26 Abril 2019
Piotr Zygulski, participante do Sínodo dos Jovens como representante da Ação Católica e dos jovens italianos, conta sobre as expetativas e as conclusões do último Sínodo.
Zygulski acredita que "o Documento final delineia um perfil da Igreja que é sinodal e responde ao imaginado por Francisco na exortação apostólica Evangelii Gaudium. Depois do Jubileu da Misericórdia e dos dois sínodos sobre a família, parece-me que o Sínodo consiga dar concretude à Igreja em saída da Evangelii Gaudium, com o compartilhamento do episcopado e das representações do mundo".
A entrevista é publicada por Nipoti di Maritain [1], n. 7, pp.46-50, 20-04-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Gioele (Anni), você participou do último Sínodo dos Jovens como representante da Ação Católica e dos jovens italianos. Quais foram as expectativas que você tinha quando chegou ao Sínodo?
Inicialmente as expectativas eram muito altas, porque desde que foi anunciado, parecia uma oportunidade para reconstruir um pouco aquela ponte entre os jovens e a Igreja que - principalmente na realidade em que eu vivo no norte da Itália, mas em geral no Ocidente – acabou desaparecendo. Dada a distância entre os jovens e a Igreja, a abordagem do Sínodo pareceu-me que poderia ser interessante e dizer uma palavra a todos. Considerando que hoje em dia, em muitos casos, não há diálogo entre a Igreja e os jovens, como jovem engajado na Igreja e na Ação Católica, considero prioritária a reconstrução desse vínculo.
Você também esperava algo concreto, alguma mudança específica?
Em relação a mudanças concretas, não tinha expectativas, porque não havia um único tema do qual eu esperasse algo novo e sabia que o Sínodo não é o lugar de mudanças doutrinárias de magistério. Eu estava esperando o Sínodo - e assim foi - como uma grande praça para a escuta na qual compartilhar experiências de vários cantos da terra, enfrentar problemáticas e oportunidades de uma maneira compartilhada e entregar o discernimento nas mãos do Papa. De minha parte, havia mais uma expectativa sobre o processo que iria acontecer.
O que você fez como representante? Qual foi o seu papel?
Como todos os participantes - incluindo os padres sinodais -, eu tinha a disposição apenas uma intervenção programada de 4 minutos durante as três semanas; a minha foi sobre a terceira parte do Instrumentum laboris, ou seja, a seção dedicada às escolhas e às perspectivas pastorais.
Eu também pude intervir outra vez nos momentos de debate livre que às vezes aconteciam no final do dia. Também participei dos grupos de estudo e das sessões plenárias, que foram momentos extremamente formativos. Digo isso com grande alegria: a experiência do Sínodo foi maravilhosa, de profunda fé, de forte pensamento e de elaboração, e que me colocou em confronto sobretudo com os testemunhos daqueles que vêm de realidades distantes e de sofrimento.
Foi também uma experiência divertida por seu lado humano: conhecer os outros participantes, os padres sinodais e os cardeais, trocar com eles algumas opiniões, percorrer uma parte do caminho juntos, metaforicamente e fisicamente ... como quando, por exemplo, fizemos a peregrinação ao túmulo de São Pedro na última semana. Tudo isso fez parte do Sínodo e as expectativas iniciais foram progressivamente reorganizadas por essa realidade.
Na sua opinião, quais são os resultados mais significativos deste Sínodo?
O Documento final delineia um perfil da Igreja que é sinodal e responde ao imaginado por Francisco na exortação apostólica Evangelii Gaudium. Depois do Jubileu da Misericórdia e dos dois sínodos sobre a família, parece-me que o Sínodo consiga dar concretude à Igreja em saída da Evangelii Gaudium, com o compartilhamento do episcopado e das representações do mundo. As questões que estavam na base deste Sínodo sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional - em especial: como podemos transmitir a fé aos jovens para que possam vive-la no mundo de hoje? Como a Igreja pode acompanhar os jovens na busca de seu caminho no mundo nesta mudança de época? - exigiam elaborar um pensamento que envolvesse toda a Igreja.
Dia após dia, percebemos que não poderíamos investigar questões isoladas e pensar que poderíamos dar respostas sobre alguns temas desconsiderando outros, mas era preciso uma reflexão do conjunto. Resultou um processo de Igreja sinodal que dá substância e concretude ao sonho traçado pelo Papa Francisco.
Durante o Sínodo, os jovens italianos e do mundo ficaram atentos e envolvidos realmente? Alguém observou que aqueles poucos jovens que acompanhavam eram as mesmas pessoas de sempre, ativas na pastoral diocesana e, portanto, o desejado envolvimento dos jovens não teria acontecido.
Para os jovens italianos, um momento de especial atenção e sensibilização foi o encontro de agosto, no final das peregrinações, que faz parte do caminho sinodal. Em termos de conhecimento midiático, certamente este Sínodo teve menos atenção do que o anterior, em que havia questões pontuais mais "noticiáveis" que estimulavam a atenção dos jornalistas.
Mas a intenção de envolver os jovens era genuína. A Secretaria do Sínodo tomou medidas concretas, de certa forma “históricas”, para tentar ampliar o número de pessoas envolvidas, abrindo o processo que é normalmente reservado àqueles que estão dentro do mundo eclesial; refiro-me à iniciativa do questionário online aberto a todos, talvez tecnicamente melhorável, ao qual 200.000 pessoas responderam.
De certo ponto de vista, também pode ser bom um pouco de redução da atenção midiática, se depois o que saiu do Sínodo - a mudança de estilo em direção a uma Igreja sinodal – vier a ser implementado. Os jovens que não prestaram atenção no Sínodo irão notá-lo nos próximos dez anos. É um processo que termina relançando um processo; talvez ele não ganhe manchetes nos jornais, mas pode fazer falar de si mesmo em breve, se toda a Igreja tiver a coragem de participar na conversão missionária para a qual o Sínodo convida e conforta.
Mas não existe o risco de falar de modo autorreferencial sempre a nós mesmos, sem nunca concluir nada? O Sínodo fez alguma coisa para evitar esse perigo?
Não é um perigo: o de uma Igreja autorreferencial é uma realidade; no Sínodo aflorou fortemente, muito por parte dos jovens e também por parte de muitos bispos. A escuta não pode ser reduzida a um encontro entre nós que já estamos "dentro". A beleza do Sínodo foi de envolver no longo processo - por exemplo, na reunião pré-sinodal - também os jovens que não estão tradicionalmente dentro dos percursos eclesiais: jovens do mundo da arte, de outras religiões, de experiências de vida comunitária ou de trabalho, que trouxeram tanta concretude e o clamor que às vezes não é representado.
Houve um esforço para ouvir as formas não-rituais de expressão dos jovens. Na autorreferencialidade se escutam os jovens que "falam bem", tanto em termos das modalidades como se expressam, como para as ritualidades dos nossos espaços de encontro ... mas hoje os jovens se expressam também com linguagens de protesto, de desconforto, de sofrimento. ou de indiferença, que, no entanto, escondem um pedido substancial de escuta e de diálogo. A Igreja no Sínodo deixou-se interpelar por essas formas não convencionais - eu gosto de chamá-las de "irrituais" - de expressão dos jovens e fez muito para colocar tanta vida também no Documento final.
Existem outras propostas nesse campo que possam ser estendidas a toda a Igreja?
O Documento final delineia alguns traços para sair da autorreferencialidade e concretizar os conteúdos do Sínodo. Uma é a opção preferencial pelos pobres como critério de propostas pastorais em todos os níveis: repensar os planos pastorais tendo em mente colocar no centro os jovens que estão longe da Igreja e aqueles marginalizados pela sociedade.
A segunda é aquela de não só convocar os jovens, mas também envolvê-los, desafiando-os em iniciativas, projetos e atividades que solicitem a participação do jovem. Então, a partir disso, ter a coragem, como Igreja, de acompanhar os jovens que se colocam em jogo para um caminho que, para muitos, é uma reiniciarão cristã, uma segunda anunciação.
Alguns censuram à terceira parte do Documento final um passo atrás em relação à primeira em que ressoa o Instrumentum Laboris, que, segundo alguns comentaristas, seria mais corajosa em relação aos resultados conclusivos, considerado demasiado cautelosos.
Li essas observações, mas não me parece uma parte cautelosa. Gosto muito dos três últimos parágrafos que se referem à santidade na Igreja e pedem, no final do processo sinodal, uma "mudança de perspectiva decisiva, imediata e radical" (§ 166).
Talvez alguém estivesse esperando diretrizes ou práticas mais concretas, mas nesse nível o Sínodo deu um passo "de lado" - não para trás - porque a partir da discussão foi evidenciado que não há receitas ou planos pastorais que possam ser aplicados em todos os lugares da mesma forma. Esse "passo de lado" não se deve à falta de coragem, mas é de grande confiança, para que conferências episcopais, dioceses, associações e movimentos façam o mesmo exercício sinodal de escuta concreto dos jovens. E assim trazer a proposta do Evangelho para a realidade de hoje, para depois pensar e reprogramar.
Alguns esperavam que, como no Instrumentum laboris que preparava a assembleia, a expressão "jovens LGBT" aparecesse novamente. Mas não foi esse o caso.
Eu conheci a realidade dos cristãos homossexuais na Lombardia, especialmente os jovens. Foi um presente: o encontro com esses garotos me fez sair de uma reflexão puramente teórica para encontrar as experiências da vida. Encontrei histórias pessoais marcadas também por dificuldades, com percursos de aceitação de si mesmo, para entender como viver o próprio pertencimento eclesial em contextos às vezes rígidos sobre a questão da homossexualidade.
Foi edificante: conheci jovens que desejam pertencer à Igreja e cuja história, entre alegrias e dificuldades, se tornou motivo para amar mais a Igreja e o Senhor. No Sínodo, esses assuntos foram discutidos com muito pudor e grande competência, assim como também a afetividade, sexualidade, convivência, relações sexuais antes do casamento; são tópicos sobre os quais os jovens falam sem tabus.
Sobre a questão específica da sigla LGBT, os jovens cristãos homossexuais também têm divergências entre eles: para alguns é a forma para estar presentes e reconhecíveis como realidade, para outros existe o risco de serem catalogados. Daí a objeção daqueles que eram contrários à inclusão do termo LGBT no Documento final: a Igreja não identifica as pessoas a partir de sua orientação sexual. Acredito que a forma como o documento final aborda a questão é muito boa, porque reflete o que foi o debate: não partiu de uma questão nominal, mas da prática pastoral, ou seja, da realidade em que os jovens cristãos homossexuais vivem o seu pertencimento à Igreja. Já existem grupos que os ajudam a crescer e amadurecer pessoalmente e na vida de fé. Assim, aquele texto, retomando pontualmente os documentos da doutrina, convida a favorecer os percursos de acompanhamento dos cristãos homossexuais.
Mas os percursos são de vários tipos, com diferentes orientações: desde aqueles que exigem a abstinência celibatária, aos que olham com simpatia para os casais homossexuais, vendo também na doação de todo o próprio corpo algo belo e relacionalmente fecundo. Cada um deles está agora tentando levar a água para o seu moinho. A quem pensava o Sínodo quando se referia a "caminhos de acompanhamento na fé de pessoas homossexuais"?
No Sínodo não havia representações, mas a Secretaria recebeu textos de alguns grupos que levaram à formulação do número 197 do Instrumentum laboris, onde havia a sigla LGBT. Esse tópico foi discutido com as diferenças que vêm de vários contextos culturais: em alguns países africanos a homossexualidade ainda é um crime, enquanto outras partes do mundo existem as uniões homossexuais.
No final, o Documento final consegue fazer com que todas as várias realidades sejam reconhecidas, porque se fala de uma atenção que é prioritariamente aquela de um estilo evangélico. Refiro-me ao estilo de Jesus, que também conheceu pessoas que, de acordo com as regras do seu tempo, eram excluídas da salvação: ele não excluiu ninguém, mas incluiu.
O Sínodo oferece essa indicação de estilo não só para a temática da homossexualidade: é válida em geral, para a relação da Igreja com todos os jovens.
[1] A revista on-line Nipoti di Maritain, nasceu em 2016 e é publicada por "jovens envolvidos na vida eclesial das nossas dioceses, formamo-nos em associações e movimentos, somos de diferentes origens. Sonhamos com um futuro diferente para a nossa Igreja, para a Itália e para o mundo inteiro. Apostamos em um diálogo frutífero e constante com todos aqueles que vierem a nos visitar. Estamos abertos ao debate, até mesmo provocativo, mas sempre com respeito mútuo: dirigimo-nos a todos aqueles que desejam formar a própria consciência, para poder exercitá-la livremente, como cristãos e como cidadãos". Os números estão disponíveis gratuitamente neste link.
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O Sínodo dos Jovens contado por um dos jovens participantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU