18 Dezembro 2019
Confira a lista com os principais acontecimentos do ano e o que podemos esperar para 2020 em relação a questões ambientais.
A reportagem é publicada por Rede de Especialistas de Conservação da Natureza, 13-12-2019.
O ano de 2019 foi marcado por uma série de discussões voltadas à questão ambiental em todo o planeta, demonstrando a relação direta que a proteção da biodiversidade tem com o desenvolvimento econômico e com o bem-estar da população. No Brasil, a pauta ambiental foi conduzida principalmente por desastres que atingiram tanto o continente quanto os mares.
“O Brasil é um País muito truculento quanto ao uso de seus recursos naturais. Temos 500 anos de história de um extrativismo irresponsável e que segue muito forte. Exploramos como um bem grandioso sermos o País das florestas, o País campeão em biodiversidade, mas não respeitamos isso na prática”, ressalta o diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Clóvis Borges. Confira alguns dos fatos que marcaram 2019 e outros que devem direcionar os debates em 2020:
Em comparação com o ano anterior, a área desmatada na Amazônia registrou um aumento de 29,5%, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em 2018, foram registrados cerca de 7,5 mil km² desmatados. A área aumentou para 9,7 mil km² em 2019.
Segundo levantamento do Inpe, do dia 1º de janeiro ao dia 31 de agosto, cerca de 113 mil km² de áreas naturais foram queimadas na Amazônia, Cerrado e Pantanal. Em comparação com o ano anterior, essa área representa um aumento de 87%, o que equivale a duas vezes o estado da Paraíba. Pesquisadores identificaram que entre as principais causas para a ocorrência das queimadas estão o desmatamento, a preparação do solo para a agricultura e os incêndios acidentais.
Mais que um desastre ambiental, o rompimento de uma barragem da Vale, em Brumadinho (MG), foi uma tragédia humana que ocasionou 270 mortes – 13 vítimas seguem desaparecidas. Ao todo, 9,7 milhões de m³ de rejeitos vazaram do reservatório, atingindo uma área de 290 hectares ao longo de 9 quilômetros de distância até chegar ao Rio Paraopeba.
Durante o ano, foi anunciada a extinção de algumas áreas de preservação brasileiras e a redução de mais de 60 unidades de conservação com estradas federais, ferrovias, portos e aeroportos dentro de seus limites. A justificativa dada foi eliminar “interferências” com estruturas existentes e dar “segurança jurídica” para os empreendimentos. Isso não se concretizou, mas o assunto deve continuar em pauta em 2020, já que a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados aprovou recentemente um projeto que torna obrigatória a consulta pública e a realização de estudos técnicos para reduzir ou extinguir unidades de conservação. O projeto está em avaliação na Comissão de Constituição e Justiça.
A Organização Mundial Meteorológica (OMM) divulgou que os níveis de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso (os três principais gases captadores de calor) atingiram concentração recorde, acelerando ainda mais os efeitos das mudanças climáticas. Entre as consequências estão condições climáticas extremas, escassez hídrica e aumento do nível do mar.
Pelo menos 900 praias foram atingidas pelo derramamento de óleo que teve início em agosto. Praias do Nordeste, além do Espírito Santo e Rio de Janeiro foram atingidas pelo desastre ambiental que afetou a biodiversidade marinha, o turismo, a economia local, a saúde e o bem-estar da população.
“Em 2020, durante a COP 26, vamos fechar as regras do Acordo de Paris e apresentar de fato as ambições para conter o avanço das mudanças climáticas. Será um ano para os países darem o exemplo e os cientistas clamarem por metas mais ambiciosas. As negociações climáticas serão intensas durante todo o ano e devem ganhar grande espaço no noticiário, nas negociações bilaterais entre países, nas mobilizações sociais, nos eventos científicos e nos fóruns empresariais”, destaca o gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, André Ferretti.
“O fenômeno Greta Thunberg é muito interessante e afeta de uma forma bastante sensível alguns movimentos de jovens aqui no Brasil. Isso mostra uma sensibilidade e uma necessidade de protagonismo dos jovens, que reconhecem nos adultos uma incapacidade de tomada de decisão mais consistente com os desafios existentes, além de identificarem uma falta de propósitos mais sérios dos gestores atuais”, afirma Clóvis Borges.
“Em 2020, veremos novamente a questão ligada ao desmatamento e às queimadas. No ano que vem, próximo ao meio do ano, tudo indica que vamos ter um novo número de desmatamento na Amazônia, que tende a ser maior do que o de 2019. Como o fogo é utilizado para limpar o terreno depois de desmatar, há uma tendência também no aumento das queimadas”, relata André Ferretti, que também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
“Temos de lembrar que todos os anos nós enfrentamos problemas com as chuvas de verão, em diferentes regiões do País. Registramos altas temperaturas e depois tempestades. Conforme os anos vão passando, a intensidade dessas chuvas aumentam e elas começam a atingir novos lugares. Precisamos exigir dos municípios planos de adaptação para diminuir essa impermeabilização das cidades com Soluções baseadas na Natureza, como o investimento na proteção e recuperação de áreas verdes, possibilitando o escoamento da água. Ao mesmo tempo, temos de reduzir as ilhas de calor nas grandes metrópoles, que atraem essas grandes tempestades”, reflete Ferretti.
Diante da necessidade de adaptação das cidades para minimizar os impactos de eventos climáticos extremos, Ferretti alerta que os eleitores devem ficar atentos aos planos de governo dos candidatos ao executivo municipal. É importante que os futuros prefeitos tenham em mente a necessidade de os centros urbanos serem resilientes a tempestades, períodos de estiagem, vendavais, calor e frio intensos. “Enquanto a crise climática é uma preocupação global, a adaptação e a resiliência aos eventos climáticos extremos devem ser uma preocupação local. Os futuros prefeitos devem estar atentos a isso”, diz Ferretti.
“Em 2020 estaremos às vésperas da Década do Oceano, definida pela ONU para o período de 2021 a 2030. As discussões sobre o tema tendem a aumentar, assim como a identificação de problemas e o desenvolvimento de soluções. É o momento do País intensificar o investimento na conservação e restauração da biodiversidade marinha, pensando em aspectos ambientais, econômicos, sociais e no bem-estar da população”, conclui Ferretti.
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Retrospectiva de 2019 e perspectivas para 2020 na área ambiental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU