19 Fevereiro 2021
Cristãos em todo o Iraque estão aguardando ansiosamente a visita programada do Papa Francisco de 5 a 8 de março ao seu país, a primeira viagem do pontífice ao exterior desde 2019.
Embora os cristãos representem uma pequena minoria da população iraquiana, talvez somando 1 milhão de uma população total de 39 milhões, eles traçam sua linhagem até as primeiras décadas de fé.
Apresentamos aqui trechos de entrevistas recentes com cinco cristãos iraquianos em Bagdá e Erbil, focando suas esperanças para a visita papal. As entrevistas foram editadas em termos de duração e clareza.
A reportagem é de Meethak Al-khatib, publicada por National Catholic Reporter, 18-02-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Nenous Najeeb e Sana Hanna são cristãos siríacos. Em 2005, dois de seus filhos foram mortos quando um grupo armado não identificado invadiu sua casa no bairro de Al'Ma'mun, em Bagdá.
Nenous Najeeb e Sana Hanna dentro de sua casa em Bagdá. Foto: Meethak Al-khatib | NCR
Najeeb e Hanna disseram que sua família enfrenta discriminação devido a sua fé cristã. Najeeb também perdeu parte de uma perna durante a guerra Irã-Iraque de 1980-88.
O que significa para vocês a vinda do papa ao Iraque?
Há muito tempo que esperávamos por esta visita. O Papa deve se encontrar conosco e com outras pessoas que foram discriminadas, para que possa ter uma ideia de nossa situação, para que possa ver quais são as nossas necessidades.
Eu quero contar ao Papa sobre tudo aqui. Quero contar a ele sobre o assédio, a discriminação e tudo o que vivemos.
Eu gostaria que o Papa falasse sobre discriminação quando se reunir com líderes iraquianos. É algo importante para nós. Mas acredito que os líderes iraquianos dirão ao papa que as coisas estão bem para os cristãos aqui e que eles são protegidos pelo governo.
Frei Ramy Simon, 53, faz parte de uma comunidade de frades dominicanos em Bagdá.
Frei dominicano Ramy Simon. Foto: Meethak Al-khatib | NCR
O que significa para você a vinda do Papa ao Iraque?
É um evento enorme e importante porque o Iraque e os cristãos do Iraque estão esperando por esta visita há muitos anos. Dá esperança a todos os iraquianos e especialmente aos cristãos de que as coisas vão melhorar no país, apesar dos grandes desafios que enfrentamos.
Como o Papa é o chefe da Igreja Católica, ele deseja plantar esperança em todos os lugares, e isso por si só trará bem ao país.
Há algo que você espera que o Papa aprenda sobre os iraquianos ou os cristãos iraquianos durante sua visita?
Acho que o Papa já tem muitas informações sobre os cristãos iraquianos. O Papa conhece nossa coragem, a força de nossa fé e o amor pelo país. Talvez o Papa possa ouvir as pessoas sobre o que estão sofrendo pessoalmente e o que o país está passando.
Se você pudesse falar com o Papa, há algo especial que você gostaria de dizer a ele?
Gostaria de expressar minha felicidade por conhecê-lo. E se ele me perguntasse sobre nossa vida aqui e as coisas pelas quais estamos passando, eu falaria com ele sobre a bravura da igreja no Iraque. Também posso falar com ele sobre nosso desejo de unificação dos feriados cristãos aqui, como a Páscoa. É algo muito importante para nós.
Majid Kamel Makdisi faz parte do Mosteiro de São Domingos em Ankawa (perto de Erbil).
Frei dominicano Majid Kamel Makdisi. Foto: Meethak Al-khatib | NCR
O que significa para você a vinda do Papa ao Iraque?
O Papa é alguém que zela por seu rebanho e tem amor por ele. Ele tem compaixão por seu povo ferido. Esse amor fez com que o Papa tomasse a iniciativa de vir aqui e arriscar. Apesar da idade e do estado de saúde, ele quer vir ver como está seu povo.
Ele vem aqui para nos dizer: “Estou com vocês e sou solidário com vocês. Amo vocês, apesar da pandemia e de tudo o mais”.
Com os tempos difíceis em que vivemos, há uma mensagem de solidariedade, fraternidade e amor. Ele vem expressar essa mensagem com sua presença oficial e pessoal. Com isso, ele tenta estar perto de todos. Ele é o Papa dos pobres.
Você tem alguma preocupação com a vinda do Papa enquanto ainda há a ameaça do coronavírus?
Eu tenho medo disso. Também estamos preocupados com a segurança do Papa. Mas esperamos e rezamos para que a visita corra bem. E temos que aprender uma lição com esta visita que estamos feridos e alguém está vindo para nos dizer: “Eu estou com vocês e eu amo vocês”. E o amor é importante, pois nos permitirá ter um futuro melhor.
Shahad Majid, 34 anos, mora em Erbil e trabalha como jornalista para a estação de rádio Ankawa.
O que significa para você a vinda do Papa ao Iraque?
Como cristãos no Iraque, é algo enorme para nós que o papa tenha decidido visitar aqui e que o Iraque seja sua primeira visita desde o início da crise da covid. Achamos que talvez com esta visita, o Papa queira nos mostrar que está pensando em nós.
Desejo que esta visita tenha bons resultados não só para os cristãos, mas também para outras minorias. O Papa está de fato representando os cristãos, mas ele deseja espalhar a mensagem de paz não apenas para os cristãos, mas para todas as religiões e para todo o mundo.
Há algo que você espera que o Papa aprenda sobre os iraquianos ou os cristãos iraquianos durante sua visita?
Desejo que o Papa veja que nós, como cristãos, fomos um dos primeiros a vir aqui, mas agora, infelizmente, estamos sendo tratados como cidadãos de segunda classe no Iraque. Por causa disso, muitos cristãos decidiram deixar o país. Muitos cristãos que ainda estão aqui estão pensando em deixar o Iraque.
Você tem alguma preocupação com a vinda do Papa enquanto ainda há a ameaça do coronavírus?
Minhas preocupações são mais com a situação da segurança do que com a situação da saúde no Iraque. Houve ataques em Bagdá há menos de um mês e ainda não sabemos ao certo quem foi o responsável por eles.
Fomos informados de que os suspeitos foram presos, mas não conhecemos o grupo por trás deles. Minhas preocupações com o Papa são mais com sua segurança do que com nossa saúde.
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Vozes de iraquianos à espera do Papa Francisco – Ele vem dizer: ‘Estou convosco’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU