04 Janeiro 2021
A viagem do Papa em março: em estudo um encontro com o líder espiritual xiita Sistani.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por Repubblica, 30-12-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
O grande aiatolá al Sistani, líder espiritual xiita, adversário do Irã e defensor da autonomia dos xiitas iraquianos, poderia se encontrar com o Papa Francisco em Najaf durante a visita deste último ao Iraque, de 5 a 8 de março próximo. A Santa Sé está trabalhando na organização de um encontro que também prevê a assinatura do documento em prol da fraternidade humana para a paz mundial e a convivência comum que o Papa Bergoglio já assinou em 4 de fevereiro do ano passado em Abu Dhabi junto com o grande imã sunita de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb.
Se as diplomacias conseguirem chegar a um acordo, o encontro terá um impacto importante e decisivo a nível internacional na convivência pacífica e no diálogo entre as partes. “Esperamos que a Santa Sé diga algo sobre esta proposta compartilhada com Najaf”, disse ao SIR o Patriarca Caldeu de Bagdá, Cardeal Louis Rapahel Sako. E ainda: “Como se sabe, os xiitas são a maioria no Iraque e o grande aiatolá aqui tem um enorme significado religioso, político e social”.
Al Sistani, de 90 anos, é o líder de uma minoria islâmica que, graças a ele, conseguiu deter a ofensiva jihadista no Iraque, pôr um fim à presença do autodenominado Estado Islâmico em Mosul e concluir a libertação do país do jugo dos homens de Abu Bakr al Baghdadi. Expoente da cúpula da Hawza de Najaf e referência para milhões de fiéis xiitas dentro e fora das terras dos dois rios, al Sistani tem sido um importante apoio do governo de Washington nos últimos anos em suas políticas destinadas a enfraquecer o Irã khomeinista.
O Papa Francisco e a Santa Sé não estão à procura de relações que aumentem as divisões, mas, pelo contrário, trabalham pela paz entre as diferentes filiações religiosas. O Vaticano está ciente de que parte do esforço pela paz e pela reconstrução do Iraque é dificultado pelas tensões entre os Estados Unidos e o Irã. Mas a assinatura que pede a al Sistani é a mesma que foi solicitada ao imã de al Azhar e visa garantir que entre xiitas e sunitas possa finalmente reinar uma paridade de cidadania e que a religião não seja mais um pretexto para alimentar divisões e ódios mútuos.
No passado, Francisco se reuniu com religiosos xiitas iranianos, mas nunca com um líder não sunita do calibre de al Sistani. O mundo islâmico reconhece que o Papa possui um carisma único em conseguir abrir portas que parecem fechadas. Todos o viram em ação na reunião com o líder dos yazidi ou nos apelos em defesa dos uigures na China e dos rohingya em Mianmar. Sako diz: “É um homem simples, que não tem medo de ir direto ao encontro do outro e os muçulmanos admiram muito esses gestos; eles nos dizem que ele é um Papa especial e que deu muitos passos na direção do diálogo”.
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O Papa e a viagem ao Iraque. Rumo ao encontro histórico com o Aiatolá anti Irã - Instituto Humanitas Unisinos - IHU