16 Mai 2020
Católicos e protestantes marcaram o quinto aniversário da encíclica sobre o meio ambiente escrita pelo Papa Francisco, Laudato Si’, com a mensagem de que, embora o coronavírus não tenha relação direta com as mudanças climáticas, para as pessoas de fé o principal na superação destes dois desafios está na priorização do bem comum.
Nesta quarta-feira, 13 de maio, Dom Gregory Parkes, da Diocese de São Petersburgo, na Flórida, propôs um diálogo on-line entre lideranças católicas e evangélicas sobre as respostas pró-vida ao coronavírus, sobre outros surtos (atuais e futuros) de doenças e sobre as mudanças climáticas. No diálogo, Parkes disse aos convidados que “não estamos sós nesta situação, mas nos unimos em seus efeitos”.
A reportagem é de Christopher White, publicada por Crux, 14-05-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O bispo citou a carta pastoral do papa de 2015, onde este diz que a maioria das pessoas no planeta Terra são pessoas de fé e devem dialogar em conjunto para proteger a natureza. Nesse sentido, disse ele, tanto o coronavírus quanto as mudanças climáticas exigem que as pessoas de fé se unam, sejam mais compassivas e mais caridosas.
Sabrina Burton Schultz, diretora do Ministério da Vida, Justiça e Ajuda, da Diocese de São Petersburgo, reiterou as observações de Parkes referenciando uma pesquisa recente do Ipsos [instituto americano de estudos de mercado] que constatou que 60% dos americanos acreditam que as mudanças no clima serão uma ameaça tão séria quanto a Covid-19.
Em particular, ela observou que a poluição do ar exacerba as doenças respiratórias e eleva drasticamente as taxas de mortalidade da Covid-19, acrescentando que essa é uma área na qual os líderes religiosos podem trabalhar juntos no curto e longo prazo.
Sandra Gompf, professora de doenças infecciosas na Faculdade de Medicina da Universidade do Sul da Flórida, em Tampa, citou uma série de estatísticas para mostrar um aumento da devastação ecológica, desde o aumento da temperatura que altera o habitat de insetos que são vetores de doenças humanas até o aumento da perturbação dos padrões climáticos, gerando mais furacões. A professora alertou que estes não são problemas apenas enfrentados por outros países, mas que são temas locais e que estão sendo ignorados nos EUA.
O Rev. Mitchell Hescox, presidente e CEO da Rede Ambiental Evangélica, lembrou os participantes do encontro on-line que “o cuidado da criação é uma questão de vida”.
“Tudo o que colocamos na criação de Deus que não deveria estar aí”, disse Hescox, “volta e impacta a vida humana”.
Segundo ele, aproximadamente 200 mil pessoas morrem a cada ano de poluição do ar proveniente de combustíveis fósseis, acrescentando que temperaturas mais quentes e mais poluição atmosférica significam que “as coisas estão piorando – e não melhorando – e que precisamos agir agora para superar”.
Mesmo assim, segundo Hescox, “não devemos nos sentir desamparados”, lembrando que ficou feliz ao ver muitos católicos instalarem painéis solares em seus ambientes.
“Não é apenas uma ótima forma de economizar dinheiro”, disse, “mas é uma ótima maneira de limpar o ar”, ao mesmo tempo que incentiva as dioceses do país a promoverem a jardinagem comunitária.
Joel Hunter, pastor da Northland Church e membro fundador da Iniciativa Evangélica do Clima, disse que o atual coronavírus é uma recordação grave dos desafios enfrentados hoje, quando somos forçados a considerar “o que acontece quando a nossa própria respiração se torna uma fonte infecciosa de poluição”.
Segundo advertiu o pastor, tanto esta pandemia quanto a crise climática em geral são um problema “grande demais para um grupo religioso sozinho resolver”.
Apesar de evangélico, Hunter disse que o Papa Francisco tem sido uma voz importante de solidariedade e cooperação, acrescentando que “a doutrina social da Igreja Católica é absolutamente maravilhosa teologicamente” e que ajuda todas as pessoas de fé a cooperarem no cumprimento do mandato original de Deus de cuidado da criação.
Da mesma forma, o Pe. George Corrigan, pastor da Igreja Católica do Sagrado Coração, em Tampa, contou aos participantes que o ensino social católico ajuda a alcançar um equilíbrio entre a pessoa humana e a comunidade ao seu redor.
Corrigan disse que se olharmos para os surtos de doenças recentes, seja na epidemia de febre amarela, seja a gripe espanhola ou a Covid-19, nenhuma teve uma vacina imediata.
“A única vacina, ou anticorpo, foi a solidariedade”, disse ele, lembrando que é disso que as pessoas de fé devem se lembrar hoje.
Corrigan pediu aos participantes do diálogo on-line que considerem a questão de que “o que fazemos afeta o florescimento humano em todos os níveis. Enquanto fazemos as nossas escolhas, estamos verdadeiramente observando o que impacta o bem comum?”, perguntou Corrigan.
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No aniversário da Laudato Si’, católicos e protestantes refletem sobre o bem comum - Instituto Humanitas Unisinos - IHU