14 Abril 2021
O simpósio vaticano sobre o sacerdócio em 2022 será uma oportunidade para refletir sobre a “vocação”, pensada acima de tudo em relação ao batismo e aos diversos carismas e ministérios de que a Igreja precisa especificamente.
A opinião é de Andrea Grillo, teólogo italiano e professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em artigo publicado em Come Se Non, 13-04-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com a coletiva de imprensa dessa segunda-feira, foi apresentado o projeto do simpósio que será realizado em fevereiro de 2022, organizado pela Congregação dos Bispos. Quem o apresentou foi o cardeal Marc Ouellet, o Prof. Vincent Siret e a Prof.ª Michelina Tenace.
Os três discursos, que aqui podem ser lidos aqui [em italiano], delineiam o quadro em que se insere o percurso de reflexão e de estudo. Podem-se observar estas características fundamentais:
a) Os três relatores se referem explicitamente à tarefa de uma “reavaliação” do tema do sacerdócio, a ser referido a Cristo, a toda a Igreja e aos ministros ordenados. Essa abordagem, que deriva diretamente do Concílio Vaticano II, constitui um desafio central para a Igreja contemporânea. Daí decorrem as diversas vocações.
b) O simpósio, como tal, só poderá ter um objetivo de estudo. Meditando sobre a tradição, assumindo-a na sua riqueza, deverá elaborar uma “visão fundamental” que saiba remediar pensamentos unilaterais e palavras distorcidas. A linguagem eclesial, a 60 anos do Concílio Vaticano II, continua usando a palavra “sacerdote” de modo impróprio, ou seja, como sinônimo de “padre”. Na coletiva de imprensa, aqui e acolá, também se utilizou essa terminologia, que é ambígua e unilateral. O simpósio poderá ser também uma valiosa “terapia linguística”, não só para os jornalistas.
c) O amplo fôlego dos três dias de trabalho (17 a 19 de fevereiro de 2022) também se situa em uma certa continuidade com a “pergunta sobre o sacerdócio” que surgiu nos últimos Sínodos dos Bispos (Família, Jovens, Amazônia) e deverá abordar também as questões que surgem em torno do sacerdócio no nível ecumênico e em relação à autoridade das mulheres na Igreja.
d) Será uma oportunidade para refletir sobre a “vocação”, pensada acima de tudo em relação ao batismo e aos diversos carismas e ministérios de que a Igreja precisa especificamente. Será dirigido especificamente aos bispos e aos formadores dos seminários, mas também aos teólogos e a todo o povo de Deus.
e) O sacerdócio, recuperado como qualidade da Igreja inteira, pedirá também uma melhor compreensão do “mistério”, que a “participação ativa” da “comunidade sacerdotal” realiza na ação ritual, que tem como sujeitos Cristo, a Igreja, a presidência e os ministérios.
Como em todo simpósio, não se tratará de “resolver problemas”, mas de esclarecer as raízes do sacerdócio e os seus frutos. Proceder-se-á de modo articulado e sinodal, tanto na preparação quanto no desenvolvimento do simpósio.
Talvez sejam precisamente os limites que surgiram nas experiências recentes do caminho eclesial – limites não só práticos, mas também teóricos – que sugeriram esta “reflexão fundamental”. As amplas resistências clericais, a chaga dos abusos, a autorreferencialidade das vidas, a escassez das vocações para o ministério certamente estão no pano de fundo e pedem luz. O simpósio não as ignora, mas aborda as questões trabalhando sobre o fundamento.
A linguagem eclesial demonstra que precisa disso: deve reconsiderar a fundo as formas da mediação eclesial de “Cristo, sacerdote, profeta e rei” para pensá-las com um novo equilíbrio, saindo dos modelos reconfortantes do passado e abrindo-se a novas visões. Um novo paradigma está em jogo aqui.
Enquanto nos encaminhamos por essa estrada com seriedade e responsabilidade, é preciso constatar que se deve “lutar contra as nossas próprias palavras”. Este é um bom sinal: uma Igreja que está disposta a repensar as categorias fundamentais com as quais fala, pensa e age é uma Igreja viva. Como disse Michelina Tenace, a propósito da relação entre o sacerdócio comum dos batizados e o sacerdócio ministerial:
“Esta relação deve ser revista em cada época, porque cada época expressa uma compreensão diferente da relação entre os vários membros de um mesmo corpo, cada época elabora uma eclesiologia atualizada sobre as exigências do testemunho na história.”
Essa “revisão” é uma parte essencial de uma reforma da Igreja. Um novo paradigma está nascendo e precisa de “reflexões fundamentais”. Obviamente, como em todos os simpósios, compor uma “ratio” bem feita é apenas a primeira parte do trabalho. Muito dependerá de quais serão os discursos que darão forma aos temas individuais, de quem os fará, se saberão interpretar a rica tradição e se conseguirão abrir o caminho para novos horizontes.
A receita do prato me parece bem escrita: sobre os ingredientes a serem postos na panela e sobre os cozinheiros que vão cozinhá-los, falaremos no seu devido tempo.
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Sacerdócio e teologia fundamental: por ocasião de um simpósio. Artigo de Andrea Grillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU