15 Junho 2021
“Ninguém pode ignorar as consequências de uma vacinação atrasada pela falta de produção e pelo preço do produto; a covid-19 não espera e sua capacidade de evoluir pode levar a uma situação de pandemia crônica. No dia 10 de maio, com a humildade de ser apenas mais uma voz, todos os líderes regionais da Companhia de Jesus no mundo, assinaram a declaração pedindo justiça na distribuição mundial de vacinas”, declara Lucas López Pérez, jesuíta, membro da equipe do presidente Conferência Provinciais Jesuítas da América Latina e Caribe - CPAL, 09-06-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Há mais de dois meses, o Secretariado Social da Companhia de Jesus em Roma nos anunciava a criação de um grupo de trabalho que deveria responder a esta pergunta: “deve a Companhia de Jesus se somar aos que solicitam a suspensão temporal das patentes das vacinas covid-19?” Roberto Jaramillo, s.j., responsável da animação comum das presenças dos jesuítas na América Latina e o Caribe pediu ao animador da ação social dos jesuítas do Peru, Carlos Silva Canessa, e a mim, como membro da equipe, para participar no grupo.
Nossas reuniões, que transcorriam através de um dos mais populares sistemas de videoconferências, uniam pessoas de Roma, Washington, Toronto, Ayacucho, La Palma, Nairóbi, Londres, Berlim. Desde o começo, os ficamos impressionados com dados esmagadores: o progresso desigual no processo de vacinação foi detalhado em cada área. A avaliação de outros suprimentos médicos para combater a pandemia também entrou nas conversas. Notamos que, nestes primeiros meses desde a aprovação das primeiras vacinas, o nacionalismo prevaleceu sobre o que ditam a ética e a lógica.
Desse modo, quando estamos chegando a quatro milhões de pessoas mortas pela covid-19 no mundo, 87% das vacinas administradas tiveram como destino pessoas dos países de rendas mais altas, enquanto que aqueles que figuram nos últimos lugares do ranking do PIB receberam apenas 0,2% das vacinas disponíveis. Muitas vozes somaram volume a este clamor. O Papa Francisco, que está se convertendo em uma referência ética no nosso século, insiste em destacar as desigualdades exacerbadas pela crise de covid-19 e como as nações mais poderosas não fizeram suas partes para que a chegada da vacina respondesse a critérios de necessidade.
Nos últimos dias, testemunhamos uma posição aberta do presidente dos EUA, Joe Biden, para aderir ao pedido feito pela Índia e pela África do Sul na Organização Mundial do Comércio para a suspensão temporária de patentes. Entretanto, notamos com espanto que a União Europeia está relutante. Também sabemos que as letras miúdas de qualquer acordo de suspensão temporária de patentes (e outros insumos necessários para combater a doença) devem compensar os esforços de pesquisa, mas nunca à custa da vida de milhões de pessoas e de uma situação cada vez mais difícil para resgatar. Ninguém pode ignorar as consequências de uma vacinação atrasada pela falta de produção e pelo preço do produto; a covid-19 não espera e sua capacidade de evoluir pode levar a uma situação de pandemia crônica.
No dia 10 de maio, com a humildade de ser apenas mais uma voz, todos os líderes regionais da Companhia de Jesus no mundo, assinaram a declaração pedindo justiça na distribuição mundial de vacinas e concordaram com:
Em nossas lutas internas, ao que parece, tendemos a esquecer que este mundo sempre foi uma pequena aldeia. Ninguém estará seguro até que as vacinas cheguem a todas as sociedades, a todas as pessoas.
Lucas López Pérez, s.j.
Membro da equipe do presidente da Conferência Provinciais Jesuítas da América Latina e Caribe (CPAL)
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Suspender as patentes das vacinas: juntemo-nos ao clamor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU