das meninas entre os coroinhas, o pedido do diaconato feminino, o acesso dos leigos à pregação, a eleição de instâncias de contrapoder entre os fiéis nas paróquias e nas dioceses... Tudo isso, especifica-se, sem um prévio julgamento teológico e com o único propósito de abrir um discernimento ulterior. Certos ambientes vão se sentir reconfortados!
Como muitas vezes ocorre, os “movimentos” da Igreja se permitem uma maior liberdade do que a instituição hierárquica. O “Promesses d'Eglise”, que reúne cerca de 50 movimentos e associações de sensibilidades muito diversas, respondeu ao convite dos bispos para redigir a sua própria contribuição. O documento [disponível em francês aqui] que foi publicado no dia 14 de maio assume o objetivo sinodal do modo como foi formulado pelo seu secretário, o cardeal Grech, e pela sua vice-secretária, a Ir. Nathalie Becquart: “Eles nos explicaram – observam os redatores – que o objetivo do Sínodo era se engajar em um caminho que deveria não tanto produzir outros documentos, mas sim inspirar as pessoas a sonhar com a Igreja do terceiro milênio. O essencial estaria na experiência comum a ser vivida”. Por isso, “foi privilegiada a forma do consenso” no seu trabalho, que, de fato, corresponde ao espírito sinodal.
A síntese é apresentada em duas partes: os sonhos – já que eles foram convidados a sonhar – e as propostas. Sobre os sonhos, eles escrevem: “Eles nasceram das irritações diante da crise dos abusos, em particular das violências sexuais, das nossas feridas por parte de uma Igreja que às vezes exclui, dos nossos medos de uma Igreja fechada em si mesma que esquece o mundo, mas também da nossa gratidão pelo que vivemos e dela recebemos, além das mudanças já iniciadas, e pela nossa esperança de que a nossa Igreja ‘renasça do alto’ a fim de dar confiança a todos os batizados para anunciarem por toda a parte a Boa Nova de Cristo morto e ressuscitado por todos”. E citam, sem qualquer ordem hierárquica: desejo de unidade, confiança, fraternidade, abertura ao mundo, às outras Igrejas e religiões, melhor acolhida aos jovens, às mulheres, aos pobres, aos excluídos, partilha das responsabilidades, acesso a cursos de formação comuns a clérigos e leigos...
O “Promesses d’Eglise” formula ainda 13 propostas derivadas de quatro exigências: igual dignidade para homens e mulheres, aceitação da diversidade na Igreja, expressão das discordâncias para mais bem superá-las, escolha da sinodalidade como caminho permanente. E se agradece aos participantes por terem optado por manifestar convergências e divergências da mesma forma. Aqui, a divergência diz respeito em particular à noção de igual dignidade homem-mulher; quando se trata de traduzi-la concretamente em termos de igualdade de direitos, ela diz respeito ao acesso ou não dos leigos à pregação, à adaptação dos ministérios às necessidades da missão (alguns se opõem firmemente a qualquer interrogação sobre o ministério presbiteral) e, por fim, à oportunidade de criar um órgão nacional representativo dos fiéis leigos com votos deliberativos.
Em suma, trata-se de uma ilustração das zonas de fratura existentes no catolicismo francês contemporâneo. E o “Promesses d'Eglises” conclui: “O nosso sonho de uma Igreja fraterna, acolhedora e missionária, de uma Igreja humilde e aberta ao mundo só se encarnará com a condição de caminharmos todos juntos, no respeito pelas nossas diferenças. Continuaremos o nosso caminho no ‘Promesses d’Eglise’ com a esperança de que as promessas que oferecemos à Igreja possam ser fontes de uma dinâmica criativa que contribua para fazer resplandecer a alegria do Evangelho”.
A Conférence Catholique des Baptisé.es Francophones (CCBF) costuma ser vista no cenário eclesial como uma associação independente, rebelde e contestadora. Mas seus militantes se veem mais como um organismo de diálogo exigente com os bispos. No entanto, a sua mobilização em vista do Sínodo alcançou uma certa ressonância. A associação recebeu 650 contribuições, muitas vezes coletivas, elaboradas por cerca de 6.720 participantes provenientes de 52 dioceses francesas.
Ao apresentar no YouTube [vídeo disponível aqui], no dia 11 de junho, uma versão intermediária do seu documento de síntese [2], os responsáveis da CCBF insistiram que ela não exprimia a posição da associação, mas, escrupulosamente comunicada, a opinião daqueles que, nessa consulta, optaram por se dirigir a ela (CCBF) como a um órgão “independente” em relação à instituição eclesial. E alguns disseram que também se expressaram na sua paróquia e/ou no seu movimento de pertença.
No que diz respeito ao documento preparatório enviado pelo Vaticano [disponível em português aqui] e aos 10 temas por ele propostos para a reflexão dos fiéis, a CCBF observa uma hierarquização dos centros de interesse manifestada pelas contribuições. Acima de tudo, os dois temas Ouvir e Tomar a Palavra (18%), depois Autoridade e Participação (13%), finalmente ex equo: Companheiros de Viagem, Celebrar, Corresponsáveis na Missão e Dialogar na Igreja e na Sociedade (10%).
Os participantes manifestam o seu profundo apego à Igreja que lhes deu a conhecer o Evangelho e o seu desejo de lhe devolver o seu poder de conversão individual e coletiva. Depois, reformulam, cada um com suas próprias palavras, os “bloqueios” que, a seu ver, explicam a profunda crise que a Igreja Católica atravessa: moralismo, linguagem incompreensível, tristeza e tédio das celebrações, homilias distantes da vida, abandono dos batizados não alinhados, misoginia, relutância em escutar de verdade, autoritarismo, sacralidade excessiva do padre... Todas lamentações que já são comuns e que levam a “propostas” de reformas correspondentes.
Em relação ao “Promesses d’Eglise”, órgão oficial reconhecido pelo episcopado, cujas “propostas” são o resultado de um delicado compromisso entre sensibilidades diferentes, aqui se trata, antes, de uma convicção comum que se expressa sem filtro nem censura: a Igreja deve se pôr resolutamente à escuta do mundo do qual ela também pode receber riquezas, deve redescobrir a intuição conciliar de “povo de Deus” contra todo enrijecimento institucional e clerical, reabilitar o sacerdócio comum dos batizados, reformar o governo das comunidades dando às mulheres todo o espaço que lhes cabe e estabelecendo contrapoderes para tudo o que não seja de natureza espiritual, mas também: rever as teologias da eucaristia (sobre o seu caráter sacrificial) e do sacerdócio ministerial, examinar os dogmas à luz da cultura contemporânea e abrir as portas para um debate confiante, tanto dentro da instituição quanto nas universidades católicas.
Por fim, mas não menos importante, deve ser lida a contribuição produzida pela comunidade de Saint-Merry-hors-les-murs [disponível em francês aqui]. A sua “expulsão” da Igreja de Saint-Merry, no coração de Paris, por decisão do arcebispo Aupetit, teve por efeito reforçar a sua originalidade nos traços de uma Igreja/comunidade nômade em diáspora, que, para certos teólogos ou sociólogos [3], parece prenunciar uma das faces do catolicismo na França nas próximas décadas.
Cerca de 15 grupos, reunidos em diferentes momentos entre dezembro de 2021 e março de 2022, produziram um documento absolutamente apaixonante. Seduz pela sua qualidade de escrita e pela excepcional riqueza do seu “verbatim” (palavras dos contribuintes); mas também pela inserção de todas as constatações e propostas em uma visão eclesial coerente e estruturada, radicalmente conciliar. Ou seja, conforme ao espírito do Vaticano II, que já convidava a uma sinodalidade permanente, mais do que à sua tradução literal nos diversos textos canônicos e em estruturas mais ou menos fixas. E fizeram isso sem polêmica, mas com gentileza, equilíbrio e garbo.
“Este documento – escrevem os redatores – deve se apresentar como o traço manifesto de uma expectativa muito forte, expressada em relação a uma renovação da nossa Igreja graças ao caminho sinodal, amplamente compartilhado.” O documento está organizado em torno de três desafios essenciais divididos em dez propostas. Entre esses desafios encontramos: um pedido de comunidades eclesiais fraternas capazes de caminhar juntas; a escolha de uma Igreja humilde e dialogante, aberta a uma governança nova de tipo sinodal; enfim, a mobilização de todos a serviço do próximo e de um mundo em devir. O que pressupõe, em termos de propostas: o senso de uma acolhida incondicional, uma ação coletiva – mesmo fora da Igreja – a serviço da justiça social e ecológica, uma aceitação da diversidade e de um direito à experimentação, à abertura de uma forma de consulta dos fiéis, uma separação do temporal e do espiritual na definição das responsabilidades de cada um, uma implementação de instrumentos de avaliação do caminho sinodal, um reconhecimento real do lugar das mulheres e das meninas (que possam ser coroinhas como os meninos), uma exigência comum de formação na compreensão da fé...
Mas também são perceptíveis alguns “pontos de divergência” possíveis, senão até de ruptura com outras sensibilidades. Como por exemplo o pedido de uma Igreja aberta à diversidade e à liberdade; a ideia de repensar os ministérios, o lugar e o status do padre (que alguns aqui imaginam que possa ser um compromisso por tempo limitado); a extensão dos lugares de partilha da Palavra para além das celebrações eucarísticas apenas, a outros tipos de liturgias e – por que não? – eucaristias domésticas...
E pode-se facilmente imaginar o “non possumus” com que algumas destas duas afirmações serão acolhidas: “Não é possível mais fazer com que o futuro da Igreja dependa do número das vocações presbiterais”; ou: “A pastoral desejada pelos participantes não visa tanto à ‘transmissão’ ou à ‘reprodução’, mas sim à ‘aceitação incondicional’, ao ‘ocultamento’ ou ao ‘engendramento’”. Aqui encontramos as bem conhecidas separações que, de fato, dificultam – às vezes impossibilitam – o diálogo entre uns e outros.
Aqui estão algumas reflexões e comentários sugeridos pela leitura dessas quatro sínteses acessíveis a todos. Elas ilustram bem a extrema diversidade da Igreja que está na França, portadora tanto de riquezas potenciais quanto de problemáticas a serem resolvidas. Contanto que levemos todas em consideração.
Nos dias 14 e 15 de junho, a Conferência Episcopal Francesa optou, portanto, por reunir em Lyon uma Assembleia Geral Extraordinária para fazer uma “avaliação de etapa” sobre este procedimento sinodal, abrindo os seus trabalhos a cerca de uma centena de “convidados” das dioceses e do “Promesses d’Eglise”, que, como dissemos, reúne cerca de 50 movimentos e associações católicas entre os mais representativos.
Mas nenhum membro da CCBF ou da Comunidade de Saint-Merry-hors-les-murs foi envolvido. O que é realmente uma pena e merece servir de ilustração dos bloqueios estruturais que até mesmo um processo sinodal parece ser incapaz de mudar.
Em suma, qual era o risco de convidá-los, em relação ao benefício simbólico da abertura e do desejo de comunhão que a sua presença representaria? Assim, as suas contribuições serão levadas em conta no Vaticano, para onde foram enviadas... mas não na França!
Alguns optarão por olhar para essa Assembleia Extraordinária prudentemente “aberta” como um dos “sinais de esperança” de que a nossa Igreja realmente precisa. E eu me alegro com eles que possa haver nisso uma etapa positiva em um longo processo de aprendizagem sobre a sinodalidade. No entanto, se observarmos bem, quase a totalidade das constatações e das propostas coletadas tanto pelas dioceses quanto pelo “Promesses d’Eglise” correspondem em grande parte àquilo que já foi formulado nos sínodos diocesanos há décadas.
E pode-se afirmar sem medo que, em grande maioria, a sua implementação já seria possível desde agora, por iniciativa dos bispos (se eles realmente quisessem), sem esperar o aval de um sínodo da Igreja universal. Como deixar de ver que é isso que alimenta o ceticismo de alguns sobre o que se pode realmente esperar desse evento, do qual a própria Conferência Episcopal Francesa reconhece, como dissemos, o pouco entusiasmo que desperta em muitos padres e em uma parte do mundo católico refratário à pastoral bergogliana?
Os verdadeiros pontos sobre os quais pode haver discussão (semelhantes a certas recomendações da Ciase) e que deveriam ser examinados em uma perspectiva de discernimento são precisamente formulados sobretudo por aquelas mesmas pessoas que não foram convidadas a Lyon... como se não fossem realmente Igreja. Como se o próprio tema do Sínodo: “Comunhão, participação, missão” não lhes dissesse respeito. Como se os bispos se sentissem no dever de escutar apenas aquilo que provém de estruturas colocadas sob a autoridade deles...
O acesso à palavra em Lyon pressupõe, portanto, um discernimento anterior a qualquer discernimento! Como falar de acolhida da diversidade como uma riqueza para a Igreja de amanhã e ser incapaz de vivê-la hoje? A Igreja, tão atenta às “periferias” caras ao Papa Francisco, que ela percebe como lugar da missão ad extra, parece não perceber que ela mesma produz “periferias”, por meio da marginalização de uma parte dos seus fiéis, que ela nem sequer procura mais alcançar, escutar... ou reter!
Certamente, e isto já foi dito, o desafio essencial deste Sínodo sobre a Sinodalidade não é tanto produzir textos de reformas (embora...), mas sim convidar os fiéis a pensarem a própria Igreja em termos de sinodalidade, segundo a intuição profunda do Vaticano II retomada pelo Papa Francisco.
A partir desse ponto de vista, toda síntese apresentada, independentemente da sua origem e da atenção que os órgãos dirigentes da Igreja da França lhe reservem ou não, expressa a vontade de prosseguir nesse caminho. Cabe a cada um continuar seu próprio caminho, com lealdade e coragem. Esperando que um dia a Igreja acabe percebendo e admitindo que todos fazem parte do caminho comum.
Certamente, Paulo tinha razão ao escrever, na sua Primeira Carta aos Coríntios: “É preciso mesmo que haja divisões entre vocês, a fim de que se veja quem dentre vocês resiste a essa prova” (1Cor 11,19).
Haveria muito a dizer ainda sobre a continuação do processo sinodal iniciado pelo Papa Francisco. Em particular no que diz respeito à segunda etapa, continental, que deveria permitir, no início de 2023, discernir se existem problemáticas e soluções comuns às Igrejas de cada continente que possam justificar, amanhã, uma forma de maior autonomia para essas Igrejas, tanto pastoral quanto teológica e doutrinal, para responder melhor aos desafios específicos da missão nas suas culturas específicas. Contanto que, na terceira fase, os Padres sinodais provenientes de todas as partes do mundo aceitem escutar e acolher esse convite do Papa Francisco a ousar a diversidade e a liberdade, no respeito pela unidade e pelo depósito da fé. Para que o Evangelho possa ir ao encontro dos homens e das mulheres deste tempo e para que cada um possa ouvir as maravilhas de Deus sendo proclamadas na sua própria língua.
1. A formulação pode surpreender: como se se assumisse como evidente que o apego desses fiéis à Igreja pressupõe uma forma de imobilismo como garantia da sua autenticidade.
2. Com base apenas na contagem das contribuições recebidas em meados de abril. Uma síntese definitiva será publicada em outubro.
3. Ver a este respeito: Danièle Hervieu-Léger e Jean-Louis Schlegel, Vers l’implosion?, Ed. Seuil, 2022.
A Assembleia Geral Extraordinária, realizada em Lyon nos dias 14 e 15 de junho, na presença dos bispos da França e de cerca de uma centena de enviados provenientes das suas dioceses, culminou com a adoção de um “texto de acompanhamento” [disponível em francês aqui] que será enviado a Roma com a síntese nacional das contribuições.
Esse texto resume aquelas que, para os bispos, parecem ser “áreas prioritárias de trabalho”, incluindo, em particular, “o sofrimento e as expectativas das mulheres”, os debates relacionados ao ministério dos padres e a liturgia como lugar de tensões. Entre as “esperanças”: ver pequenas comunidades se constituindo ao redor da partilha da Palavra, a exigência de considerar a sinodalidade como o “estilo de vida comum da Igreja”, a atenção aos pequenos e a aceitação da diversidade e da complementaridade das missões e dos carismas.
O texto acrescenta: “Devemos também nos perguntar por que certas riquezas espirituais cristãs são ignoradas ou desvalorizadas, por exemplo, a eucaristia como sacrifício de Jesus, os sacramentos, a vida consagrada, o celibato dos padres, o diaconato”.
Isso prova que certas interrogações que não surgiram na síntese “oficial” acabaram sendo ouvidas. Aparentemente não sem dificuldade, já que o relato do jornal La Croix fala de uma “reviravolta espetacular” em relação a uma primeira versão do texto que, pelo que entendemos, não era forte o suficiente e poderia ser visto como uma cópia sem asperezas da síntese nacional.
Talvez, uma chave nos seja oferecida pelas frases referidas na véspera pelo jornal católico, proferidas por um dos convidados, representante da Comunidade do Emmanuel dentro do “Promesses d’Eglise”: “Fiquei impressionado com a grande consonância que encontrei entre o texto da coleta nacional e a contribuição que enviamos com o ‘Promesses d’Eglise’. As nossas grandes temáticas – a acolhida, o lugar das mulheres, a governança etc. – vieram bem à tona, não ouvi uma voz dissonante”. Não ouvir vozes dissonantes como critério de correção do discernimento e da governança da Igreja...
O La Croix intitula a sua reportagem assim: “Em Lyon, bispos escutam a necessidade de reformar a Igreja”. Certamente, era o mínimo que se poderia esperar. Dom Alexandre Joly, que dirigiu esta fase de consulta em nome da Conferência Episcopal Francesa, fez este comentário sobre os seus irmãos bispos: “Este texto os compromete. Caberá a cada um caminhar no ritmo de sua diocese”. A estrada será longa!