15 Abril 2020
"Dietrich Bonhoeffer nos lembra que a comunhão entre todos os que amam a Cristo só pode crescer e se aprofundar a partir de Cristo: É somente através de Jesus Cristo que somos irmãos um do outro. Sou irmão do outro como consequência do que Jesus Cristo fez por mim e em mim; o outro se tornou um irmão para mim por causa do que Jesus Cristo fez por ele e nele", escreve Irmão Alois, prior da Comunidade de Taizé, em artigo publicado por L'Osservatore Romano, 11-04-2020. A tradução é de Tradução de Luisa Rabolini.
Por ocasião do 75º aniversário da morte do pastor luterano alemão e teólogo Dietrich Bonhoeffer, que ocorreu em 9 de abril de 1945 no campo de concentração de Flossenbürg, o prior de Taizé escreveu uma reflexão para a editora alemã Präsenz Medien & Verlag. Publicamos nossa tradução do artigo intitulado "O Cristo da comunhão", publicado em francês no site da comunidade ecumênica.
Dietrich Bonhoeffer nos lembra que a comunhão entre todos os que amam a Cristo só pode crescer e se aprofundar a partir de Cristo: “É somente através de Jesus Cristo que somos irmãos um do outro. Sou irmão do outro como consequência do que Jesus Cristo fez por mim e em mim; o outro se tornou um irmão para mim por causa do que Jesus Cristo fez por ele e nele. O fato de sermos irmãos somente através de Jesus Cristo é de uma importância incalculável [...] É somente através de Cristo que pertencemos um ao outro, mas através de Cristo nosso pertencimento mútuo é real, integral e por toda a eternidade.” (La vida comunitaria, Genebra, Labor et Fides, 2007, p. 29-30).
Com demasiada frequência, o ponto de partida para a busca da unidade tem sido a análise das divisões. Talvez isso seja necessário em um estágio preliminar. No entanto, como Bonhoeffer disse, o ponto de partida deve ser Cristo, ele, que não é divisão. Sim, o Cristo ressuscitado reúne em uma única comunidade homens e mulheres de todas as origens sociais, idiomas e culturas, e até de nações inimigas.
O irmão Roger, fundador de Taizé, amava esta expressão que também citava em algumas orações: o "Cristo da comunhão". Essa palavra está muito próxima do pensamento do teólogo berlinense que cunhou a expressão "o Cristo existente como comunidade" e também escrevia que "por meio de Cristo a humanidade é verdadeiramente reintegrada na comunhão em Deus" (Sanctorum communio, 1927). Para Bonhoeffer, essa não é apenas uma ideia teórica, mas um convite para colocar em prática uma vida comunitária, como a havia vivido com os jovens candidatos ao ministério pastoral no seminário de Finkenwalde entre 1935 e 1937.
Outro ponto essencial sobre o que nos sentimos muito próximos é o vínculo existente entre fé e engajamento pelos outros, entre o amor de Deus e o amor ao próximo. Sim, a vida em Cristo só pode ser a solidariedade com o mundo (cf. David Jensen, Religionless christianity and vulnerable discipleship. The interfaith promise of Bonhoeffer’s theology). "A Igreja é Igreja somente quando existe para os outros" (Widerstand und Ergebung, Dbw Band 8, p. 560). Uma solidariedade que leva Dietrich Bonhoeffer, após algumas semanas de exílio aos Estados Unidos, a retornar à Alemanha, como ele explica em uma carta comovente escrita em julho de 1939: “Não terei o direito de participar da reconstrução da vida cristã na Alemanha depois da guerra se não compartilhar as provações desta época com meu povo" (Carta a Reinhold Niebuhr, em julho de 1939, em A testament of freedom. The essential writings of Dietrich Bonhoeffer). Neste 75º. aniversário da morte de Dietrich Bonhoeffer, o testemunho de sua vida de doação permanece de uma profunda atualidade.
Ele conheceu a dúvida. Referindo-se ao grito de Jesus na cruz, observou: "O Deus que está conosco é quem nos abandona" (Widerstand und Ergebung, Dbw Band 8, p. 534). Nas horas mais sombrias do século XX, ele manteve sua fé até o martírio. Apenas alguns meses antes de sua morte, ele escreveu, em sua prisão, um texto (ibidem, p. 204), do qual cantamos algumas palavras em Taizé, com os milhares de jovens visitantes que se juntam a nós na oração comum:
"Deus, recolhe meus pensamentos junto a ti / Junto a ti a luz, tu não me esqueces / Junto a ti a ajuda, Junto a ti a paciência / Não entendo teus caminhos, mas tu conheces o caminho para mim”.
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O Cristo da comunhão. Lembrança do pastor Dietrich Bonhoeffer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU