Dois Papas

Foto: Reprodução da capa do filme

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06 Dezembro 2019

Nome: Dois Papas
Nome Original: The two popes
Cor filmagem: Colorida
Origem: Itália
Ano de produção: 2019
Gênero: Drama
Duração: 125 min
Classificação: 12 anos
Direção: Fernando Meirelles
Elenco: Anthony Hopkins, Jonathan Pryce, Juan Minujín
e Sidney Cole
País: Itália, Inglaterra, EUA, Argentina

Resenha

Depois de ter sido bem votado na eleição que colocou o conservador cardeal alemão Joseph Ratzinger à frente do Vaticano, como papa Bento XVI, o argentino Jorge Bergoglio tenta aposentar-se. Mas, para isso, precisa da permissão do papa, que não responde às suas cartas. Pensando convencê-lo, Bergoglio vai a Roma. Os dois têm, então, um encontro que se torna um duelo em torno de visões muito diferentes do mundo e da Igreja.

Comentário

O comentário é de Neusa Barbosa, publicado por Cineweb, 03-12-2019.

Já exibido no Festival de Toronto e atração de encerramento da Mostra de S. Paulo, antes de estrear na Netflix, Dois Papas, o novo longa do diretor brasileiro Fernando Meirelles, faz uma carreira pelos cinemas - assim como aconteceu recentemente com O Irlandês, de Martin Scorsese, de olho nas indicações ao Oscar 2020. No ano passado, o aceno à tela grande da gigante provedora em streaming foi mais do que compensador para Roma, de Alfonso Cuarón, vencedor de três Oscars (filme estrangeiro, direção e fotografia).

Trata-se, mais uma vez na carreira do cineasta brasileiro, de uma coprodução internacional, unindo Inglaterra, Argentina, Itália e EUA, falada quase em sua totalidade em inglês e castelhano, além de algumas partes em italiano e até latim, entre outros idiomas.

Diretor conhecido por filmes como Cidade de Deus, Ensaio sobre a Cegueira e O Jardineiro Fiel, Meirelles demonstra mais uma vez uma mão segura para conduzir uma superprodução, filmada em boa parte nas dependências do Vaticano - inclusive na Capela Sistina -, retratando um embate de inteligência e sensibilidade entre dois personagens reais, o papa Bento XVI (Anthony Hopkins) e o cardeal argentino Jorge Bergoglio, futuro papa Francisco (Jonathan Pryce).

Assinado pelo veterano produtor e roteirista Anthony McCarten (autor do script de A Teoria de Tudo e Bohemian Rhapsody), o enredo começa na eleição de Bento XVI, em 2005 - na qual Bergoglio foi bem votado -, e acompanha a subsequente crise em que mergulhou a Igreja Católica por conta dos escândalos com abusos sexuais de sacerdotes.

O cerne da história está nestes dois pólos representados pelo papa alemão, um conservador empedernido, apegado à tradição e aos cerimoniais do poder, e o cardeal argentino, religioso despojado, associado a um trabalho social junto aos pobres e claramente identificado com os reformistas da instituição. Espertamente, o roteiro os coloca um diante do outro, num encontro mantido na residência de verão do papa, Castel Gandolfo, quando o cardeal argentino vinha com o firme propósito de convencer Bento XVI a deixá-lo aposentar-se.

Toda a rivalidade entre os dois expressa-se numa série de diálogos inteligentes, não raro ferinos, traduzindo com clareza as posições em jogo. Se, de imediato, todos podem ter sua simpatia pelo argentino, o filme trabalha com eficiência no sentido de humanizar também a figura do papa alemão.

Este jogo dramático é muito bem sustentado pela definição de dois personagens cheios de nuances e camadas, interpretados com brio por estes dois grandes atores. Certamente, Bergoglio tem direito a mais flashbacks, mostrando-o em dois momentos definitivos (aí interpretado, em sua versão mais jovem, pelo argentino Juan Minujín): quando decidiu abandonar a noiva para abraçar sua vocação sacerdotal; e quando viveu a maior crise moral de sua vida, ao suspender dois jesuítas a seu serviço, Yorio e Jalics, de uma missão pastoral na periferia, que deu pretexto para que militares da ditadura recém-instalada na Argentina os prendessem e torturassem.

Toda esta densidade, além das qualidades da produção - como a fotografia do habitual parceiro de Meirelles, César Charlone -, transformam Dois Papas num espetáculo cinematográfico superior, independente da fé ou ausência de fé religiosa de quem o assistir.

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