29 Mai 2020
Enquanto os Estados dos EUA começam a suavizar as ordens de ficar em casa, o Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, disse que as igrejas devem adotar medidas de “bom senso” para proteger os fiéis e a comunidade em geral, como exigir máscaras, praticar o distanciamento social e proibir o canto.
A reportagem é de Michael J. O’Loughlin, publicada por America, 27-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em relação à distribuição da Comunhão, ele disse: “Eu acho que, por enquanto, é preciso evitar isso”.
Em uma entrevista à America no dia 26 de maio, Fauci disse que as igrejas em locais que estão experimentando um declínio sustentado nos casos de coronavírus podem lentamente tomar medidas para reabrir com segurança, seguindo as diretrizes de saúde pública, incluindo as divulgadas na semana passada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Fauci atua na força-tarefa anticoronavírus da Casa Branca.
“Você sempre precisa levar em conta qual é a dinâmica do surto em sua região”, disse Fauci. “Dito isso, quando você está lidando com um surto nacional como agora, você realmente precisa tomar precauções.”
As Igrejas devem “limitar o número de pessoas, para que não haja pessoas nos bancos umas ao lado das outras”, disse. As pessoas reunidas devem “absolutamente” usar máscaras, disse Fauci.
“Se o padre está no altar, distante a 5, 10, 20 metros, eu não acho que seja absolutamente necessário usar máscaras”, disse ele. “Mas as pessoas que estão a menos de um ou dois metros umas da outras realmente precisam usar.”
Além disso, o canto deve ser desencorajado, disse Faucis, porque ele aumenta enormemente a distância alcançada pelos perdigotos, aumentando a possibilidade de propagação da infecção.
“Quando você canta, a quantidade de gotículas e de aerossol que são é realmente, em alguns aspectos, assustadora”, disse ele.
Na semana passada, o presidente Trump exigiu que os governadores classifiquem os locais de culto como serviços essenciais e permitam que eles reabram imediatamente. Mas muitas organizações religiosas, incluindo as dioceses católicas, estão optando por uma abordagem mais lenta, consultando as autoridades de saúde pública antes de reabrirem as suas portas.
Dioceses em Nova York, Illinois, Michigan e outros Estados atingidos fortemente pelo vírus estão no processo de lançar planos e diretrizes que instruem as paróquias a adotar medidas de segurança semelhantes às sugeridas pelas autoridades de saúde pública, incluindo Fauci.
As igrejas continuarão distribuindo a Comunhão, e muitas dioceses exigirão que os ministros da Eucaristia usem máscaras, instruindo-os a usar desinfetante para as mãos. Algumas dioceses estão até permitindo que os católicos continuem recebendo a hóstia na língua, levantando preocupações entre alguns católicos, incluindo a Federação das Comissões Litúrgicas Diocesanas, que afirmou no início deste mês que a prática deveria ser suspensa durante a pandemia.
Questionado se a Comunhão pode ser distribuída com segurança, Fauci disse “não”, especialmente em áreas que ainda estão tentando controlar o vírus. Na semana passada, pesquisadores disseram que, em 24 Estados, especialmente no Sul e no Centro-Oeste, o coronavírus ainda está se espalhando em uma taxa epidêmica.
Fauci expressou preocupação não apenas com o cálice compartilhado de vinho consagrado, mas também com a distribuição das hóstias, e sugeriu esperar até que o surto esteja mais controlado antes de reintroduzir a Comunhão.
“Depende de onde você está”, disse ele. “Se você está em uma região, em uma cidade, em um condado onde há uma quantidade significativa de infecções, eu acho que seria arriscado distribuir a Comunhão. Estou lhe dizendo, como católico, que seria arriscado.”
Ele disse que a interação entre o padre e várias pessoas ao receberem a Comunhão torna a distribuição insegura.
“Por mais que um padre possa lavar as mãos, ele pega a hóstia, coloca-a na mão de alguém, coloca-a na boca de alguém... É esse tipo de interação íntima que você não quer quando está no meio de um surto letal”, disse ele.
Formado em duas instituições de ensino jesuítas, a Regis High School, em Nova York, e o College of the Holy Cross, em Worcester, Massachusetts, Fauci disse que seus pais lhe ensinaram a importância do serviço, lições que foram fortalecidas pelos jesuítas. Em particular, ele disse que a Regis e o Holy Cross o ensinaram a apreciar a importância do “conhecimento, fatos, evidências, busca intelectual e inteligência intelectual”.
Descrevendo-se como católico, Fauci disse que os valores que ele aprendeu com os jesuítas continuam a guiá-lo. “Eu me identifico mais, muito mais, com isso do que com o conceito de Igrejas organizadas, religiões”, disse ele.
Fauci ocupa seu cargo no Instituto Nacional de Saúde desde 1984. Ele disse que algumas lições que ele aprendeu com a resposta do governo ao HIV e à Aids continuam orientando seu trabalho, especialmente a percepção de que é importante ouvir as comunidades que são as mais afetadas pelas crises de saúde pública.
Nos anos 1980 e 1990, disse ele, isso significava ouvir ativistas da comunidade LGBT, pessoas que usavam drogas intravenosas e profissionais do sexo. No meio da crise da Covid-19, disse ele, é claro que as comunidades negras estão sendo mais afetadas.
“A disparidade é impressionante”, disse ele, apontando para os altos níveis de infecção e mortes relacionadas ao coronavírus entre afro-americanos. “O que eu aprendi com o HIV é: dê uma olhada no que está acontecendo na comunidade quando você toma as suas decisões políticas.”
Isso significa que os formuladores de políticas deveriam “concentrar recursos naquelas áreas das nossas cidades e Estados que são altamente representativas das comunidades minoritárias, porque elas são as que sofrem desproporcionalmente mais do que qualquer outra pessoa”, acrescentou.
Com as dioceses de todo o país se preparando para convidar o público para as missas, que, na maioria dos lugares, estão suspensas desde março, os católicos precisam decidir por conta própria quanto risco estão dispostos a correr em relação a ir à igreja.
Fauci disse acreditar que algumas pessoas deveriam continuar evitando situações de aglomeração sempre que possível, incluindo os ritos religiosos. Ele disse que, no curto espaço de tempo desde que o coronavírus foi descoberto, as igrejas demonstraram ser particularmente arriscadas em termos da criação de grupos de contágio.
“Houve situações em vários países em que a fonte dos contágios era um rito na igreja”, disse ele. “Essa é a razão pela qual temos que ter tanto cuidado com isso.”
Como resultado, mesmo que as igrejas estejam abertas, os idosos e aqueles que têm condições médicas subjacentes deveriam considerar o fato de ficar em casa, “porque realmente estão em um alto risco”, disse ele.
“Seria muito trágico que alguém que foi a um local de culto fique doente ou seja infectado, e leve o vírus para casa, para uma pessoa idosa que pode ter uma comorbidade comprometida, e a pessoa fique gravemente doente e venha a morrer”.
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Como manter as igrejas seguras? Use máscaras, não cante e não comungue - Instituto Humanitas Unisinos - IHU