10 Outubro 2019
A quinta congregação, reunida na quarta-feira, analisou a possibilidade de estudar a ordenação de homens casados, ainda que com um “cuidadoso discernimento” dos padres sinodais.
O celibato é inegociável disse Ruffini, “porém como todas as leis humanas, pode ter exceções”.
A reportagem é de Hernán Reyes Alcaide, publicada por Religión Digital, 09-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Participantes do Sínodo dedicado à Amazônia convocado pelo papa Francisco que se desenvolve no Vaticano até o próximo 27 de outubro, pediram hoje “não descartar” a possibilidade da ordenação sacerdotal de homens casados e a instituição de um possível ministério leigo, para as mulheres da região: “Que os ministérios respondam a necessidade dos povos amazônicos”, reivindicaram.
Os 174 padres sinodais presentes com direito a voto, entre mais de 250 participantes, discutiram hoje que “o chamado a uma maior participação dos leigos na criação de novos ministérios que respondam às necessidades dos povos amazônicos”, segundo informou o Vaticano no resumo diário à imprensa.
“Se fizeram muitas propostas sobre como envolver os leigos”, apresentou o presidente da Comissão de Informação, Paolo Ruffini, a jornalistas credenciados.
“Faz falta um cuidadoso discernimento por parte dos bispos para que nenhuma solução, inclusive a ordenação de homens casados, seja excluída a priori”, pontuou o relatório vaticano.
A possível ordenação dos denominados “viris probati”, homens casados com virtudes provadas em sua comunidade, é um dos grandes desafios que encara a reunião dos bispos, que busca soluções para as grandes regiões amazônicas com baixa quantidade de vocações, pese a resistência dos setores conservadores.
Segundo Ruffini, entre os temas desta manhã se falou que a “possibilidade dos viris probati não significa mudar a lei eclesiástica do celibato, mas sim que pode significar tomar conta de que essa lei, como todas as leis humanas, pode ter exceções para situações concretas. Também disse que a falta de padres na Amazônia não está ligada ao celibato, e que talvez a ordenação de homens casados não resolva o problema”.
“Os povos indígenas não entendem o celibato”
Nessa direção, o prelado emérito do Xingu, dom Erwin Kräutler, destacou que “os povos indígenas não entendem o celibato”, portanto “não há outra possibilidade” em muitos casos, além do que recorrer à ordenação viri probati.
“Dois terços dos padres sinodais” estão de acordo, segundo o religioso.
De todos os modos, a discussão deixou em dúvidas que tanto o celibato como a castidade seguirão sendo inegociáveis para os religiosos.
“Se discutiu a solicitação de muitos seminaristas para uma formação afetiva dirigida a curar as feridas causadas pela revolução sexual: hoje muitos desejam redescobrir e conhecer o valor do celibato e da castidade. A Igreja não guarda silencia sobre isso, mas sim oferece seu próprio tesouro: a doutrina que transforma os corações”, segundo informou o Vaticano.
Ademais da possível abertura à ordenação de homens casados, como acontece já em outras latitudes, o Sínodo analisará também a possível instituição de um ministério laical para as mulheres, “reconhecendo o que já de fato acontece em muitas comunidades”, segundo informou à imprensa o secretário da comissão de informação, Giacomo Costa.
“Ao mesmo tempo, se deve combater a violência desenfreada contra as mulheres. Se lançou a ideia de estabelecer um ministério laical feminino para a evangelização”, informou o Vaticano.
"É necessário promover uma participação mais ativa das mulheres na vida da Igreja do ponto de vista samaritano", de acordo com o resumo do trabalho do terceiro dia. "Não se trata tanto de reivindicar algo, mas de reconhecer algo que já está sendo vivido" na região, acrescentou Costa, com base na participação de mulheres em muitas comunidades na ausência de padres.
Até agora, disse Ruffini, 77 padres sinodais e onze outros participantes participaram das cinco congregações gerais.
Com relação à ordem ecológica das discussões, o ganhador do Nobel da Paz Carlos Afonso Nobre alertou no encontro com a imprensa sobre a situação na Amazônia e disse: “A Amazônia é uma espécie de coração ecológico do nosso planeta. É uma imensa biodiversidade, mas infelizmente estamos muito perto do colapso da floresta ".
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Dois terços dos padres sinodais pediram para não descartar a possibilidade dos 'viri probati' e o ministério laical, segundo dom Kräutler - Instituto Humanitas Unisinos - IHU