27 Junho 2019
Rosa Ramírez, mãe de Óscar Martínez, disse que o jovem, junto com sua esposa, Tania, e sua filha partiram em busca de uma vida melhor para sua família, no dia 3 de abril. Lembrou-se de como sempre aconselhava o filho a não procurar o sonho americano. A jovem família buscou refúgio por mais de dois meses, tempo que passaram em solo mexicano e sem resultados. O desespero os levou a atravessar o Rio Bravo, que separa o México dos Estados Unidos, narrou Rosa.
A reportagem é de Mariana Arévalo e Amanda Hernández, publicada por La Prensa Gráfica, 26-06-2019. A tradução é do Cepat.
Óscar e sua pequena família, de acordo com sua mãe, sonhavam em trabalhar alguns anos nos Estados Unidos para depois retornarem a El Salvador para ter sua própria casa.
"Eles moraram aqui comigo e queriam ter sua própria casa, foi isso que os motivou, ele me disse que com o salário daqui eles não conseguiriam, por isso optaram pelo sonho americano", disse Rosa, enquanto segurava as chaves com pesar da pequena casa que compartilhou com a jovem família no residencial Alta Vista, do município de San Martín, San Salvador.
O pai de Oscar, José Martínez, disse que, embora não morasse com o jovem, estavam em constante comunicação e até pensaram em ir com eles para os Estados Unidos. José, no entanto, não fez isso porque o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mudou as leis para aceitar apenas o núcleo familiar imigrante nos Estados Unidos.
"Eu gostaria que alguém me beliscasse porque para mim isso é um sonho, é uma das coisas que você nunca espera", disse José, enquanto batia em seu peito pensando na morte de seu filho e neta.
Foram alguns amigos, segundo a mãe de Óscar, que disseram ao jovem para arriscar a viagem porque era "fácil", motivo pelo qual o jovem casal decidiu empreender a viagem junto com sua filha.
Rosa aconselhou que é melhor para os salvadorenhos que "nem pensem mais nisso (migrar). Espero que isso ajude todos aqueles que pensam que é fácil passar, não é, porque estão arriscando suas vidas". No entanto, justificou que os muitos "compatriotas" buscam melhores oportunidades em comparação com a realidade que vivem no país, porque "não têm emprego, há pobreza e tudo o que se vê nos jornais (crimes)".
"'Mamãe, eu te amo', me disse, 'tome cuidado, estamos bem aqui'. Ele era um bom filho, educado, e sempre me lembrarei dele assim até o último momento", disse a mãe de Óscar, em lágrimas, enquanto segurava um macaco roxo com o qual sua neta Valeria sempre brincava.
Essas palavras, de acordo com Rosa, foram as últimas que escutou de Óscar antes de atravessar o rio mexicano em busca do sonho americano. "Senti que era uma despedida, assim senti como mãe", acrescentou Rosa.
Óscar e sua filha Valeria morreram no domingo à tarde quando tentaram atravessar o Rio Bravo, localizado na cidade de Matamoros, no estado de Tamaulipas, no México. A jovem família chegou a Tamaulipas para pedir asilo nos Estados Unidos, no entanto, após dois meses de espera no acampamento Puerta México, decidiram atravessar o Rio Bravo, que através da Ponte Internacional conecta o México com Brownsville, no Texas, Estados Unidos.
Ao tentar atravessar o rio, a menor foi arrastada e ele tentou salvá-la. Pai e filha foram encontrados a um quilômetro da Ponte Internacional, presos pela camisa de Óscar com o pescoço cercado pelo braço da menor.
A ministra das Relações Exteriores, Alexandra Hill, disse ontem que o governo vai absorver as despesas de repatriação dos corpos, procedimento que será movido o mais rápido possível por ordens do presidente Nayib Bukele.
Hill pediu aos cidadãos "uma chance" para melhorar a qualidade de vida e acabar com a migração irregular. Disse que "como mãe" se juntou à dor da família Martinez e que o presidente Bukele se disse "consternado". A ministra das Relações Exteriores anunciou que está prestes a viajar para a fronteira mexicana, onde corroborará para atender as pessoas migrantes e também reforçará os serviços consulares.
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“O sonho americano não é como pintam” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU