26 Março 2021
“De forma ágil e com uma linguagem acessível a todos, o livro de Armando Matteo mostra de modo eficaz o valor, a atualidade e a relevância da teologia em nossa sociedade. O esforço do teólogo da Urbaniana parece dirigir-se sobretudo ao mundo católico italiano, que parece ter de redescobrir a extraordinária importância do investimento para a investigação teológica que, em última análise, se destina ao crescimento integral das comunidades eclesiais que operam no nosso meio”, escreve Rocco Gumina, professor de religião na arquidiocese de Palermo, em artigo publicado por Tuttavia, 07-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na nossa sociedade hiper-tecnológica e projetada para a definição e a solução de tudo, ou quase tudo, parece desaparecer cada vez mais todo dia o espaço para aquela investigação intelectual destinada a abrir ao homem os horizontes de sentido e de significado existencial. Se isso é verdade, ainda é mais quando falamos de teologia. Especialmente no mundo ocidental, o cristianismo não é mais um fator de unificação cultural das comunidades, portanto também os modelos teológicos do passado devem, ou deveriam, dar lugar a uma nova teologia capaz de captar as sensibilidades dos homens e das mulheres de nosso tempo. Quando falamos de teologia, não está em jogo apenas a produção acadêmica propriamente dita, mas, sobretudo, a transmissão da fé às novas gerações que precisam de uma mensagem capaz de compreender as peculiaridades do momento presente para conectá-las ao anúncio evangélico.
Sobre a atualidade e a importância da teologia em nossa época fala Armando Matteo - professor de teologia fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma - em seu último livro intitulado Evviva la teologia. La scienza divina (San Paolo, 2020). Segundo Matteo, no imaginário comum, a teologia é a ciência que serve aos homens da Igreja - presbíteros, leigos ou religiosos - para exercer algum encargo de formação ou de ensinamento de uma forma ou de outra ligado ao mundo eclesial. Na realidade, essa convicção comum se choca com a identidade da própria teologia que, ao invés, coincide com um "discurso sobre Deus, isto é, sobre o maior mistério de todo mistério e, portanto, discurso sobre a possibilidade de Deus ter algo a ‘dizer’ sobre o seu próprio mistério" (p. 7). Portanto, na base de toda pesquisa teológica está a experiência do mistério que todo homem experimentou desde o início da humanidade. Disso deriva o termo Deus com o qual cada cultura, e portanto qualquer experiência religiosa, indicou vários conceitos associados à origem, ao desenvolvimento e ao fim de todo o cosmos.
Nesse cenário, a teologia católica - no seio da reflexão cristã – enraíza-se na perene novidade de Cristo Jesus a ser decifrado, apresentado e anunciado em cada período e contexto da história humana. Trata-se, em primeiro lugar, de entrar "numa relação com aquele ‘jovem judeu’ que, há mais de dois mil anos, teve a pretensão de trazer, ou melhor, de ser uma palavra decisiva sobre o mistério de todo mistério: a propósito de Deus"(p. 33). Então a reflexão teológica é um discurso possível sobre Deus, não tanto a partir do homem, mas da própria revelação divina. Na verdade, o lugar de onde surge toda teologia católica é o corpo vivo do Senhor Jesus, com quem iniciar uma relação que custa esforço, conflito, perplexidade, dom, abertura. Além disso, o cerne da mensagem cristã diz algo de insólito, às vezes desconcertante e revolucionário: não existem no mundo espaços, momentos e ocasiões potencialmente desprovidos do anúncio salvífico; os pobres, os marginalizados, os derrotados da história são colocados no centro de toda atenção e cuidado. Tudo isto encontra a sua manifestação integral no evento da cruz com a qual Jesus oferece a sua vida pela redenção da humanidade ferida pelas chagas do pecado.
Em primeiro lugar, o evento de Cristo faz refletir os discípulos que o conheceram. Da interpretação comum dos fatos e palavras ligadas a Jesus surgem os Evangelhos escritos, segundo o autor do livro, por aqueles que podemos considerar os primeiros teólogos católicos: os autores dos quatro relatos do Evangelho. A mensagem principal dessas narrativas é “fazer com que Jesus seja ouvido mesmo quando não está mais historicamente presente, e fazer Jesus seja ouvido para que o coração do leitor possa ‘arder’ e decidir segui-lo” (p. 61). Os Evangelhos abrem caminho para a teologia que, a partir desse momento inicial, desenvolverá ao longo dos séculos um percurso intelectual e cultural sempre ligado à comunidade dos fiéis. A partir da pesquisa teológica, a Igreja busca estímulo de crescimento tanto da própria fé como da relevância pública do anúncio cristão no mundo.
O caminho da teologia envolve o esforço de aprender as características sociais e culturais que cada geração, e qualquer mudança de época, traz consigo. Assim, na opinião de Matteo, a função da teologia não coincide com a "discussão acadêmica sobre a vida, mas a encarnação da fé na vida" (p. 14). Desta afirmação brota um dos principais propósitos da pesquisa teológica: encontrar na pluralidade das culturas existentes, as melhores palavras, os gestos e os modos de anunciar a verdade e a beleza do evento unido à pessoa de Cristo. Portanto, a teologia “serve para construir pontes entre Jesus e a história sempre em evolução dos homens e das mulheres: para construir pontes entre Jesus e os corações dos homens e das mulheres que se subseguem ao longo dos séculos” (p. 76). Para isso, o teólogo é convidado a interagir com tudo o que diz respeito ao humano, a fim de redescobrir aquelas vias de ligação entre o Evangelho da vida e a história. De fato, de acordo com o autor, o teólogo "vai ler, estudar e aprofundar cada romance e cada ensaio filosófico-sociológico-psicológico e cada filme e cada programa de televisão e cada canção e cada obra de arte [...] e muito mais que pareça prometer-lhe uma ajuda para lançar um olhar sobre o coração de seus contemporâneos”(p. 174).
De forma ágil e com uma linguagem acessível a todos, o livro de Armando Matteo mostra de modo eficaz o valor, a atualidade e a relevância da teologia em nossa sociedade. O esforço do teólogo da Urbaniana parece dirigir-se sobretudo ao mundo católico italiano, que parece ter de redescobrir a extraordinária importância do investimento para a investigação teológica que, em última análise, se destina ao crescimento integral das comunidades eclesiais que operam no nosso meio.
O Prof. Dr. Armando Matteo participará como conferencista do XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição, proferindo a palestra Presença fragmentada. O mal-estar pós-moderno do Cristianismo, no dia 04 de junho de 2021, às 10h, com transmissão ao vivo pelo canal IHU Comunica no Youtube. Em breve, divulgaremos mais informações.
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Encarnar a fé na vida - Resenha do livro “Evviva la teologia” de Armando Matteo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU