Em Roma, Papa Francisco e líderes religiosos rezam pela paz: “Menos armas, mais comida e mais vacinas”

Patriarca Ecumênico Bartolomeu, Papa Francisco e o Grande Imã Al-Tayyeb com as crianças na oração pela paz, no Coliseu, Roma, 07-10-2021. Foto: Paul Haring | CNS

08 Outubro 2021

 

Oração pela paz, organizada pela Comunidade Sant’Egídio, com a presença do Papa e dos grandes líderes das religiões do mundo no Coliseu de Roma, sob o título de “Povos irmãos, terra futura”. Todos eles se comprometeram a lutar pela paz e a converter suas religiões em operadoras da paz. Por um lado, o Papa Francisco, em um vibrante discurso, voltou a reafirmar que “a guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma claudicação vergonhosa, uma derrota frente às forças do mal” e convidou as religiões não apenas a lutar pela paz, mas também se converterem em defensoras dos pobres, para proclamar: “menos armas e mais comida, menos hipocrisia e mais transparência, mais vacinas distribuídas equitativamente e menos fuzis vendidos estupidamente”, porque “com a vida dos povos e das crianças não se pode brincar”.

 

A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 07-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

O Papa, acompanhado pelo Patriarca Bartolomeu, chega a entrada do Coliseu, onde saúda os diretores da Comunidade Sant’Egídio, assim como o Patriarca Karekin dos armênios. Em meio aos dois Patriarcas, o Papa dirige-se ao palco onde se celebra o ato.

E o Papa dá início à oração, acompanhado dos líderes das diversas confissões cristas. Um diácono proclama uma passagem do Evangelho de João: “Eu vos deixo a paz, a minha paz”, seguida de uma breve homilia do Patriarca Karekin II, que agradece pela presença dos líderes religiosos e de Ângela Merkel no ato. “A paz é obra nossa, porém, é, primordialmente, um dom de Deus”, assegura o Katolikós da Armênia.

“É necessário promover uma mentalidade nova de paz em todo homem e toda mulher, para que promovam a paz em suas vidas diárias”, diz o Patriarca. “A paz é uma responsabilidade universal e é construída cotidianamente na consciência e na relação pessoal”, acrescenta.

Após uma pausa para meditação, Bartolomeu proclama: “Peçamos ao Senhor que nossa terra e todas as terras sejam libertadas da guerra e da violência, para que possamos viver em paz”. E se cantou o Kyrie eleison. Seguem outras preces: “Faz-nos tenazes operadores da paz”, “socorre aos prófugos, liberta os sequestrados e cura os doentes, e faz com que os pobres, os prediletos do teu Filho, o sejam também de nós”.


Papa Francisco acolhe refugiada afegão no encontro pela paz "Povos irmãos, terra futura", em Roma

Também se reza “pelos que governam as nações, para que sirvam à reconciliação e busquem o bem de todos, começando pelos mais frágeis”. E todo unidos rezam o Pai Nosso e recebem a bênção do Patriarca Bartolomeu e do Papa Francisco. A oração é concluída com um canto final: “Exulte a terra”.

Terminada a oração cristã, os líderes dirigem-se ao cenário, colocado a alguns metros, para a celebração com as demais religiões do mundo, para simbolizar que todas as religiões são operadoras de paz, na parte exterior do Coliseu.

Entre os participantes estão: Al-Tayyeb, o rabino Pinchas Goldschmidt, líderes do budismo, hunduísmo, assim como o Patriarca Bartolomeu e o Katolikós da Armênia.

 

E as breves intervenções começam.

 

Andrea Riccardi

Andrea Riccardi - Foto: Sant'Egidio

 

Sua Santidade, distinguidos representantes das religiões, autoridades, queridos amigos, crentes de diversas tradições religiosas se reuniram em Roma. Se o encontro promovido por João Paulo II em Assis em 1986 foi um ponto de inflexão, desde então se avançou muito. Para os que estão familiarizados com a história, é surpreendente ver como os crentes, antes distanciados, convergem: sobretudo, agora estão convencidos de que os problemas da humanidade devem ser abordados juntos e de forma global. Quero dar testemunho de que as duras lições da pandemia aumentaram nas religiões a consciência da necessidade de trabalhar juntos, como nunca antes. Senti isso na linguagem e no diálogo destes dias: algo profundo mudou. As religiões sentem que devem avançar juntos rumo ao futuro, porque “o mundo de ontem já não existe”, disse o Patriarca Bartolomeu, um agudo observador de nossos tempos.

Surgiu uma preocupação comum: a paz! Sua Santidade, Santo Padre, deu a voz de alerta: “a guerra não é um fantasma do passado, mas se converteu em uma ameaça constante”. A guerra nunca é solução. O desaparecimento das testemunhas da Segunda Guerra Mundial debilitou a consciência do horror da guerra. As duras relações entre países, a revalorização da força como ferramenta política depredadora para o meio ambiente. Depredadores, centrados em seus próprios interesses, esquecendo que a casa comum da terra também pertence às gerações vindouras. A recente pandemia mostrou como as pessoas estão conectadas e envolvidas em um destino global.

Ante um mundo que deve se renovar, se manifestam visões limitadas e um sentimento generalizado de impotência. Isso gera indiferença. As religiões, por outro lado, recordam-nos que o comportamento de cada pessoa não é irrelevante para sua própria “salvação” e as dos demais e a da Terra.

Sua mensagem é: “Sou responsável” – disse Ray Goldschmidt. As ações individuais e conjuntas manifestam o despertar das energias espirituais, a solidariedade, conscientes de que a espiritualidade e a solidariedade caminham juntas. As religiões manifestam o poder da oração débil. Promovem um movimento renovado de pessoas responsáveis para os demais, capaz de desarmar o clima que nos rodeia de violência, de fazer pequenos e grandes caminhos para a paz. Foi bom ver a contribuição de tantos jovens durantes esses dias, que tomaram a palavra negados pelo silêncio da pandemia e a arrogância dos adultos. Agradeço aos inúmeros voluntários, jovens e adultos, que participaram nestas jornadas, que fizeram nos sentirmos como uma comunidade.

Um mundo de fraternidade e paz é a esperança. Isso ficou bem expresso no Documento de Abu Dhabi, do qual, saúdo um de seus protagonistas, o Grande Imã Ahmed Al-Tayyeb, um homem de grande sabedoria. Vivemos um doloroso tempo pandêmico, que ainda não terminou: vimos a fragilidade de um mundo. Estamos no nascer de um mundo novo, decididos a entesourar a dolorosa lição da história das mulheres e dos homens, decididos a construí-lo com todos, especialmente com os pobres e os jovens.

Depois da intervenção de Riccardi, falou Angela Merkel, a chanceler alemã.

 

Angela Merkel

 

Angela Merkel. Foto: Sant'Egidio

 

Entre outras coisas, diz: “Sem o respeito do outro, não poderemos viver na diversidade e na paz” e “com o diálogo crescem a compreensão e a convivência”. E acrescenta: “não devemos ser espectadores passivos, quando seres humanos sofrem pela guerra e pela violência”, convidando a “conviver pacificamente”.

Merkel defende “a dignidade de todo ser humano” e pelo “espírito da tolerância”, enquanto convida a “estarmos vigilantes ante os perigos da paz”. E conclui dizendo que “é possível construir a paz, ainda que as vezes seja um processo difícil, longo e complicado”.

 

 

 

Depois da intervenção de Angela Merkel, foi a vez do Imã Al-Tayyeb

 

 

 

Imã Al-Tayyeb

 

Al-Tayyeb.
Foto: Sant'Egidio

 

Querido irmão, Papa Francisco

Queridos irmãos, representantes das religiões,

Estimado público,

 

Com a crise climática, a pandemia e o terror que se seguiu para as famílias, seria de se esperar que o mundo se voltasse imediatamente para o céu, invocando misericórdia em resposta às orações das vítimas, alívio aos aflitos, e inclusive recorrendo às empresas farmacêuticas para conseguir a vacina e a cura para esta perigosa doença.

No entanto, as políticas do mundo em relação a esta pandemia não indicam qualquer consciência real no comportamento das pessoas sobre a necessidade de se dirigir a Deus, o Altíssimo, com orações e invocações para enfrentar este perigo perene. De fato, a produção da vacina e o modus operandi de sua distribuição não corresponderam às suas responsabilidades, causando a morte de 5 milhões de vítimas em menos de dois anos. As severas críticas à distribuição privaram continentes inteiros da vacina. As últimas estatísticas mostram que a porcentagem de pessoas vacinadas na África se situa entre 2% e 3%, enquanto que em outros continentes a metade ou inclusive 3/4 da população já obtiveram o direito à vida graças à disponibilidade da vacina.

Caros irmãos: esta crise revelou extrema pobreza ao nível dos deveres de consciência e responsabilidade, e o mundo sofreu uma derrota apesar dos esforços feitos pelas instituições religiosas, seus representantes e dirigentes, para promover uma abordagem colaborativa e troca de bens, priorizando o interesse público sobre o privado.

Portanto, penso que é necessário fazer um novo apelo para lembrar a presença do Deus Altíssimo, a necessidade de se aproximar dele novamente, invocar sua misericórdia, na esperança de deter esta epidemia. Não há alternativa ou meio além da oração e invocações com um coração puro e comportamento correto.

Obrigado!

 

Depois do Imã de Al-Azhar, interveio o presidente da Conferência dos Rabinos da Europa, Pinchas Goldschmidt.

 

 

Pinchas Goldschmidt

Pinchas Goldschmidt. Foto: Sant'Egídio

 

 

“Todos conhecemos a imagem idílica do profeta Isaías, descrevendo o lobo ao lado da ovelha... Uma imagem que contrasta com a realidade atual”, explicaou o rabino Goldschmidt “Durante a pandemia, a paz não é profunda... por isso temos que lutar juntos pela paz, respeitando nossa diversidade” e recordando que o nome de Deus é shalom (paz).

 

 

 

 

 

 

Papa Francisco

Papa Francisco - Foto: Sant'Egidio

 

Queridos irmãos e irmãs!

 

Saúdo e agradeço a todos vós, Líderes de Igrejas, Autoridades políticas e Representantes das grandes religiões mundiais. É bom estarmos aqui juntos, trazendo no coração – e ao coração de Roma – os rostos das pessoas que temos ao nosso cuidado. E sobretudo é importante rezar e partilhar, de forma clara e sincera, as preocupações com o presente e o futuro do nosso mundo. Nestes dias, reuniram-se muitos crentes, mostrando como a oração é aquela força humilde que dá paz e desarma os corações do ódio. Em vários encontros, foi expressa também a convicção de que é preciso mudar as relações entre os povos e as relações dos povos com a terra. Pois aqui hoje, juntos, sonhamos povos irmãos e uma terra futura.

Povos irmãos: dizemo-lo, tendo como cenário o Coliseu. Este anfiteatro, num passado distante, foi lugar de brutais divertimentos de multidões: lutas entre homens ou entre homens e feras. Um espetáculo fratricida, um jogo mortal feito com a vida de muitos. Mas ainda hoje se assiste à violência e à guerra, ao irmão que mata o irmão como se fosse um jogo visto à distância, indiferentes e convencidos de que nunca nos vai tocar a nós.

 

O sofrimento dos outros não nos faz apressar o passo; nem sequer o dos mortos, dos migrantes, das crianças reféns das guerras, privadas duma infância despreocupada a brincar. Mas não se pode brincar com a vida dos povos e das crianças. Não se pode ficar indiferente. Pelo contrário, é preciso criar empatia e reconhecer a humanidade comum a que pertencemos, com as suas canseiras, lutas e fragilidades. É preciso pensar: “Tudo isto me toca! Poderia ter acontecido também aqui, também a mim”.

 

Hoje, na sociedade globalizada que faz espetáculo do sofrimento mas sem o sentir, precisamos de “construir compaixão”: sentir o outro, assumir os seus sofrimentos, reconhecer o seu rosto. Esta é a verdadeira coragem, a coragem da compaixão, que faz ultrapassar o não te rales, o não me diz respeito, o não é da minha competência. Para não deixar que a vida dos povos se reduza a um jogo entre poderosos. Não; a vida dos povos não é uma brincadeira; é um assunto sério e diz respeito a todos; não se pode deixar à mercê dos interesses de alguns ou prisioneira de paixões sectárias e nacionalistas.

É a guerra que brinca com a vida humana. É a violência, é o trágico e sempre prolífico comércio das armas, que muitas vezes se move na sombra, alimentado por subterrâneos rios de dinheiro. Quero reiterar que “a guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal” (Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 261). Devemos deixar de a aceitar com aquele olhar neutral do noticiário e esforçar-nos por vê-la com os olhos dos povos. Há dois anos, em Abu Dhabi, juntamente com um querido irmão aqui presente, o Grande Imã de Al-Azhar, invocamos a fraternidade humana em prol da paz, falando “em nome dos povos que perderam a segurança, a paz e a convivência comum, tornando-se vítimas das destruições, das ruínas e das guerras” (Documento sobre A fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum, 04/II/2019).

 

Como representantes das religiões, somos chamados a não ceder às seduções do poder mundano, mas a fazer-nos voz de quem não têm voz, apoio dos atribulados, defensores dos oprimidos, das vítimas do ódio, descartadas pelos homens na terra, mas preciosas aos olhos d’Aquele que habita nos Céus. Hoje têm medo, porque em demasiadas partes do mundo, em vez de prevalecer o diálogo e a cooperação, ganha força o confronto militar como instrumento decisivo para se impor.

 

Por isso gostaria de renovar aqui a exortação que fiz em Abu Dhabi a propósito da tarefa inadiável que cabe às religiões “neste delicado momento histórico: desmilitarizar o coração do homem” (Discurso no Encontro Inter-religioso, 04/II/2019). É nossa responsabilidade, queridos irmãos e irmãs crentes, ajudar a erradicar dos corações o ódio e condenar toda a forma de violência. Com palavras claras, encorajemos a isto: depor as armas, reduzir as despesas militares para prover às carências humanitárias, converter os instrumentos de morte em instrumentos de vida. Que não sejam palavras vazias, mas pedidos insistentes que elevamos pelo bem dos nossos irmãos, contra a guerra e a morte, em nome d’Aquele que é paz e vida. Menos armas e mais comida, menos hipocrisia e mais transparência, mais vacinas distribuídas equitativamente e menos armas vendidas imprudentemente. Os tempos pedem para nos fazermos voz de tantos crentes, pessoas simples e desarmadas, cansadas da violência, a fim de que quantos detêm a responsabilidade pelo bem comum se empenhem não só a condenar guerras e terrorismo, mas a criar as condições para que não irrompam.

 

Para que os povos sejam irmãos, deve subir incessante ao céu a oração e não pode deixar de ressoar na terra uma palavra: paz. São João Paulo II sonhou um caminho comum dos crentes que partisse daquele acontecimento rumo ao futuro. Queridos amigos, estamos neste caminho, cada um com a própria identidade religiosa, para cultivar a paz em nome de Deus, reconhecendo-nos irmãos. O Papa João Paulo indicou-nos esta tarefa, ao afirmar que “a paz aguarda os seus profetas. (…) A paz espera os seus construtores” (Discurso aos Representantes das Igrejas cristãs, das Comunidades Eclesiais e das Religiões Mundiais congregadas em Assis, 27/X/1986). A alguns pareceu otimismo vazio. Mas, com o passar dos anos, cresceu a partilha e amadureceram histórias de diálogo entre mundos religiosos diferentes, que inspiraram percursos de paz. Este é o verdadeiro caminho. Pode haver quem queira dividir e criar confrontos; nós acreditamos na importância de caminhar juntos pela paz: uns com os outros, nunca mais uns contra os outros.

Irmãos, irmãs, o nosso é um caminho que nos pede constantemente para purificar o coração. Francisco de Assis, ao mesmo tempo que pedia aos seus para verem, nos outros, “irmãos porque criados pelo único Criador”, fazia esta recomendação: “A paz que proclamais com a vossa boca, tende-a ainda mais abundante nos vossos corações” (Legenda dos três companheiros, XIV, 5: Fontes Franciscanas, 1469).

 

A paz não é, primariamente, um acordo a negociar nem um valor de que falar, mas principalmente uma atitude do coração. Nasce da justiça, cresce na fraternidade, vive de gratuidade. Impele-nos a “servir a verdade e declarar, sem medos nem fingimentos, o mal quando é mal, até e especialmente quando é cometido por quem se professa seguidor do nosso próprio credo” (Mensagem aos participantes no G20 Interfaith Forum 2021, 07/IX/2021).

 

Em nome da paz, por favor, desativemos em cada tradição religiosa a tentação fundamentalista, toda e qualquer insinuação a fazer do irmão um inimigo. Enquanto muitos se ocupam com antagonismos, com facções e jogos partidários, nós façamos ressoar aquele dito do Imã Ali: “As pessoas são de dois tipos: ou teus irmãos na fé ou teus semelhantes em humanidade”. Não há outra subdivisão.

 

Povos irmãos, para sonhar a paz. Mas, hoje, o sonho da paz conjuga-se com outro: o sonho da terra futura. É o compromisso de cuidar da criação, da casa comum que deixaremos aos jovens. As religiões, cultivando uma atitude contemplativa e não predatória, são chamadas a ouvir os gemidos da mãe-terra, que sofre violência. O querido irmão, Patriarca Bartolomeu, aqui presente ajudou-nos a maturar a consciência de que “um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus” (Discurso em Santa Bárbara, 08/XI/1997, citado na Carta enc. Laudato si’, 8).

 

Volto a dizer aquilo que a pandemia nos fez ver, ou seja, que não podemos continuar sempre sãos num mundo doente. Nos últimos tempos, muitos adoeceram de esquecimento, esquecimento de Deus e dos irmãos. Isto levou a uma corrida desenfreada à autossuficiência individual, que descarrilou numa ganância insaciável, cujas cicatrizes trá-las a terra que pisamos, enquanto o ar que respiramos está cheio de substâncias tóxicas e pobre de solidariedade. Assim, derramamos sobre a criação a poluição do nosso coração. Neste clima deteriorado, consola pensar que as mesmas preocupações e o mesmo compromisso estejam amadurecendo e tornando-se patrimônio comum de muitas religiões. A oração e a ação podem endireitar o curso da história. Coragem, irmãos e irmãs! Temos diante dos nossos olhos uma visão, que é a mesma de muitos jovens e homens de boa vontade: a terra como casa comum, habitada por povos irmãos. Sim, sonhamos religiões irmãs e povos irmãos! Religiões irmãs, que ajudem povos a ser irmãos em paz, guardiões reconciliados da casa comum que é a criação. Obrigado!

 

Depois das palavras do Papa, foi projetado um vídeo sobre as dores do mundo, leu-se um manifesto pela paz, que foi entregue às crianças, como sinal de paz:

 

Manifesto pela paz


Crianças presenteiam o Patriarca Bartolomeu, Papa Francisco e o Grande Imã Al-Tayyeb. Foto: Paul Haring | CNS

No mundo há muitas guerras abertas, ameaças terroristas, violência grave. O uso da força está sendo reabilitado como instrumento de política internacional. Infelizmente, uma geração que viveu a Segunda Guerra Mundial está desaparecendo, e a lembrança do horror da guerra está se perdendo. Os significativos avanços para uma cultura de paz, que levaram a desenvolver uma visão compartilhada do destino comum da humanidade, estão sendo questionados.

O povo sofre. Sofrem os refugiados da guerra e da crise ambiental, os descartados, os fragilizados, os indefesos. Frequentemente, mulheres ofendidas e humilhadas, crianças sem filhos, idosos abandonados. Os pobres, frequentemente invisíveis, participam hoje de forma especial em nosso encontro: são os primeiros a invocar a paz. Escutá-los nos faz compreender melhor a loucura de todos os conflitos e a violência.

As religiões podem construir a paz e educar para ela. As religiões não podem ser utilizadas para a guerra. Somente a paz é santa, e que ninguém utilize o nome de Deus para abençoar o terror e a violência. Se vês guerras a teu redor, não te resigne! Os povos sonham com a paz. A fraternidade entre religiões avança, apesar das dificuldades. Agradecemos a todos os amigos do diálogo no mundo e lhes dizemos: ânimo! O futuro do mundo depende disto: que nos reconheçamos como irmãos. Os povos têm um destino como irmãos na terra.

O processo de desarmamento, atualmente bloqueado, deve se reativar imediatamente. É necessário acabar com o comércio de armas e seu uso. É necessário avançar no desarmamento nuclear. A proliferação de armas nucleares é uma ameaça incrível. É necessário fazer a paz. A paz consiste em respeitar o planeta, a natureza e as criaturas. A destruição do meio ambiente se deve à arrogância de um ser humano que se sente dono. Um ser mestre se torna em um ser depredador, pronto para dominar e guerrear.

Os povos irmãos e a terra futura estão inextricavelmente unidos. A pandemia mostrou como os seres humanos estão no mesmo barco, unidos por fios profundos. O futuro não pertence ao homem do desperdício e da exploração, que vive para si mesmo e ignora os demais. O futuro é das mulheres e dos homens solidários e dos povos irmãos. Que Deus nos ajude a reconstruir a família humana comum e a respeita a mãe-terra. Ante o Coliseu, símbolo da grandeza, mas também de sofrimento, reafirmemos com a força da fé que o nome de Deus é paz.

 

O vídeo completo da cerimônia pode ser conferido abaixo

 

 

 

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