12 Fevereiro 2021
No dia 7 de março, o Papa Francisco estará em Mosul e Qaraqosh, na planície de Nínive, etapas de sua viagem ao Iraque (5 a 8 de março). Será uma oportunidade de rezar pelas vítimas da guerra e encontrar as comunidades cristãs que sofreram terríveis provações durante a invasão do Estado Islâmico. Da catedral Sírio-Católica da Imaculada Conceição em Qaraqosh, dom Majeed Attalla fala da expectativa do seu povo: "A fé renasce sobre os escombros do ISIS"
A reportagem é de Daniele Rocchi, publicada por Agência SIR, 11-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
As colunas de mármore enegrecidas pelo fogo voltaram a ser brancas e brilhantes, como antes. Os bancos de madeira polida substituíram os restos daqueles queimados. As vestimentas sagradas usadas pelos milicianos do Isis como estopim para os incêndios foram substituídas por outras totalmente novas.
A praça da igreja, transformada em campo de tiro contra as estátuas da Virgem Maria, voltou a receber os fiéis. Não há mais projéteis e balas no chão. A Catedral siro-católica da Imaculada Conceição de Qaraqosh (Bagdeda), na planície de Nínive, a 30 km de Mosul (norte do Iraque), está pronta para receber o Papa Francisco no domingo, 7 de março, uma das etapas mais significativas da jornada do Papa no Iraque.
Mapa do Iraque com Qaraqosh destacada (Foto: Google Maps)
Programa papal. De acordo com o programa oficial da visita, o Papa Francisco chegará de helicóptero, de Mosul, a Qaraqosh, onde se encontrará com a comunidade local na Catedral da Imaculada Conceição e recitará a oração do Angelus. No caminho que vai da pista de pouso à catedral, muitos fiéis são esperados para saudá-lo com placas de boas-vindas. O patriarca siro-católico Ignace Youssef III, entre outros, está presente para acolher e dar as boas-vindas ao Papa.
“Bálsamo sobre as feridas infligidas pelo ISIS”. “Estamos na terra de Abraão, onde a missão começou. A espera é intensa - confessa ao SIR, dom Majeed Attalla, secretário do arcebispo sírio-católico de Mosul, Mons. Youhanna Boutros Moshe - a chegada do Papa é como um bálsamo sobre as feridas ainda abertas infligidas pelas milícias do Estado Islâmico que invadiram a Planície de Nínive, historicamente habitada por cristãos, em 6 de agosto de 2014, obrigando cerca de 120.000 pessoas a fugir em uma noite. Ainda é uma memória vívida. Vivemos dias terríveis e cheios de dor, anos passados em campos de refugiados, em abrigos improvisados, sem nada mais que aquelas poucas coisas que conseguimos levar naquela noite”.
Muitos são os que confiam nas palavras do Papa Francisco para encontrar forças e coragem, porque, afirma Dom Majeed, “não é fácil perder tudo e voltar para começar do zero. Hoje, cerca de 6.000 famílias retornaram a Qaraqosh. Antes da invasão do ISIS, eram o dobro. Este é um motivo para mais sofrimento para nós”.
“O ISIS não só destruiu nossas casas e igrejas, mas também separou e dividiu nossas famílias”.
“Muitos estão abrigados no Canadá, Austrália, EUA, Europa, uma diáspora que vê os pais longe dos filhos, avós separados dos netos. Todos nós vivíamos juntos e não estamos acostumados a ficar separados. Eu mesmo não tenho mais ninguém no Iraque, todos foram embora, pais, irmãs, parentes”.
Contam-se os minutos. Em Qaraqosh e nas aldeias da planície de Nínive, agora “os cristãos contam os minutos que os separam da chegada do Papa. A sua presença - reitera o secretário do arcebispo - retribui tantos sofrimentos e encoraja-nos a confiar em Deus. O Papa Francisco virá para nos confirmar na fé e nos dará forças para seguir em frente”. Essa é a resposta dos cristãos ao ISIS e sua mentalidade extremista ainda difundida no país.
Dom Majeed resume assim: "mesmo que vocês nos tenham expulsado, nos perseguido, mesmo que vocês tenham jogado nossas cruzes no chão, destruído nossas casas e invadido nossas terras, aqui estamos, estamos de volta para recomeçar e dar testemunho da nossa fé”.
Planície de Nínive em destaque (Foto: Google Maps)
Encontro de jovens. Os jovens estão prontos para fazer a sua parte. “No dia 15 de fevereiro, em Qaraqosh, um grande encontro de jovens acontecerá para orar e aprofundar o tema da visita papal 'Vocês são todos irmãos'. São esperados 5 mil jovens. O encontro - explica o sacerdote - é possível porque em nossas regiões não temos infecções por Covid-19. Testemunhos, cantos, catequeses serão o fio condutor do evento. Há algum tempo - acrescenta dom Majeed - recitamos uma oração durante as missas pela visita do Papa e todos os dias há horas dedicadas à adoração”.
“Estamos cientes de que a visita do Papa não se limitará apenas aos dias em que estiver aqui conosco no Iraque, mas continuará porque dará frutos espirituais. Por isso devemos arar o solo da nossa vida, torná-la fértil para os frutos que esta visita vai trazer”.
Qaraqosh, a cidade de maioria cristã do Iraque, quer recomeçar com as palavras do Papa Francisco. A Catedral da Imaculada Conceição voltou a brilhar graças também a muitos benfeitores. Por alguns minutos, o tempo do Angelus, no dia 7 de março, se tornará o coração pulsante da Cristandade.
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Papa no Iraque. Padre Attalla (Qaraqosh): “Sua visita nos recompensa por tanto sofrimento”. No dia 15 de fevereiro encontro com milhares de jovens - Instituto Humanitas Unisinos - IHU