17 Dezembro 2019
"Representado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o país ficou marcado como um dos vilões da COP25", afirma Fabiana Alves, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, em artigo publicado por Greenpeace, 16-12-2019.
Ativistas do Greenpeace Espanha protestam na COP25, em Madrid, Espanha. No cartaz, os dizeres com a mensagem “Nossa política está poluída”. (Foto: Pablo Blazquez/Greenpeace)
A COP25, a Conferência do clima da ONU em Madrid, foi a mais longa da história. As negociações se arrastaram até a tarde do domingo, dia 15, resultado da falta de empenho de alguns países, entre eles o Brasil, para se chegar a acordos efetivos para lidar com a emergência climática que vivemos.
O Brasil chegou na COP pequeno e saiu minúsculo. Representado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o país ficou marcado como um dos vilões da cúpula. O Brasil, antes respeitado por sua diplomacia, encontrou-se acuado e em defesa de normas que enfraqueceriam o Acordo de Paris.
A mensagem que o ministro endereçou aos países ricos na Conferência, pedindo recursos financeiros para conter o desmatamento, vem na contramão do que é preciso ser feito nacionalmente. Vale lembrar que o país já tem esses recursos, como os do Fundo Amazônia, mas foram bloqueados por responsabilidade do próprio governo.
Além disso, o governo vem demonstrando sua incapacidade de investir em uma política adequada para conter as queimadas, o avanço desenfreado do desmatamento e o aumento da violência contra os povos indígenas. Este portfólio de retrocessos ambientais rendeu ao Brasil o “prêmio” o fóssil do ano da Organização Can (Climate Action Network), oferecido ao país que menos fez pelo clima 2019.
No ano passado, o relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, alertou para a urgência da contribuição dos países em reduzir as emissões de gases de efeito estufa, e mostrou que o compromisso assumido no Acordo de Paris não será suficiente para conter a temperatura do globo a 1.5 grau Celsius até o fim do século.
Desde então, a mobilização de pessoas pelo clima aumentou radicalmente, culminando em milhões de pessoas nas ruas em setembro deste ano em todo o mundo. O movimento climático, e especialmente os jovens, estão mudando os rumos de como a sociedade deve se comprometer com os direitos ao meio ambiente e a uma vida saudável.
Na COP de Madrid, as negociações entre os países pareciam fazer parte de uma realidade distante daquela tomada pelas vozes que ecoavam nos corredores da Conferência. Na quarta-feira, dia 11, cerca de 300 ativistas, entre jovens e povos indígenas de todo o mundo, realizaram um protesto pacífico gritando por justiça climática. Poucos minutos depois, foram expulsos pelos seguranças.
Em uma outra manifestação, na sexta-feira, dia 13, jovens ativistas do Engajamundo fizeram uma cerimônia para entregar ao ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, o Fakebook – O Livro de Mentiras, produzido por Greenpeace, Climainfo e Observatório do Clima para mostrar as falácias de Salles e do governo anti-ambiental.
Podemos concluir que as duas últimas semanas mostraram um desequilíbrio entre o que as ruas estão pedindo e a falta de ação de países que, pressionados por agentes econômicos a não mudarem o sistema econômico em prol da redução dos combustíveis fósseis e da contenção do desmatamento, continuam ignorando a emergência climática.
Em 2020, quando o Acordo de Paris começa a operar, as negociações, especialmente em relação aos acordos sobre o mercado de carbono, devem avançar. Até a próxima COP, em Glasgow, espera-se que os países atualizem suas metas de NDCs (contribuições nacionais para conter as emissões de gases de efeito estufa), considerando que as atuais não serão capazes de conter o aquecimento global.
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Na Conferência do Clima, Brasil chega pequeno e sai minúsculo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU