19 Mai 2020
"A escola não significa aprendizado mecânico de noções, não coincide com a digitação de um teclado, com a dependência de mecanismos de busca. Antes de tudo, significa socialidade", afirmam intelectuais italianos que assinam um apelo também liderado pelo filósofo italiano Massimo Cacciari, publicado por La Stampa, 18-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os signatários do apelo Alberto Asor Rosa, Maurizio Bettini, Luciano Canfora, Umberto Curi, Donatella Di Cesare, Roberto Esposito, Nadia Fusini, Sergio Givone, Giancarlo Guarino, Giacomo Marramao, Caterina Resta, Pier Aldo Rovatti, Carlo Sini, Nicla Vassallo, Federico Vercellone.
Embora ainda fragmentadas e não unívocas, as mensagens que nos chegam nesta estreia da fase 2 sobre a escola são mais do que alarmantes. A perspectiva que emerge é a de uma liquidação definitiva e irreversível da escola em sua configuração tradicional, substituída por uma maior generalização e por uma extensão ainda mais disseminada das modalidades de ensino eletrônico. Não se trata apenas de usar tecnologias a distância para transmitir o conteúdo das várias disciplinas, mas de dar vida a uma nova maneira de conceber a escola, muito diferente da tradicional.
Bem, certamente pode ser reconhecido - como tem sido muito discutido nos últimos anos - que a escola italiana precisaria de intervenções direcionadas, colocadas em diferentes níveis, de forma a investir os mesmos modelos da formação e o status epistemológico das várias disciplinas. Uma coisa é colocar em pauta um processo de reforma complexo e articulado, resultado de uma elaboração teórica preventiva e ponderada; outra coisa é achatar o complexo processo da educação sobre a dimensão redutiva da instrução. Seria suficiente atravessar os Alpes para perceber que quase todos os países europeus, na primeira fila, nossos concorrentes em nível econômico, já reabriram (ou estão reabrindo) as escolas, embora permanecendo condições sanitárias semelhantes às italianas. França e Alemanha, Bélgica, Dinamarca e Holanda, Noruega e República Tcheca, Áustria e Suíça, e em parte até o Reino Unido, recomeçaram, embora com prudência e gradualidade, enquanto a Espanha, agora já mais atormentada do que a Itália pelo flagelo do vírus, esteja avaliando realizar pelo menos algumas semanas de aula antes das férias de verão.
Quanto ao próximo ano letivo, ninguém subestima as restrições objetivas que podem persistir até no outono europeu, tornando a tentativa de retornar à normalidade muito arriscada. Mas supor superficialmente a permutabilidade entre as duas modalidades de ensino - presencial ou a distância - significa não ter compreendido a base cultural e civil da escola, provando esquecer uma tradição que já dura mais de dois milênios e meio e que não pode ser lepidamente substituída pelos monitores dos computadores ou pela distribuição de tablets. Provavelmente seja supérfluo lembrar que o termo grego scholé, do qual derivam os termos que nas línguas modernas descrevem a escola, indica originariamente aquela dimensão do tempo que é liberada das necessidades do trabalho servil e, portanto, pode estar empenhada na realização de atividades mais nobres, mais correspondente à dignidade do homem.
Disso resulta que a escola não significa aprendizado mecânico de noções, não coincide com a digitação de um teclado, com a dependência de mecanismos de busca. Antes de tudo, significa socialidade, em sentido horizontal (entre estudantes) e vertical (com os professores), dinâmicas de formação multilaterais, crescimento intelectual e moral, desenvolvimento de uma consciência civil e política. Em suma, algo um pouco mais importante e incisivo do que um corte de cabelo ou um cappuccino.
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A escola é sociabilidade. Não se substitui com um monitor e um tablet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU