Novas palavras para explicar o poder da ressurreição

Foto: Pixabay

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

02 Novembro 2017

A Diocese de Pinerolo tem o seu novo bispo. Derio Olivero, 56 anos, foi empossado em 18 de outubro, uma semana após a ordenação recebida em Fossano, onde há vários anos era vigário geral.

A entrevista é de Alberto Corsani, publicada por Riforma, 01-11-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

Marcamos um encontro alguns dias mais tarde, para conversar com ele, professor de teologia pastoral e autor de várias publicações, sobre quais seriam as dificuldades das Igrejas (todas) ao interpelar a sociedade e cultura atuais.

Eis a entrevista.

Nos impressos das duas cerimônias (ordenação e posse), o senhor mandou reproduzir duas frases de Dietrich Bonhoeffer: por quê?

A Igreja Católica teve uma grande história, de 1500 ao Concílio Vaticano II, que se baseava em uma forte instituição, em uma sã doutrina e uma moralidade rígida, mas o mundo mudou e hoje a doutrina per si só tornou-se muda, vazia, abstrata: precisamos de existência que fale, o testemunho fala mais do que a doutrina. A reflexão é fundamental, mas, enquanto a teologia progrediu, a doutrina católica permaneceu muito "catequística" e, portanto, formal e abstrata. Precisamos sair desse formal e abstrato, e um caminho é o do testemunho, do qual é exemplo o Papa Francisco. Isso não significa negar a doutrina, mas estancar na doutrina e na lei moral significa dividir os seres entre os que estão dentro e os que estão fora, e hoje não é o momento de dividir. Uma das questões mais sérias é redescobrir o valor antropológico da fé: não temos mais palavras para dizer qual poder vital tem o Cristianismo, quais palavras concretas tem em relação à vida. Para expressar o significado antropológico da fé não basta dizer, como uma fórmula, Jesus te salvou, Jesus ressuscitou; é preciso saber explicar o poder da ressurreição.

Porque o mundo ao qual as Igrejas se dirigem é tão indiferente?

O filósofo Charles Taylor [Uma era secular. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2010] descreve o homem que no passado era "poroso" e hoje está "blindado", dotado de um escudo que lhe impede qualquer saída de si e abertura ao transcendente; para ele existe apenas o humano, que pode ser medido, pesado e visto; não existe nada mais. Nesse contexto, continuar a falar de Deus como estamos acostumados é o mesmo que falar fórmulas mágicas. Então, como conseguir chegar mais perto? O outro aspecto que deve ser considerado é que não há mais desejo: estamos repletos de necessidades, mas desprovidos de desejos - como afirma o psicanalista Massimo Recalcati, na esteira de Lacan -: desejar é esperar por algo que nunca terás (ou nunca totalmente); concebemo-nos hoje como um poço sem fundo para ser preenchido, isso é a necessidade, mas o homem é abertura a algo maior do que si a ser perseguido e que talvez jamais seja alcançado plenamente, uma tensão .....

A tradução e o estudo da Bíblia aproximam os cristãos das diferentes denominações; mais difícil parece o diálogo sobre a visão da antropologia e da natureza: ainda é assim?

Certamente existe um maior pessimismo antropológico no campo protestante e certo otimismo no lado católico, e essa distinção fundamenta-se na estrutura de cada uma das duas famílias confessionais. Porém poderia haver uma maior proximidade raciocinando sobre a importância da categoria da história: a história não é um acidente do ser, mas é o evento do ser. Ao descrever o ser humano na sua história, justamente ali devemos compreender o que é o humano em sua fenomenologia, e isso poderia nos unir, independentemente das diferentes impostações estruturais.

De fato, Deus escolheu um povo para situar na história a sua relação com a humanidade ...

Claro, e o fato que depois um homem, Jesus Cristo, represente o universal trazendo consigo a divindade do Pai, é uma boa maneira de dizer que em cada evento histórico acontece a verdade: o evento histórico não é um detalhe e a verdade de cada um de nós não é um conceito abstrato, acontece na realidade histórica. Também a Igreja não deve ser lida apenas como instituição social, mas como uma instituição que tem como função manter viva a abertura do humano. O homem não vive somente de pão, como explica o Evangelho; mas ao contrário nós, católicos, por muitas razões temos dificuldade em sermos os pioneiros da abertura do humano, envolvidos demais pela organização e pela catequética, e nem sempre conseguimos ser pacientes cultores da abertura que existe em cada homem, para que o desejo de infinito não nos abandone. Dever-se-ia também redescobrir o sentido do rito, hoje em crise: porque hoje importa aquilo que é útil e quantificável, eficiente. No rito não se faz nada e esse é o seu valor, é o momento em que você não faz nada e você não aprende nada; você apenas fica, gratuitamente, e pode estar criando um espaço para a presença de Deus. Caso contrário Deus torna-se uma ideia.

Leia mais