O Sínodo especial dos Bispos em outubro próximo será sobre a Amazônia, uma região com múltiplas características e problemas, um paradigma de aplicação da ecologia integral que mostra como tudo está conectado, no nível local e global, e isso tudo nos diz respeito.
O comentário é de Giacomo Costa, padre jesuíta, presidente da Fundação Cultural San Fedele, Milão, Itália, e diretor da revista Aggiornamenti Sociali, em artigo publicado por Aggiornamenti Sociali, 02-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um novo encontro sinodal aguarda a Igreja: de 6 a 27 de outubro será realizada a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, intitulada "Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral"[1]. A atenção se concentra em um território cuja especificidade é reafirmada: “A Amazônia, uma região com rica biodiversidade, é multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, um espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja" (DP, Introdução). Hoje, experimenta "uma profunda crise causada por prolongada interferência humana, na qual predominam a ‘cultura do descarte’ e uma mentalidade extrativista". Ao mesmo tempo, as reflexões do Sínodo, que não por acaso ocorrerá no Vaticano e incluirá também entre seus membros representantes de países e igrejas muito distantes da Amazônia, "superam o âmbito estritamente eclesial amazônico, por serem relevantes para a Igreja universal e para o futuro de todo o planeta" (ibid).
Por esse motivo, preocupar-se com o Sínodo da Amazônia não é uma fuga exótica dos nossos problemas locais, que evidentemente não podem ser negligenciados. Nas páginas seguintes, tentaremos argumentar sobre a relevância deste Sínodo para nós "não amazônicos", oferecendo algumas informações fundamentais para entender o caminho e, acima de tudo, mostrando sua fecundidade também para o nosso contexto.
Este Sínodo é um experimento, provavelmente o primeiro, de articulação entre a dimensão local e global dentro do paradigma da ecologia integral. A atenção aos laços e conexões nos permite compreender o que faz da Amazônia uma unidade peculiar, para além das fronteiras que a atravessam, e nos obriga a não esquecer o que a vincula ao resto do planeta, a contribuição que oferece em termos ambientais e de biodiversidade, a exploração que sofre e que representa uma ameaça para o mundo inteiro.
É precisamente a articulação entre global e local que é a principal chave interpretativa para entender o desenvolvimento desse caminho sinodal e entender como participar autenticamente, embora com modalidades diferentes. Com grande evidência, o Sínodo questiona de maneira diferente aqueles que vivem na Amazônia e todos nós que estamos fora dela: a questão diz respeito a todos, mas não da mesma maneira. É de vital importância respeitar a escolha de focalizar o Sínodo sobre uma região peculiar, evitando impor perspectivas extrínsecas ou "globalizá-lo", acrescentando temas relevantes a outros contextos. A mesma atitude será necessária em relação às conclusões, que resultarão apropriadas apenas para aquele contexto social e eclesial e não poderão ser aplicadas em outros lugares ou em escala global de maneira automática e acrítica sem trair sua especificidade.
Isso não significa que o Sínodo da Amazônia seja distante ou irrelevante de todos nós "não amazônicos". Pelo contrário: pede que estejamos abertos a uma profunda escuta de uma perspectiva do mundo a que não estamos acostumados, com o esforço e a riqueza que isso implica, e as demandas prementes que a Amazônia dirige ao resto do planeta para superar a crise que a atinge, para o benefício de todos. Em segundo lugar, embora a aplicação em outros lugares propostas e soluções desenvolvidas para o contexto da Amazônia seria um curto-circuito, continua sendo verdade que todos temos que aprender o que significa enfrentar problemas peculiares de um território com um método sinodal.
Um primeiro passo essencial para seguir o Sínodo é focar na complexidade da Amazônia, nas características que a tornam, sob muitos aspectos, um unicum. É um território imenso, com cerca de 7,5 milhões de quilômetros quadrados (25 vezes a Itália), dividido entre 9 países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa), nenhum dos quais, no entanto, se encontra inteiramente na região amazônica: a maioria da população desses países vive em partes do território externas a ela; portanto, por mais vasta que seja, a Amazônia está sempre em condição de minoria.
Mapa da Amazônia (Fonte: USP)
Entre os habitantes deste imenso território, existem quase 3 milhões de nativos, pertencentes a cerca de 390 povos e nacionalidades diferentes, além de vários povos indígenas em condições de isolamento voluntário, estimados entre 110 e 130. Eles se expressam em 330 idiomas diferentes, metade dos quais falados por menos de 500 pessoas. Muito mais numerosos são os habitantes de diferentes origens, que chegaram ao longo dos séculos, que falam as línguas nacionais dos países de origem (principalmente espanhol e português) e representam a maioria da população urbana da região. Uma nova categoria apareceu recentemente, a de indígenas urbanizados, alguns dos quais permanecem reconhecíveis, enquanto outros tendem a ser assimilados pela população majoritária.
A importância da Amazônia do ponto de vista ambiental também é bastante peculiar: é a principal reserva de biodiversidade, hospedando entre 30% e 50% das espécies vivas (animais e plantas) do planeta. Ela também contém cerca de 20% da água doce não congelada de toda a superfície da Terra e desempenha um papel de pulmão climático para toda a América Latina e não só.
Nessa imensa variedade, que permite falar de uma pluralidade de Amazônias, é “a água, através de suas cachoeiras, rios e lagos, que representa o elemento articulador e integrador, tendo como eixo principal o Amazonas, o rio mãe e pai de todos." (DP, n. 1). Isso vale para o ambiente natural, assim como para a população humana, em termos econômicos, culturais e simbólicos, uma vez que os rios permitem deslocar-se em uma região quase inteiramente coberta por uma floresta densa.
O termo escolhido pelos documentos sinodais para expressar essa identidade complexa, que é ao mesmo tempo geográfica, antrópica e ambiental, é bioma, ou seja, uma ampla porção de biosfera caracterizada por uma certa vegetação ou fauna dominante. O termo também é aplicado a outros contextos semelhantes: a bacia do Congo, o corredor biológico mesoamericano, as florestas tropicais do Pacífico Asiático, o aquífero Guarani. Provavelmente poderíamos adicionar as regiões árticas e, com a importante variação da ausência de uma população estável e, portanto, de culturas específicas, aquelas antárticas.
A escolha de um termo tão técnico indica que as categorias comuns, baseadas em fronteiras políticas ou administrativas (ou seja, o Estado e suas subdivisões), não são suficientes para dar conta da realidade que descrevemos e do equilíbrio que os povos que a habitam souberam construir com o meio ambiente ao longo dos séculos. É essa realidade que nos pede um esforço para aumentar o número de perspectivas com as quais a abordamos ou de recompô-la de maneira mais adequada. Renunciar a fazer isso provoca, como mostrado pela encíclica Laudato Si', a incapacidade de focalizar todas as dimensões de um problema e exclui a possibilidade de encontrar soluções verdadeiramente eficazes. Isso também se aplica ao nível eclesial: é decididamente inovador dedicar um Sínodo especial a um território que não corresponde a um conjunto de Conferências Episcopais, que são normalmente organizadas em base nacional.
Para nós “não-amazônicos” isso se torna um convite para questionar as fronteiras, perspectivas e categorias a que costumamos recorrer para caracterizar um território e analisar seus problemas, pois são insuficientes para abordar a realidade. Um exemplo que pode nos ajudar é o das regiões alpinas: independentemente das fronteiras políticas e administrativas, elas são caracterizadas por uma homogeneidade ambiental e naturalista significativa, e suas populações são portadoras de traços culturais comuns, bem como uma história de relações que as liga entre si. O que visto da planície parece uma barreira intransponível, não é para quem mora lá. O arco alpino e suas populações compartilham com a Amazônia o fato de serem divididos entre uma pluralidade de países, nos quais eles sempre representam uma minoria. Assim, frequentemente afloram tensões e conflitos em direção à "planície" e sua população, que explodem principalmente em torno de grandes projetos de infraestrutura (na Itália, pensamos no caso do TAV) ou na gestão de recursos (a água que garante o funcionamento das hidrelétricas), cujos benefícios não são distribuídos proporcionalmente aos custos.
As dinâmicas têm analogias, mesmo sem atingir os níveis de exploração e violência que a Amazônia experimenta. A última característica que a marca de maneira dramática hoje é, de fato, a relação com o resto do mundo, que a vê como uma reserva gigantesca de recursos para usar e frequentemente para saquear, sem levar em conta os direitos daqueles que sempre viveram lá.
"Quantos de nós que não habitamos nessas terras precisamos de sua sabedoria e seu conhecimento para poder adentrar, sem destruí-lo, no tesouro que contém esta região" (Papa Francisco, Discurso no encontro com o povo da Amazônia, Puerto Maldonado, Peru, 19 de janeiro de 2018). Ouvir os povos indígenas e todas as comunidades que vivem na Amazônia também é fundamental da nossa perspectiva, que não é apenas global, mas também "local". Antes de "emprestar a eles a nossa voz em suas causas", oferecendo soluções ou, pior ainda, impondo nossa agenda e problemas a eles, somos chamados a "ouvi-los, compreendê-los e aceitar a misteriosa sabedoria que Deus deseja nos comunicar através deles". (Evangelii gaudium, n. 198). Não é fácil, especialmente à distância, mesmo que nos últimos tempos "os povos indígenas começaram a escrever sua própria história e a descrever de maneira mais formal suas próprias culturas, costumes, tradições e saberes" (DP, n. 3), tornando mais acessível sua visão do mundo.
Essa "cosmovisão" e o estilo de vida decorrente são frequentemente indicados com a expressão buen vivir (bem viver), que traduz em espanhol expressões de diferentes idiomas da Amazônia, como sumak káusai, alli káusai ou shien pujut. É um modo de vida que afunda as raízes nas tradições indígenas e que se refere não a uma doutrina completa, mas a práticas de criação de relações entre pessoas e grupos através do vínculo com o território. No centro, portanto, estão as relações entre água, território, ambiente natural, vida comunitária e cultura. Como afirma o n. 12 da IL, citando um documento oficial dos povos amazônicos: “Trata-se de viver em ‘harmonia consigo mesmo, com a natureza, com os seres humanos e com o ser supremo, porque existe uma intercomunicação entre todo o cosmos, onde não existe quem exclui nem quem é excluído, e que entre todos se possa forjar um projeto de vida plena’". Buen vivir é uma questão de contemplação, respeito e cuidado do bioma do qual se é parte (ver ivi, n. 95), com “efeitos na saúde, na convivência, na educação e no cultivo da terra, a relação viva com a natureza e a ‘Mãe Terra’, a capacidade de resistência e resiliência das mulheres em particular, os ritos e as expressões religiosas, as relações com os antepassados, a atitude contemplativa e o senso de gratuidade, de celebração e de festa e o sentido sagrado do território" (ibid., n. 121).
As culturas amazônicas são uma civilização viva e articulada, que há séculos enfrenta o desafio da modernidade e da colonização, e continua a lidar com conflitos e contradições internas e externas.
Para nós ocidentais, é fundamental ouvir essas palavras limpando nossa mente de muitos legados que nos condicionam: do mito do "bom selvagem" à dialética entre atraso e modernidade. As culturas amazônicas são algo muito distinto: uma civilização viva e articulada, que há séculos enfrenta o desafio da modernidade e da colonização e continua a lidar com conflitos e contradições internas e externas, inveja, raiva, violência, agressão, corrupção etc. O buen vivir não é uma condição idílica dada uma vez por todas, mas um caminho tão concreto quanto frágil. Também não exclui a relação com outras culturas: sua lógica incorpora, por exemplo, o acesso à educação, aos serviços de saúde e aos outros direitos fundamentais usufruídos pelos povos indígenas como todos os outros cidadãos.
O importante continua a ser o respeito por sua autonomia na definição dos parâmetros e componentes do buen vivir, sem aplicar indicadores de pobreza, bem-estar ou de desenvolvimento que são estranhos a eles e provavelmente incompreensíveis. A definição ocidental de qualidade de vida não pode ser separada de um certo bem-estar econômico e pelo atingimento de determinados níveis de consumo, e isso torna para nós muito difícil entender como pessoas com poucos bens materiais e com uma considerável insegurança de vida, como a maioria dos povos amazônicos, podem se orgulhar de buen vivir.
Uma pergunta radical se apresenta sobre a definição de "bem viver" com base do nosso modelo de progresso. Para poder aceitar essa provocação saudável, precisamos nos libertar de estereótipos e preconceitos que não nos permitem levar a sério esses povos e iniciar um diálogo autêntico com eles, livre de qualquer paternalismo. Como o n. 111 da IL, o problema também diz respeito à Igreja: "Às vezes há uma tendência de impor uma cultura estrangeira na Amazônia que nos impede de entender seus povos e de apreciar suas cosmovisões", tanto que algumas críticas radicais dirigidas para a Igreja, sustentam que nenhum projeto de evangelização seria livre da perspectiva colonial. O Papa Francisco exorta-nos a não cair nesses riscos: "É urgente aceitar a contribuição essencial que [os povos indígenas] oferecem a toda a sociedade, não fazer de suas culturas uma idealização de um estado natural e nem mesmo uma espécie de museu de um estilo de vida do passado. Sua visão do cosmos, sua sabedoria, têm muito a ensinar a nós que não pertencemos à sua cultura" (Discurso no encontro com os povos da Amazônia, cit.).
Para nós "não-amazônicos", isso significa acostumarmos a ver a realidade de vários pontos de vista e aceitarmos ser desafiado por aqueles dos outros, não os assumir supinamente - o complexo de culpa do Ocidente -, mas para sermos estimulados e por nossa vez estimulá-los. São legítimas as constatações que indicam limites e dívidas ideológicas em determinadas argumentações e leituras dos fenômenos sociais e econômicos provenientes dos contextos latino-americanos, mas com a condição de aceitarmos que nos digam, visto pela perspectiva deles, o nosso ideal de "bem viver", mesmo em sua melhor versão, é imbuído de materialismo, que nossa cultura, mesmo eclesial, exala não apenas secularização, mas secularismo, e luta para deixar um espaço reconhecível para a transcendência e, finalmente, que o individualismo em que estamos imersos sem nem mesmo mais nos apercebermos, nos torna incapazes de pensar em termos de sujeitos coletivos, comunidades e povos.
Algo análogo também é verdadeiro em uma chave mais explicitamente cristã e teológica: rastrear em determinadas expressões ecos suspeitos de paganismo deve andar de mãos dadas com a renúncia à ideia de que existe uma cultura cristã por excelência, paradigma de referência que julga as outras, sem que estas possam coloca-la em discussão. A perspectiva poliédrica da Evangelii gaudium e a centralidade do diálogo que marca o paradigma da ecologia integral também têm valor entre as formas de cristianismo inculturadas em diferentes contextos, abrindo cada um para o reconhecimento e a gratidão pela contribuição dos outros.
O título do Sínodo também indica seu objetivo: "novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral". "Novo" deve ser entendido aqui no sentido radical que o termo assume na encíclica Laudato Si' quando fala de conversão ecológica, afirmando que é indispensável "ampliar novamente nosso olhar" se desejarmos um progresso "mais saudável, mais humano, mais social e mais integral" (n. 112). É por isso que uma autêntica cultura ecológica “não pode ser reduzida a uma série de respostas urgentes e parciais aos problemas que surgem com a degradação ambiental, com o esgotamento das reservas naturais e com a poluição. Deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educacional, um estilo de vida e uma espiritualidade que deem forma a uma resistência diante do avanço do paradigma tecnocrático"(ibid., n. 111). Uma entidade tão delicada e rica em entrelaçamentos entre suas diferentes dimensões como o bioma amazônico é um exemplo paradigmático dessa necessidade.
O termo "caminhos" escolhido para o título do Sínodo sugere uma imagem do desafio que nos espera, o das vias de comunicação, um dos pontos críticos para a Amazônia. O "novo" de que ela precisa não é representado pelas rodovias que muitos desejam multiplicar dentro dela, contribuindo para sua destruição, com graves consequências para todo o planeta. "Novo" nem mesmo repropõe a piroga que singra os rios, se isso significa trancar os povos da Amazônia na idealização do passado. Veremos como a Assembleia sinodal e o processo que resultará conseguirão traçar concretamente esses "novos caminhos", envolvendo principalmente as comunidades e os povos da Amazônia em todas as suas articulações, na consciência de que "dar forma a uma Igreja de rosto amazônico tem uma dimensão eclesial, social, ecológica e pastoral, muitas vezes conflitante" (ibid.).
Essa busca envolve nós "não-amazônicos" mais do que pensamos: primeiro porque nos beneficiamos dos efeitos positivos da região amazônica em termos ambientais globais; e depois porque as contradições que ameaçam sua sobrevivência se originam em outros lugares e se entrelaçam com o funcionamento de nossa economia global, com modelos de progresso e crescimento econômico que ainda veem o meio ambiente como um recurso a ser saqueado, com as escolhas de grandes empresas multinacionais que se movem apenas em vista da maximização do lucro a curto prazo, com estilos de vida marcados pela lógica do consumismo. Sozinha a Amazônia não pode resistir a essas pressões formidáveis: para que ela possa continuar existindo como seu rosto, precisa que o resto do mundo lhe deixe espaço para isso. Essa é uma responsabilidade que nos envolve como consumidores, investidores, cidadãos e eleitores, apelando à criatividade de todos, com vistas à construção de alternativas verdadeiramente sustentáveis.
Enquanto trabalhamos nessa direção, também poderemos deixar-nos inspirar não tanto pelas soluções a que o percurso sinodal chegará - dificilmente serão apropriados para outros contextos - mas pelo convite à criatividade e pelo seu exemplo de inclusão de uma pluralidade de perspectivas: mesmo fora das fronteiras da Amazônia, não faltam situações em que tal abordagem poderia resultar decisiva. É o caso do Mediterrâneo, com muitas analogias e tantas diferenças em relação à Amazônia: uma região com uma identidade ambiental precisa, na qual milênios de relações, comércio e conflitos entrelaçaram as culturas que participam, dando uma aparência comum para além das diferenças linguísticas, religiosas e étnicas, mesmo no nível da cultura material e popular (basta pensar no alimento, além da sugestão de uma marca globalizada como a dieta mediterrânea). No centro de tudo isso está um mar - mais uma vez a água - que desde sempre uniu suas margens, compartilhando (para o bem ou para o mal) o que eles têm e o que são, mas que hoje se gostaria de transformar em uma barreira para manter longe as pessoas percebidas como ameaça e que muitas vezes se torna também o seu túmulo.
Mapa da Região do Mediterrâneo (Fonte: www.guiageo-europa.com)
Realmente não conseguiríamos olhar o Mediterrâneo de perspectivas alternativas, capazes de nos fazer superar as contradições em que continuamos tropeçando e os problemas aos quais não conseguimos dar soluções? Enquanto promovia o Sínodo da Amazônia e acompanhava sua preparação, o Papa Francisco realizou algumas iniciativas que colocam sob nova luz as questões do Mediterrâneo: do Documento sobre Irmandade Humana assinado em Abu Dhabi, junto com o Grande Imã de Al-Azhar (fevereiro de 2019), à viagem ao Marrocos (março de 2019), até o discurso proferido em Nápoles em 21 de junho passado, dedicado ao papel da teologia no contexto do Mediterrâneo. Nesta linha, por que não sonhar com um Sínodo mediterrâneo, sem com isso descarregar sobre o Papa o ônus de assumir todas as iniciativas? Os novos caminhos da ecologia integral dizem respeito à Amazônia, mas não apenas a ela.
[1] A Assembleia foi precedida por uma abordagem detalhada e pela publicação do Documento Preparatório (DP, 8 de junho de 2018) e pelo Instrumentum laboris (IL, 17 de junho de 2019). Os textos, juntamente com muitos outros materiais informativos, estão disponíveis no site <www.sinodoamazonico.va>.
Inédito é o papel desempenhado na preparação do Sínodo pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), nascida em 2014 com o objetivo de encontrar as melhores modalidades para "encarnar o Evangelho em uma porção particularmente vulnerável do povo de Deus", de acordo com as palavras usadas pelo seu coordenador, Mauricio López, na edição de junho-julho do Aggiornamenti Sociali.