19 Julho 2019
Ameaçada, espécie é vítima da caça e pesca acidental; estratégias de conservação são necessárias para proteger o mamífero.
A reportagem é publicada por G1, 17-07-2019.
Encontrado em quase todos os rios da Bacia Amazônica e com distribuição limitada por corredeiras, cachoeiras e ausência de plantas aquáticas, o peixe-boi-da-amazônia é uma das 1.182 espécies brasileiras ameaçadas de extinção.
O status ‘Vulnerável’ na Lista Nacional da Fauna Brasileira Ameaçada é resultado de um passado de exploração. De acordo com o biólogo Diogo Alexandre de Souza, no período colonial o peixe-boi era capturado em grande escala para a obtenção de carne, couro e gordura.
“Hoje, a principal ameaça continua sendo a caça internacional para obtenção de carne, popularmente apreciada na região amazônica. Além disso, o uso crescente de redes de pesca aumentou os registros de captura acidental de filhotes”, diz.
A degradação do habitat em virtude dos desmatamentos, assoreamento nas margens, poluição dos rios, construções hidrelétricas e mudanças climáticas severas também é uma ameaça destacada pelo especialista, que alerta sobre a necessidade de estratégias de curto, médio e longo prazo para mudar esse cenário.
“O estabelecimento de Unidades de Conservação reduz a pressão do desmatamento, mesmo quando não é possível fiscalizar a área com frequência”, comenta o biólogo da Associação Amigos do peixe-boi (AMPA).
Outro desafio é extinguir a caça, decorrente do hábito cultural amazônico do consumo da carne da espécie. “Assim, torna-se necessária a criação de um amplo programa de conscientização e educação ambiental, com ênfase nas localidades onde a pressão de caça é mais extensa”, diz.
Importante para o controle do ecossistema aquático, o peixe-boi-da-amazônia é tido como fertilizador natural. “Isso porque ele disponibiliza nutrientes, através das fezes e da urina, essenciais para o fito e o zooplancton, base de toda cadeia alimentar aquática, contribuindo para a manutenção dos estoques de peixes na Amazônia”, explica Diogo, que teme o desaparecimento da espécie.
“Se o peixe-boi desaparecer, ocasionará um desequilíbrio enorme no ecossistema aquático. A proliferação de plantas reduz a entrada de luz na água, ocasionando uma série de danos aos organismos que dependem da luz solar”, diz.
O aumento da biomassa de plantas na água também pode dificultar a navegação de barcos pelos rios, fenômeno conhecido como ‘tapagem’.
Com até 2,75 metros de comprimento e 420 quilos, o peixe-boi-da-amazônia é o menor representante da ordem Sirenia, dos peixes-boi e dugongo.
No entanto, a espécie, que ocorre desde o Peru, Colômbia e Equador até a foz do Rio Amazonas, é o maior animal herbívoro dos rios da Amazônia.
Exclusivamente aquático, o animal ocorre nos sistemas de rios de águas brancas, pretas e claras. “Sua distribuição e abundância estão relacionadas às variações sazonais de cheias e vazantes que ocorrem nos rios da região”, explica o biólogo, que detalha o comportamento migratório da espécie. “Na época de cheia o peixe-boi habita áreas de várzea, locais com maior disponibilidade de alimento. Na seca, pode migrar por até 200 quilômetros para canais mais profundos dos rios”, completa.
Herbívoro, o mamífero se alimenta de diversas plantas aquáticas e semiaquáticas: mais de 50 espécies fazem parte do ‘cardápio’.
Assim como o peixe-boi-marinho, o animal pode ficar submerso por períodos de até 20 minutos, em mergulhos prolongados. “Eles são extremamente discretos ao respirar, expondo brevemente o focinho na superfície da água”, conta.
Diferente dos outros peixes-bois, porém, o da Amazônia não apresenta unhas nas nadadeiras peitorais. De acordo com o especialista, a nadadeira caudal é grande, arredondada e achatada. “E o lábio superior preênsil facilita a manipulação do alimento”, completa.
Relativamente solitários, é comum encontrar a fêmea acompanhada do filhote por até dois anos. “A maturidade sexual é estimada em pelo menos seis anos, quando os indivíduos estão com aproximadamente dois metros de comprimento”, explica Diogo, que detalha os hábitos reprodutivos do peixe-boi.
“A gestação dura cerca de 12 meses e o pico de nascimento ocorre no início da cheia, período em que o alimento é mais abundante”, diz.
A baixa taxa reprodutiva, com intervalo entre nascimentos de pelo menos três anos, dificulta a recuperação das populações.
Os sons emitidos pelo peixe-boi-da-amazônia são o principal meio de comunicação da espécie. Isso porque, por viver em águas turvas, tem a visibilidade prejudicada. “Os sons não são tão altos e dificilmente audíveis pelos humanos. As vocalizações são rápidas e curtas”, comenta o especialista.
“A comunicação sonora entre mãe e filhote é fundamental para a identificação e localização no ambiente”, completa.
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Extinção do peixe-boi-da-amazônia prejudica rios brasileiros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU