15 Abril 2020
O pináculo caído da Notre-Dame de Paris será restaurado, assim como seu serviço aos pobres.
A reportagem é de Isabelle de Gaulmyn, publicada em La Croix International, 14-04-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma catedral quebrada para um país confinado. A agora truncada silhueta de Notre-Dame ergue-se no silencioso céu de Paris. Não há nenhum sino para tocar a vitória, nem procissão fúnebre para os mortos.
Não haverá nenhuma missa lá para implorar a Deus que pare o coronavírus. Não haverá nenhuma celebração do fim da pandemia. Notre-Dame é como todas as igrejas hoje, fechadas e reduzidas ao silêncio. Abandonada ao vazio de uma cidade em confinamento.
É o mesmo para toda a Igreja Católica, também confinada. Ela não pode nem celebrar nem se reunir. Apenas enterrar, e enterrar de novo. Assim como a catedral de Paris e o seu pináculo caído, ela tem que fazer “sem” e encontrar outro caminho.
Mas ainda precisamos de um pináculo em cima de uma catedral? Ainda precisamos de uma palavra dos púlpitos das igrejas? Pois, à sombra da Notre-Dame eviscerada, homens e mulheres da Igreja continuam vivendo sua fé em silêncio.
Padres e leigos, religiosos e religiosas, e simples fiéis se prontificaram para distribuir refeições, ajudar os idosos, encontrar soluções para abrigar os sem-teto, hospedar os enfermeiros e enfermeiras, e ajudar os cuidadores em casas de saúde.
A rede católica de obras de caridade de Paris e de toda a França mostrou, mais uma vez, sua capacidade de se mobilizar rapidamente e de trabalhar com todas as pessoas de boa vontade no país.
Durante a Semana Santa, não havia ramos de palmeiras a serem abençoados ou Vias Sacras nas ruas. Mas, para os voluntários que se comprometeram a trabalhar ao lado dos que ficaram para trás pela crise, todos os dias são Quinta-Feira Santa – o dia do lava-pés.
Não há homilias nas igrejas, mas sim textos enviados nas redes sociais, leituras em silêncio, palavras que nunca soaram melhor. E, acima de tudo, há lágrimas que devem ser enxugadas ou deixadas escorrer. Nunca estivemos todos tão vulneráveis, e, diante dessa fragilidade, não há nenhum pináculo. Somente o Evangelho permanece...
A pandemia está desfazendo as nossas certezas, forçando-nos a ir mais fundo. Isso nos lembra de que a catedral só será realmente uma catedral se voltar a sua atenção para os mais pobres, para todos os Quasímodos do nosso tempo.
Na praça em frente à Notre-Dame, o povo da Idade Média construiu uma estrutura apropriadamente chamada de Hôtel-Dieu (literalmente, “albergue de Deus”) para cuidar dos pobres doentes. Acredita-se que seja o hospital mais antigo do mundo ainda em operação.
Existe um projeto em andamento para transformar parte desse hospital em um centro de luxo. Mas o que seria de uma catedral sem um hospital? O que será este novo Hôtel-Dieu a ser construído para os católicos?
Um dia, certamente haverá um pináculo no topo da catedral mais uma vez. Não importa o quão alto ou magnífico...
Só podemos esperar que, na porta da catedral, os excluídos da nossa sociedade ainda consigam encontrar algum conforto.
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O que seria de uma catedral sem um hospital? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU