18 Fevereiro 2020
"A frieza dos números não esconde a desfiliação para todas as religiões. As igrejas teriam um interesse vital em descobrir com pesquisas mais aprofundadas o que afasta seus fiéis. Na Suíça, a relação entre o número de fiéis e os recursos financeiros dos cultos deveria ser uma poderosa motivação para olhar de frente a realidade", escreve Jacques Neirynck, professor honorário da École Polytechnique Fédérale de Lausanne e ex-conselheiro nacional do Partido Democrata Cristão, da Suíça, em artigo publicado por Baptises, 06-02-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os números mostram que todas as religiões estão passando por uma crescente desfiliação. Que conclusões tirar disso?
Qual é a situação de adesão às Igrejas? Pesquisas sobre as porcentagens da prática dominical na França são apenas aproximações tendendo a indicar em 4,5%a taxa de pessoas que participam da missa, em comparação com 64% das pessoas que se declaram católicas.
Na Suíça, onde estamos longe do conceito de laicidade, temos estatísticas religiosas mais precisas, uma vez que alguns cantões financiam as igrejas na proporção do número de afiliadas e, uma vez que estes pagam uma contribuição adicional com seus impostos. Declarar-se fiel a uma confissão implica, portanto, uma despesa voluntária. Se os crentes acreditam que a contribuição de sua Igreja não compensa seus pagamentos, eles saem: essa contabilidade bastante pragmática é mais evidente do que as estatísticas da frequência dominical. O jogo vale a pena?
Entre 2010 e 2018, a parcela de católicos na população suíça diminuiu 3 pontos e agora é de 36,5%. A dos evangélicos reformados diminuiu mais ainda, 5 pontos, o que os leva a uma taxa de 24,4%. Ao contrário, o número de muçulmanos aumentou um ponto, elevando-o para 5,2%, situação devido à imigração e não a conversões. A parte das comunidades judaicas não mudou. Mas aquela de pessoas sem afiliação religiosa, ateus e agnósticos, avançou oito pontos, para 25%. Simplificando, 1/3 de católicos, 1/4 de protestantes e, principalmente, 1/4 de sem religião em forte crescimento, mais numerosos que os reformados.
As saídas das igrejas relacionadas a contextos particulares se somam à erosão da base dos membros.
Ocorrem quando uma tendência latente se transforma em uma passagem para o ato, em particular devido ao efeito de escândalos, por exemplo, os abusos de poder ou tomadas de posição incompreensíveis, em particular no campo da moral sexual. Em tais situações, cada Igreja é submetida a forte pressão devido ao impacto negativo exercido pela imprensa.
O número de saídas da Igreja católica na Suíça, que foi de 20.014 em 2017, aumentou um quarto em 2018, chegando a 25.366. Esse aumento brutal é uma resposta às informações sobre abusos sexuais e espirituais cometidos dentro da própria Igreja no mundo e à inércia eclesiástica a esse respeito: dissimulação, fingimento de desconhecimento, falta de transparência. A Igreja Reformada na Suíça também teve um aumento (menos alto que os católicos) no número de saídas em 2018 em comparação com 2017, ou seja, um aumento de 10% atingindo 21.751 saídas.
Em relação a 2013, o casamento religioso católico diminuiu cerca de 20% em 2018. No último ano, do número total de casamentos civis concluídos na Suíça, onde pelo menos um dos cônjuges era de confissão católica, a proporção das uniões celebradas na Igreja atingia 22%. Se os dois cônjuges eram católicos, a probabilidade de um casamento na igreja aumentava para 36%. O casamento religioso não é mais considerado óbvio para os católicos, especialmente porque implica graves complicações eclesiais no caso de um divórcio civil.
O número de batismos católicos entre 2013 e 2018 diminuiu 11%. Em 2018, foram celebrados 18.568 batismos católicos. Este número representa cerca de 21% do número de nascimentos registrados na Suíça. A proporção de 21% das crianças batizadas na Igreja Católica é sensivelmente menor que o percentual dos católicos na população suíça (36,5% em 2017).
Modelos e estimativas aproximadas permitem avançar a tese segundo a qual não há mais transmissão aos filhos de afiliação à Igreja, em uma porcentagem de 20% a 50% dos casos. A Igreja Protestante também está passando por uma situação semelhante. Em 2018, sua taxa de batismo foi de 13% dos nascimentos registrados na Suíça durante o ano, enquanto o percentual dos reformados na população atinge 24,4%.
Ao lado do pertencimento declarado a uma confissão e à participação em seu financiamento, existe a realidade da prática. Os muçulmanos são aqueles que praticam sua fé de maneira mais passiva. Depois dos não religiosos, são as comunidades islâmicas que contam com o maior número de pessoas que declararam nunca ter participado de um serviço religioso durante os doze meses anteriores ao levantamento.
A proporção de pessoas que nunca rezaram durante o mesmo período de doze meses também é maior entre muçulmanos (40%) do que entre protestantes (33%) e católicos (25%).
As mulheres não são apenas mais religiosas, também são mais supersticiosas que os homens, revela a pesquisa: 58% das mulheres acreditam em anjos e seres sobrenaturais, aproximadamente o mesmo número confia em curandeiros e videntes. Entre os homens, esse número é inferior a 20%.
No geral, a religiosidade está em declínio na Suíça, mas às vezes encontra um valor muito pessoal: mais da metade das pessoas questionadas afirma que a religião desempenha um papel importante nos momentos de problemas emocionais ou de doenças. Quase 50% das pessoas também dizem que fazem referência à religião em suas relações com a natureza e o meio ambiente e na educação de seus filhos. A vida espiritual enfraqueceu menos do que pode sugerir a adesão a uma religião: existe uma forma de espiritualidade laica.
A frieza dos números não esconde a desfiliação para todas as religiões. As igrejas teriam um interesse vital em descobrir com pesquisas mais aprofundadas o que afasta seus fiéis. Na Suíça, a relação entre o número de fiéis e os recursos financeiros dos cultos deveria ser uma poderosa motivação para olhar de frente a realidade.
A impressão dominante é a passagem de uma participação das atividades eclesiais tradicionais, sociais e paroquiais, para uma espiritualidade individual, fora do pertencimento confessional. Em suma, as igrejas teriam talvez desempenhado seu papel secular até desaparecer diante da realidade de uma sociedade civil que adotou sua mensagem em matéria de respeito pelos mais fracos, pelos mais pobres, pelos doentes e pelos "próximos"?
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Estatísticas religiosas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU