23 Março 2022
O Patriarca Ortodoxo de Moscou colocou sua autoridade religiosa a serviço do nacionalismo desenfreado do presidente russo.
O comentário é de Jérôme Chapuis, editor-chefe do jornal La Croix International, 22-03-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Diante da tragédia de Mariupol, a mesma questão tem surgido todos os dias desde que começou a guerra: quem vai parar Vladimir Putin?
Não há pesos e contrapesos – nós cuidamos para não falar salvaguardas – dentro do aparato de governo russo que pudesse parar essa corrida?
Claramente, o chefe do Kremlin é o responsável primeiro por esse conflito, o qual ele planejou e decidiu há muito tempo.
Mas sua solidão é apenas relativa. Em sua luta implacável contra os ucranianos, ele está sendo encorajado por uns poucos homens que querem agradá-lo para então se sustentarem em suas posições.
Olhar a comitiva de Putin é perceber que o plano de invadir a Ucrânia é fruto de uma lenta decadência, de um sistema de governo que se ossificou em torno de poucas ideias rançosas e perfeitamente anacrônicas.
Essa geração, pela qual a primeira parte de suas carreiras veio de um abrupto fim na virada dos anos 1990 com a queda da União Soviética, cultivando nostalgia para a grande russa e justifica sua política agressiva pelas “humilhações” que o Ocidente supostamente inflige nos seus países nas últimas três décadas.
Nessa deriva, o clã tem começado a acreditar em suas próprias mentiras, a ponto de terem cometido sérios erros.
Informado pelos que estão subservientes a eles, Putin tem subestimado o espírito da resistência da jovem nação ucraniana, a qual tem resistido a ele por quase um mês.
E infelizmente ele encontrou um aliado na pessoa do Patriarca Kirill de Moscou. Embora o chefe da Igreja Ortodoxa Russa não é parte do governo, ele sempre gravitou pelo círculo fechado.
E colocando sua autoridade religiosa a serviço do imparável nacionalismo, Kirill tem dado a Putin e seus apoiadores munição ideológica.
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O círculo fechado de Putin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU