13 Mai 2022
"O papel da Igreja não pode mais ser o de preservar ou perpetuar uma forma (histórica) de cristianismo, mas o de comunicar o Evangelho enfrentando o desafio do contexto. Todas as Igrejas são chamadas a encontrar uma resposta (convincente) à questão de como, nas condições atuais, podemos doar a boa nova de Jesus ao mundo, para que habite no coração das pessoas, incidindo significativamente na vida cotidiana", escreve Marco Staffolani, em artigo publicado por Settimana News, 12-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na época atual em que as igrejas estão se esvaziando e as pessoas preferem sentar-se confortavelmente em frente à televisão a sair e "se esforçar" com o encontro real, junto com o Papa Francisco somos obrigados notar que “não estamos mais no cristianismo” generalizado, o que significa que em nossa cultura os valores cristãos são cada vez menos conhecidos e menos praticados pelas pessoas.
Isso nos autoriza a falar da crise do cristianismo? Não exatamente. É mais correto falar do declínio de uma sua forma histórica que, em vez de nos deixar tristes ou angustiados, deveria provocar o repensamento sobre o presente como kairos perene, na medida em que toda crise (se aceita com espírito criativo) promete voltar ao jogo renovando o dom das origens.
Uma reflexão sobre o tema veio de uma mesa redonda realizada no último dia 29 de abril na forma de um webinar para a Pontifícia Universidade Lateranense (PUL) com o título "Praedicate Evangelium: primazia da evangelização e futuro do cristianismo" inspirado na constituição apostólica sobre a cúria romana e seu serviço à Igreja e ao Mundo (promulgada em 19 de março).
Os palestrantes ofereceram uma visão do tema na perspectiva de um "triplo coro", ou seja, de uma voz católica, luterana e ortodoxa, seguindo uma práxis que já começou há alguns anos na universidade do Papa por meio de um percurso de diploma e licenciatura em Teologia Inter-religiosa. Esse percurso de estudos, fiel à exortação de EG 226-228, procura buscar aquela "comunhão nas diferenças" que, mais do que procurar uma união homologante e predeterminada, aponta para a "polifonia" que ocorre quando cada um explicita sua identidade confessional, arriscando, porque não, também eventuais dissonâncias.
A estrear é o prof. Giuseppe Lorizio, professor titular de teologia fundamental da PUL e coordenador do novo caminho interconfessional. Para ele, a nova atenção à evangelização é um ganho na medida em que permite a renovação das estruturas a partir do centro e das exigências do Evangelho.
A mensagem é clara: devemos verificar se prestamos (demasiada) atenção à doutrina em detrimento de uma fé reduzida à instrução "escolástica", e se muitos pensaram que a tarefa de transmitir a fé parasse na lição do catecismo. Há o risco de cristalização, ou seja, de preservar sem colocar em jogo.
A advertência do evangelho "Praedicate Evangelium" é, no entanto, particularmente viva. Precisamos dela justamente na atual conjuntura histórica pela qual estamos passando, em que o mundo é atormentado e dividido por guerras e sujeito a risco ambiental. É difícil encontrar caminhos de paz e implementar uma transição ecológica. A Igreja, com o seu anúncio, pode recordar-nos que a unidade que todos almejamos se funda naquele que deu a sua vida pelo mundo.
Jens-Martin Kruse, valendo-se de seus anos de experiência paroquial (na principal igreja luterana de Hamburgo), continuou o caminho traçado, destacando a grande importância ecumênica dos processos mencionados acima, por não se tratarem de problemáticas confessionais, que dizem respeito, por exemplo, apenas à Igreja Católica Romana, mas de uma situação geral.
O papel da Igreja não pode mais ser o de preservar ou perpetuar uma forma (histórica) de cristianismo, mas o de comunicar o Evangelho enfrentando o desafio do contexto. Todas as Igrejas são chamadas a encontrar uma resposta (convincente) à questão de como, nas condições atuais, podemos doar a boa nova de Jesus ao mundo, para que habite no coração das pessoas, incidindo significativamente na vida cotidiana.
Torna-se central a tarefa da comunicação do Evangelho que, embora tenha uma força própria, requer a mediação do apóstolo e do discípulo. Cada batizado torna-se, portanto, importante porque, segundo o que dizia Lutero, "ainda que Cristo se entregasse por nós e tivesse sido crucificado mil vezes, tudo seria em vão, se a Palavra de Deus não viesse distribuí-lo e doá-lo para mim, dizendo: é para você, pegue-o e guarde-o como seu”. Aqui reside a primazia do evangelho e a importância do testemunho. Formas, estruturas e linguagens são necessárias, mas devem servir ao Evangelho e não o contrário.
O moderador, prof. Hubertus Blaumeiser, professor no caminho interconfessional com o curso "Igreja em estilo sinodal no contexto plural de hoje: da experiência da Christianitas à cultura do encontro e do diálogo", destacou que a evangelização não pode ser uma simples opção, mas faz parte da própria essência do Evangelho, tanto que a Igreja não é chamada a fazer missão, mas a ser missão.
O rev. Alexey Maksimov, presbítero da Igreja Ortodoxa Russa (formado na Universidade Ortodoxa St. Tikhon de Moscou), que realiza seu serviço na igreja dedicada a Santa Catarina de Alexandria, perto do Vaticano, deu amplo espaço à dimensão pessoal que deve preceder a missão. De fato, nenhum discípulo é testemunha credível se não cultiva na oração a sua dimensão interior e espiritual.
Além disso, em nossa sociedade, há desconfiança em relação a palavras que não refletem uma existência coerente, e nem mesmo as obras de caridade comum são mais argumento decisivo para explicitar a fé, pois essas obras são produzidas tanto pelas Igrejas como por humanismo global.
Com que então se poderá pedir, ou mostrar, a passagem para a fé e para o cristianismo? O caminho está na santificação, fundamento da evangelização. Por esta razão, o termo "iluminação" também pode ser usado, lembrando o evangelho e o título do motu proprio do Papa Francisco Vos estis lux mundi de 2019. Além disso, o presbítero ortodoxo, assumindo a frase do Patriarca Alexis II, reiterou que o Evangelho não se conta, mas se mostra com a vida.
No debate, que se seguiu às três apresentações, emergiu que o futuro do cristianismo deverá ser por atração, e o será na medida em que o Espírito Santo for o protagonista da evangelização. E os traços que acompanharão esta nova fase da Igreja serão liberdade dos ídolos comuns que podem afligi-la; laicidade, no sentido de extensão do papel dos leigos, contra o mau clericalismo; unidade dos cristãos que, sem excluir as diferenças confessionais, buscarão cada vez mais uma comunhão baseada no Evangelho e no batismo.
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Primazia da evangelização e futuro do Cristianismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU