11 Dezembro 2019
Sozinho, em pares, ou com um alter-ego pronto para tomar seu lugar. Retrato com o estilo lúcido de um documentário radicado na realidade, reinventado em chave visionária por um grande autor, contado com o estilo da crônica recitada, que oferece ao público a reconstrução de fatos conhecidos através de rostos e diálogos de atores carismáticos. O papa superstar, protagonista de uma série de títulos que estarão disponíveis nas próximas semanas, é o sinal inequívoco de um desejo generalizado, que diz respeito a cada um de nós e que vai muito além da simples fé religiosa. Descrever os eventos de uma figura super partes, de um líder confiável, que não muda constantemente de posição, dobrando-se às lógicas de uma política de horizontes limitados, significa atender às necessidades de quem está cansado de transformismos e concessões, de valores hábeis e de discursos esfumaçados. No espaço de alguns dias, não pode ser coincidência, entram em campo os papas que podem se assistidos em diferentes formatos, cinema, streaming, documentários, novos heróis de um mundo amedrontado, em busca de seguranças.
O comentário é de Fulvia Caprara, publicado por La Stampa, 10-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em Dois Papas, o diretor indicado ao Oscar pelo filme Cidade de Deus, Fernando Meirelles, juntamente com o roteirista Anthony McCarten, reconstrói a delicada passagem de poder que determinou a saída de cena do papa Ratzinger (Anthony Hopkins) e a ascensão ao trono papal de cardeal Bergoglio (Jonathan Pryce). A indicação "inspirado em fatos reais" acompanha as notas informativas sobre o filme (já em exibição em cinemas selecionados, disponível na Netflix a partir de 20 de dezembro), mas a maneira pela qual os dois atores interpretaram seus papéis, o teor de suas confrontações verbais, a crônica dos eventos, são absolutamente aderentes à realidade de um evento único e memorável, mas também às características de duas personalidades diferentes, o conservador intransigente e o inovador simpático, o alemão rígido e o sul-americano aberto. "Tivemos que encontrar a maneira - Meirelles explicou - para tornar os diálogos entre os dois personagens cinematográficos, divertidos e interessantes. Escolhi a chave mais íntima, em vez de fazer um filme sobre um Papa que dialoga com um cardeal, decidi retratar dois homens que, apesar de não concordarem em nada, procuram um território comum. Não é por acaso que a câmera está sempre muito próxima dos atores, apenas humanizando duas figuras tão sagradas é que podemos descobrir o que realmente está por trás de suas vestes”.
Em The New Pope [1] (de 10 de janeiro na Sky), Paolo Sorrentino vai mais longe, imaginando o Papa Lenny Belardo, ou Pio XIII (Jude Law), em coma, e um substituto, Sir John Brannox (John Malkovich) chamado pelo Cardeal Voiello (Silvio Orlando) para ocupar seu lugar, em nome de valores diametralmente opostos àqueles do antecessor: "A série - explicou o autor vencedor do Oscar - explora a ambição de dois grandes Papas: ser esquecido. Verdadeiros servos de Deus, eles precisam desaparecer, para deixar brilhar a clareza da fé”. Suas aspirações se chocam, no entanto, "com obstáculos terrestres do sentimento humano: as derivas fundamentalistas, o chamado da vaidade, as piedosas vocações por negociatas, a escravidão de medos e vícios, os obstáculos sentimentais que afetam o grande plano".
E, no entanto, como o Papa Bergoglio declara em uma das frases relatadas pela jornalista Tiziana Lupi no livro Il nostro Papa, que inspirou o documentário homônimo, realizado com Marco Spagnoli e disponível na próxima quinta-feira para coincidir com o aniversário do Pontífice, "o Mal não terá a última palavra”. Ninguém mais teria coragem, na época em que vivemos, de afirmar um conceito tão temerário.
O desafio do documentário, que tece imagens históricas, entrevistas, memórias públicas e privadas do percurso e do pontificado de Jorge Mario Bergoglio, com ricos materiais de arquivo (do Istituto Luce, do Vaticano e da Fundação Ansaldo), é vincular a história do Papa Bergoglio ao tópico da migração: "A nossa - explicam os autores - parece uma fábula, mas não é; ao contrário, fala do que aconteceu à família de Francisco e ao próprio Papa, um homem que, por empenho e dedicação, merece somente respeito e atenção. O documentário conta as origens do Papa, uma espécie de pregação ideal para o que sabemos ou acreditamos que sabemos sobre ele, mas também uma exploração emocional e racional do significado último das coisas e de como o filho de imigrantes italianos constitui hoje uma das vozes de esperança em um mundo cinzento, dominado pela incerteza”.
[1] É a continuação da série The Young Pope. (Nota de IHU On-Line)
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Nasce uma estrela: o Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU